23 de maio de 2020 7:12 por Thania Valença
Foto: Divulgação
Até a última sexta-feira, 22, 91 municípios alagoanos registravam casos confirmados da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Temendo enfrentar a pandemia, alguns prefeitos estão determinando que as secretarias municipais de Saúde adotem a hidroxicloroquina como medicamento para combater a doença, que já contaminou 5.302 pessoas no estado, provocando a morte de 280 dos infectados.
Há prefeito em Alagoas, como Palmery Neto, do município de Cajueiro, que estão anunciando a distribuição de um “kit salvador”, contendo hidroxicloquina, azitromicina e amitraz até para pessoas com sintomas da Covid-19.
Outro que acaba de anunciar a distribuição desse kit é o prefeito do Pilar, Renato Filho. Por meio do secretário de Saúde, Pedro André, o prefeito determinou a aquisição da hidroxicloroquina, que será distribuída com a população. “O prefeito mandou e compramos. Chega em 15 dias para fazer parte do kit que está sendo entregue a população” – diz o secretário, em vídeo que circula nas redes sociais.
Contudo, alerta que antes de tomar, o paciente deve fazer um eletrocardiograma e exames laboratoriais. “Se o exame não der nenhuma alteração, a pessoa vem até a farmácia da Central de Atendimento e pega o seu kit com a hidroxicloroquina” – declara Pedro André.
Em Cajueiro, como o 082noticias.com mostrou ontem, o prefeito Palmery Neto e seu secretário municipal de Saúde, médico Denílson de Melo Caldas, também garantem a distribuição da hidroxiclorquina, apresentando o medicamento como a cura para a doença provocada pelo novo coronavírus.
Entretanto, especialistas e órgãos de saúde alertam sobre o risco de uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes infectados que desenvolvam a Covid-19.
Efeitos colaterais
Um dos alertas vem do secretário-geral do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas, Daniel Fortes. Ele diz que não é o momento de aquisição deste tipo de medicamento para uso doméstico. “Os testes foram feitos num número pequeno de pessoas (20 somente), pontuais e por isso não dá pra garantir que estes resultados irão se repetir”, alertou o farmacologista.
Na avaliação de Daniel, é importante que as pessoas não façam a automedicação porque os efeitos colaterais da hidroxicloroquina são fortes. Entre esses estão alterações cardíacas, arritmias, hipoglicemia e alterações na visão.
Apesar do que disse o secretário municipal de Saúde de Cajueiro, médico Denílson de Melo Caldas , estudos até agora realizados, como o que foi publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) apontam que a hidroxicloroquina não é capaz de evitar mortes pela covid-19 e ainda pode causar problemas no coração, tanto sozinha como quando associada à azitromicina.
No discurso que fez para anunciar a distribuição de hidroxicloroquina, o secretário chegou a citar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como paciente curado. Entretanto, conforme publicação do site UOL (link abaixo) a pesquisa, realizada em pacientes de hospitais do estado de Nova York (EUA), é a maior deste tipo e corrobora com outro estudo publicado na semana passada, no New England Journal of Medicine, que também mostrou que o medicamento não funciona contra o novo coronavírus.
Nem mesmo o Conselho Federal de Medicina, também citado pelo secretário Denilson de Melo Caldas, recomenda o uso da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus. Em nota, o presidente do CFM, Mauro Luiz Ribeiro, disse que não recomenda o uso da hidroxicloroquina para pacientes em tratamento de covid-19, embora o Conselho tenha decidido liberar os médicos a receitarem o remédio.
Quando usar
Entretanto, o Conselho Federal de Medicina definiu três condições para que o medicamentos seja utilizado. A cloroquina pode ser utilizada quando o paciente está em estado crítico, internado em terapia intensiva, com lesão pulmonar estabelecida. “A hidroxicloroquina pode ser usada pelos médicos “por compaixão”. Isso ocorre quando o paciente já está fora de possibilidade terapêutica e o médico, com autorização da família, utiliza a substância” – ressalta a recomendação do CFM.
Outro momento em que o médico pode prescrever é “quando o paciente, com sintomas da covid-19, chega ao hospital. Existe um momento de replicação viral em que a droga pode ser usada pelo médico com autorização do paciente e familiares;
E, por fim, “quando o paciente tem sintomas leves, parecidos com o da gripe comum. Nesse caso, o médico pode usar a hidroxicloroquina, descartando a possibilidade de que o paciente tenha: influenza A ou B, dengue, ou H1N1. Também nesse caso, a decisão deve ser compartilhada com o paciente”.
Em nenhum momento o CFM autoriza ou recomenda a distribuição indiscriminada da hidrocloroquina, combinada com azitromicina e amitraz, no que alguns prefeitos estão chamando de “kit salvador”. O paciente, ressaltam as autoridades, não pode usar essa medicação em casa, pois os riscos são altíssimos.
Como as autoridades de saúde têm orientado, a forma de não ser contaminado pelo coronavírus é o isolamento social, ou seja, ficar em casa e adotar procedimentos de higiene e limpeza. Como disse o presidente do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas, Daniel Fortes, “a melhor prevenção é lavar as mãos com água e sabão, utilizar álcool gel para a limpeza das mãos e superfícies e sobretudo, ficar em casa e respeitar esse momento de quarentena”.
Covid19: a semana em Alagoas
A semana termina com mais quatro cidades alagoanas registrando seus primeiros casos de Covid-19. Segundo o boletim epidemiológico emitido pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) nesta sexta-feira, 22, as cidades de Minador do Negrão, Belém, Ouro Branco e Santana do Mundaú têm, em cada uma, um caso confirmado da doença.
Já Mata Grande, Água Branca, Pariconha, Estrela de Alagoas, Jacaré dos Homens, Belo Monte, Traipu, São Braz, Olho D’água Grande, Igreja Nova e Chã Preta seguem sem nenhum registro de caso confirmado ou mortes por Covid-19.
Os casos confirmados estão distribuídos em 91 cidades: Maceió (3.276), Marechal Deodoro (162), Arapiraca (145), São Sebastião (111), Satuba (103), Rio Largo (100), São Miguel dos Campos (87), Porto Calvo (82), Palmeira dos Índios (76), Murici (67), União dos Palmares (58), Coruripe (63), Pilar (61), Teotonio Vilela (52), Jequiá da Praia (50), Maragogi (48), São José da Laje (46), Atalaia (42), Junqueiro (42), Santana do Ipanema (40), Santa Luzia do Norte (31), São Luís do Quitunde (20), Capela (20), Campo Alegre (19), São Miguel dos Milagres (19), Boca da Mata (18), Paripueira (16), Anadia (16), Craíbas (16), Coqueiro Seco (17), Colônia Leopoldina (15), Campestre (15), Viçosa (15), Maribondo (14), Passo de Camaragibe (16), Penedo (13), Quebrangulo (13), Piaçabuçu (12), Taquarana (11), Paulo Jacinto (10), Pão de Açúcar (10), Barra de São Miguel (9), Matriz do Camaragibe (9), Olho d´Água das Flores (9), Feira Grande (9), Campo Grande (9), São José da Tapera (8), Japaratinga (8), Major Izidoro (8), Messias (8), Porto de Pedras (8), Girau do Ponciano (7), Barra de Santo Antônio (7), Limoeiro de Anadia (7), Tanque d´Arca (7), Pindoba (6), Batalha (6), Cacimbinhas (6), Joaquim Gomes (6), Ouro Branco (6), Branquinha (5), Delmiro Gouveia (5), Carneiros (5), Cajueiro (5), Porto Real do Colégio (5), Maravilha (5), Ibateguara (4), Monteirópolis (4), Coité do Noia (4), Jacuípe (4), Roteiro (3), Mar Vermelho (3), Flexeiras (3), Piranhas (3), Olho d´Água do Casado (3), Olivença (2), Dois Riachos (2), Inhapi (2), Senador Rui Palmeira (2) Lagoa da Canoa (1), Jaramataia (1), Palestina (1), Novo Lino (1), Canapi (1), Igaci (1), Poço das Trincheiras (1), Jundiá (1), Feliz Deserto (1), Minador do Negrão (1) e Santana do Mundaú (1). As outras 29 pessoas que testaram positivo para a Covid-19 em Alagoas eram naturais de Pernambuco, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Santa Catarina.
