2 de março de 2020 7:26 por Marcos Berillo
O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado em 5 de junho de 1979 por meio do Decreto presidencial nº 83.548. O parque foi criado para ser uma unidade de conservação e proteção integral à natureza localizado nos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, Brejo do Piauí e João Costa, no Estado do Piauí. A finalidade é proteger a área de maior e mais antiga concentração de sítios pré-históricos da América.
A área original contava com 100 mil hectares, mas em 12 de março de 1990 a proteção do Parque foi ampliada pelo Decreto de nº 99.143 com a criação de Áreas de Preservação Permanentes de 35 mil hectares. A unidade é administrada pelo O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO).
A grandiosidade e os inúmeros atrativos se constituem num monumental museu a céu aberto, onde são vistas formações rochosas, sítios arqueológicos e paleontológicos que dão testemunho da presença de humanos e animais pré-históricos.
O parque nacional foi criado em 1979, a partir do trabalho da arqueóloga paulista Niède Guidon (1933), que desde 1973 passou a viver na região trabalhando como pesquisadora e hoje dirige a Fundação Museu do Homem Americano, instituição responsável pelo manejo do parque.
O trabalho da arqueóloga Niède Guidon foi o que fundamentou técnica e cientificamente e fez com que o parque fosse declarado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1991, Patrimônio Cultural da Humanidade pelo seu valor histórico e cultural. Em 1993 o governo brasileiro declarou como Patrimônio Cultural Brasileiro com a classificação de sítio arqueológico, conforme registro no livro de tombo, nº 108 como arqueológico, etnográfico e paisagístico.
Niède Guidon, a revolucionária que vive na caatinga do Piauí
Tudo que se possa imaginar a partir de leituras e de vídeos não é possível comparar com a realidade que se apresenta no semiárido onde se pode visualizar a exuberância da caatinga e a grandiosidade da obra social desenvolvida com as comunidades. A realidade é muito além do que a imaginação permite.
A obra não pode ser dissociada do autor (a) ou do idealizador (a) e dos que vieram após as primeiras – no caso do Parque Nacional Serra da Capivara – escavações arqueológicas.
A professora e arqueóloga paulista Niède Guidon é um caso excepcional entre os acadêmicos e os cientistas que alinham duas condições: a de pesquisador e gestor com excelência. Os dois mundos são quase opostos. A gestão de projetos científicos e acadêmicos é um caminho natural para quem vive esse mundo. Mas a combinação do acadêmico com a administração pública, principalmente, no Brasil é o maior desafio que se pode encontrar.
As relações do público com o privado e/ou com o acadêmico são dificílimas. Mas, Niède Guidon conseguiu e colocou em pé, como se diz, uma obra magnifica. A experiência de vida e a convivência com os dois mundos, o acadêmico e público, se pode dizer que são outras “pós-graduações”.
A revolução silenciosa ocorrida na caatinga
A enumeração de pontos relevantes ocorridos na imersão da arqueóloga Niède Guidon, à época com 40 anos, no sertão do Piauí, com doutorado em arqueologia na Sobornne, com especialização em pré-história.
“Filha de mãe brasileira e pai francês, numa família de classe média alta, Niède nasceu em Jaú, no interior de São Paulo. Devido à sua militância política, ela se mudou para a França após o golpe militar de 1964, onde construiu sua carreira como arqueóloga”.
A relevância do trabalho da professora Guidon tem sido as descobertas que mudaram a história da ocupação do continente americano. Isso não é pouca coisa, é a consagração da cientista para o mundo acadêmico e cientifico e para a sociedade em geral. Os primeiros homens a chegarem à América o fizeram há cerca de 100 mil anos, segundo as descobertas de Niède Guidon que em 1997 encontrou, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, o segundo esqueleto mais antigo do Brasil pertencente a um homem que ganhou o nome de Zuzu, morto há 9.800 anos. O esqueleto mais antigo do Brasil e da América é a Luzia, encontrada em Minas Gerais.
As contribuições da arqueóloga para o trabalho acadêmico são muitos, mas fundamentais também na luta pela criação do Parque Nacional Serra da Capivara que foi decisiva para a preservação da caatinga e dos sítios arqueológicos e históricos. Trabalho que assegurou a integração entre os pesquisadores e as comunidades, uma iniciativa desenvolvida com efeito transformador da vida dos habitantes tendo como centro aglutinador as pesquisas e formação profissional das comunidades.
A professora Niède Guidon e os demais pesquisadores que ao longo de várias décadas contribuíram com a ciência nacional e internacional desempenharam papel fundamental na formação acadêmica na região e profissional dos moradores das cidades onde o parque está localizado.
Sustentabilidade social e econômica é parte do projeto de pesquisa acadêmica
A Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham) foi criada em 1986 “para garantir a preservação do patrimônio cultural e natural do Parque Nacional Serra da Capivara. É uma entidade civil, sem fins lucrativos, declarada de interesse público pelo governo brasileiro, que realiza atividades científicas interdisciplinares, culturais e sociais”.
Em 1998 é inaugurado o Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato (PI). A sede da Fumdham dispõe do Centro Cultural Sérgio Motta. No complexo estão instalados os laboratórios de pesquisas, os escritórios administrativos, o centro de documentação, a biblioteca, o auditório, o anfiteatro e as reservas técnicas. A Fumdham disponibiliza aos seus pesquisadores e técnicos os recursos e equipamentos necessários para as pesquisas.
O Museu da Natureza, inaugurado em 2018, foi construído numa região de grande concentração de sítios arqueológicos em São Raimundo Nonato. “O Museu da Natureza propõe ao visitante uma viagem multissensorial, através de uma narrativa apresentada no decorrer da exposição, que mostra a criação do universo e os impactos climáticos nas constantes transformações da fauna e da flora”.
Os museus são os equipamentos que mais recebem público no parque e são parte da política de sustentabilidade social. O primeiro equipamento criado para integrar e formar mão de obra local foi a cerâmica. O designer é original e todas as peças produzidas são com figuras rupestres, os ceramistas são moradores das comunidades rurais e os autores dos desenhos. A cerâmica emprega 76 funcionários todos com carteira assinada.
A produção de cerâmica tem como principal cliente a rede de loja Tok Stok, de São Paulo e mais as lojas dos museus do parque, lojas em Teresina e parte da produção é exportada para os EUA eFrança.
O turismo histórico é uma das principais atividades na região e a que mais cresce e emprega. A crescente demanda turística tem impulsionado a construção de pousadas e hotéis que recebem pesquisadores nacionais e internacionais e turistas brasileiros e estrangeiros.
O artesanato produzido pelos moradores das comunidades rurais é comercializado nas cidades que estão situadas no entorno do parque e nas lojas que funcionam nas casas dos artesãos. O mel de abelha é da caatinga e é comercializado nos sítios, nas cidades, no Piauí e em diversos estados do Brasil.
O trabalho integrado desenvolvido na região do Parque Nacional Serra da Capivara é um exemplo de como atividades acadêmicas e cientificas podem estabelecer interface com o turismo e a cultura contribuindo, para o desenvolvimento sustentável da região.
Fonte: Site da Fundação Museu Homem Americano (Fumdham), entrevistas com os historiadores Josimar Rocha , Bruno Freitas, Evair Lima e a pedagoga Ramira Coelho
Crédito das Fotos: Fumdham e Geraldo de Majella
8 Comentários
Muitas pessoas com quem falo, sequer ouviram falar na Serra da Capivara e da maior coleção de pinturas rupestres do mundo. Não sabem o que estão perdendo. Tudo lá me encantou.
Vamos compartilhar a postagem para alcançar o maior número possível de pessoas.
Excelente! Estava falando sobre esse Parque e o trabalho fabuloso de Niede Guidon. Obrigada por esse passeio por essa bela história do Brasil.
Maria: é um lugar encantador. aa obra da professora Niède Guidon é fantástica.
Em 2017 eu conheci este paraíso! O Estado do Piauí é encntador. É muito quente e no BRBRO é de pegar fogo. Eu amo o Piauí!
Peró: conhecia Teresina, que também é muito quente. Mas São Raimundo Nonato é uma outra beleza, é a beleza da caatinga verde, essa época é a estação das chuvas.
Voltarei em 2021 para conhecer melhor o Parque Nacional Serra da Capivara.
Abração
Majellan, como diria Anselmo, mergulhando na pré história. Um dia irei lá.
José Orengaia: você que é maranhense e está bem perto, mais perto do que eu que moro em Maceió.
Voltarei a Serra da Capivara na estação das chuvas de 2011