2 de março de 2020 7:43 por Marcos Berillo
O ex-ministro José Dirceu (74) esteve em Maceió nessa quinta-feira (27) para o lançamento do livro “Zé Dirceu – Memórias, volume 1”, publicado pelo Geração Editorial. O evento foi realizado no auditório do Sindicatos dos Urbanitários, no Centro, e contou com a participação de militantes petistas e de outros partidos de esquerda. O ex-ministro petista falou inicialmente uma hora e dez minutos e em seguida respondeu a dezenas de perguntas.
Dirceu, que esteve em Maceió a convite do PT, fez uma análise da conjuntura nacional e demonstrou preocupação. “A chegada dos militares no núcleo do governo no Palácio do Planalto e na presidência da República é um risco real de retorno a um governo autoritário. Seja qual for o nome e forma está evidente que o governo Bolsonaro não convive e não aceita a democracia”, afirmou.
Para ele, o governo Bolsonaro representa o fim de um ciclo. “É preciso analisarmos esse período histórico que teve início com a ditadura militar e encerrou com a eleição do Bolsonaro”, afirmou Dirceu. A prudência na fala do ex-ministro petista objetiva unificar as posições do partido para os novos tempos.
Dirceu sinaliza com a possibilidade de mudanças no quadro político-partidário ao dizer que “tanto a centro-esquerda como a centro-direita tem de ser reconstruída, reorganizada e redefinida por que não vivemos mais uma normalidade democrática”, afirmou, ao enfatizar que “o Bolsonaro quer governar sem o Congresso e sem o Judiciário”.
O papel do Supremo Tribunal Federal é realçado com perguntas e respostas para a plateia. “Quem disse que o Bolsonaro não podia governar por decreto lei? O Supremo Tribunal Federal. Qual o órgão que soltou o Lula? Como se chama? Supremo Tribunal Federal. Quem disse que ele não podia ocupar as universidades com forças policiais nas universidades? O STF”, pontuou o ex-ministro.
A política de alianças do PT tem sido criticada, mas José Dirceu faz um resumo histórico para dizer que os petistas já vêm realizando alianças pontuais no plenário da Câmara e do Senado federal. E, em voz pausada, perguntou e respondeu: “Quem defendeu as mulheres, os trabalhadores rurais, as gestantes, os beneficiários da LOAS e do BPC? Foi o centrão e a esquerda juntos, senão fosse assim, não teríamos maioria no plenário. Na verdade, já existem alianças, as mais diferentes, no país para enfrentar o Bolsonaro”, declarou.
A oposição a Bolsonaro é ampla, os interesses são diferentes, destacou José Dirceu, ao dizer que é importante observar: “Quem mais faz oposição ao Bolsonaro hoje? É a Rede Globo, a Folha, o grupo Abril, Veja e O Estado de São Paulo, eles querem construir um candidato de centro, Luciano Huck”, disse ao ressaltar que “não somos só nós que fazemos oposição ao Bolsonaro. Lógico, quando nós falamos das reformas ultraliberais, criticamos e eles apoiam, porque o Guedes é o governo Bolsonaro”, disse.
A crítica feita é para o público interno, Dirceu diz: “Nós não podemos ser um partido só de eleições, para enfrentar um governo como esse – já não podíamos ser antes-, esse governo caminha para uma ditadura”.
O dia 15 é um teste, segundo o ex-ministro José Dirceu, “para sabermos a força real desse movimento de extrema-direita. No fundo é isso. Partindo do general Heleno houve um certo recuo. O Mourão disse uma coisa. Bolsonaro disse outra. O Exército vai sendo exposto. A Marinha e a Aeronáutica dão sinais de que não concordam com tudo que está acontecendo”.
E em tom de alerta, encerrou, sob aplauso da militância, afirmando: “Tem que ver como vai evoluir dentro das Forças Armadas. O que já é claro é que as Forças Armadas apoiam a política do Bolsonaro, apoiam o Guedes e apoiam a política de relações com os EUA”.