sexta-feira 19 de abril de 2024

Kubisch, diplomata dos EUA, na véspera do golpe militar em Alagoas

1 de abril de 2020 7:35 por Geraldo de Majella

Inauguração da Vila Kennedy, no bairro do Vergel do Lago, em Maceió (AL).

No dia 31 de março de 1964, Maceió amanheceu com faixas saudando a presença do embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, mas não foi possível o embaixador estar presente. Em seu lugar foi enviado o diplomata Jack Kubisch. A agenda que seria do embaixador foi cumprida. Inclusive a leitura do discurso de saaudação ao povo alagoano foi feita pelo seu representante no ato de inauguração do conjunto residencial Vila Kennedy, obra construída no bairro do Vergel do Lago, com dinheiro da Aliança para o Progresso, instituição que Kubisch era o coordenador no Brasil.
O motivo que fez com que o embaixador Lincoln Gordon não viesse a Alagoas só foi revelado décadas depois quando o telegrama
enviado para o Departamento de Estado, no dia 29 de março de 1964, se tornou um documento público onde fica clara sua participação direta no golpe militar.

“O que é necessário agora é uma indicação suficientemente clara da preocupação do governo dos Estados Unidos de tranquilizar o grande número de democratas no Brasil que não somos indiferentes ao perigo de uma revolução comunista aqui, mas expressa em termos que não podem ser abertamente rejeitados por Goulart como intervenção indevida. Estou cancelando minha viagem programada para Alagoas e Bahia de segunda a quarta-feira, enviando Kubisch para me representar, e esse cancelamento será uma medida de preocupação. Nossos contatos discretos e informais com brasileiros amigáveis também ajudam. Nada que nós aqui possamos fazer, entretanto, será quase tão influente quanto uma declaração de alto nível de Washington. Os relatórios de imprensa em casa sobre a crise da marinha certamente poderiam servir de referência para tal declaração”.1


A presença da CIA em Alagoas também foi revelada, inclusive financiando um exército de mercenários. Essa operação custou 100 milhões de cruzeiros, e o coordenador das ações foi o secretário de Segurança Pública de Alagoas, coronel João Mendes de Mendonça. Foram armados 10 mil homens, treinados para a sabotagem e a luta de guerrilhas. O governador Luiz Cavalcante apoiava esse empreendimento, que contou com know-how da CIA.2


Relatos de bastidor descrevendo a movimentação do governador Luiz Cavalcante durante a noite do dia 31 de março e a madrugada do dia 1º de abril, depois de se certificar de que o golpe estava em andamento no país, segundo Divaldo Suruagy (que posteriormente foi governador de Alagoas por três vezes), presente com os demais secretários no Palácio dos Martírios, mostram que
o governador Luiz Cavalcante só aderiu ao golpe no “momento em que o comandante do 4° Exército, general Justino Alves Bastos comunicou pelo rádio do Palácio a sua adesão à revolução”.3
“Nós ficamos de 31 até o dia 1° no Palácio, reunidos, batendo papo, conversando, mas quem comandou o processo de prisão foi o coronel João Mendes de Mendonça, secretário de Segurança Pública, com o apoio dos delegados Rubens Quintella e Albérico Barros,
o Barrinhos. Eles transformavam as ordens de prisão em realidade”,4 relatou Suruagy.


Alagoas, para os golpistas, era uma cunha entre Sergipe e Pernambuco. Em Sergipe o governador Seixas Dórea era aliado do presidente João Goulart; Miguel Arraes de Alencar, governador de Pernambuco, era o mais importante aliado do presidente da República no Nordeste. Alagoas, governada por Luiz Cavalcante, passou a ser o campo avançado de apoio dos conspiradores, fora do território pernambucano, inclusive dos norte-americanos.

As senhoras da sociedade alagoana desfilam pelas ruas do Centro de Maceió.


Ao amanhecer, o líder sindical e dirigente do PCB, Rubens Colaço Rodrigues, foi preso pelo delegado Rubens Quintella. Ainda pela manhã, a polícia comandada pelo delegado Albérico Barros, invade a sede do jornal a Voz do Povo, destrói os móveis e saqueia os bens do semanário comunista, enquanto outro grupo de policiais prende o jornalista Jayme Amorim de Miranda, diretor do jornal.
Nos dias seguintes, dezenas de militantes e líderes sindicais, advogados, bancários, petroleiros, camponeses, portuários, estudantes, médicos, parlamentares, proprietários rurais, comerciantes continuam sendo presos em todo o estado.

1 Biblioteca Johnson, Arquivo Nacional de Segurança, Arquivo do País, Brasil, vol. II, 3/64. Ultra secreto. Impresso a partir de uma cópia preliminar do telegrama. Foi enviado à Casa Branca em 30 de março. (Memorando de Helms até Bundy, 30 de março; ibid.)

2 BANDEIRA,  Luiz Alberto Moniz. A Presença dos Estados Unidos no Brasil, Rio de Janeiro, 2007, p. 624.

3 Divaldo Suruagy em depoimento ao autor em 19 de Fevereiro de 2000

4 Divaldo Suruagy em depoimento ao autor em 19 de Fevereiro de 2000

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