10 de julho de 2020 8:16 por Redação
Os seres humanos dependem, para sua própria sobrevivência, de ecossistemas estáveis e saudáveis, e são necessárias ações urgentes em 2020 para colocar o mundo no caminho de um futuro mais sustentável. Este é um “grande ano” para o meio ambiente – um ano em que os principais encontros internacionais definirão o tom e a agenda da ação ambiental da próxima década.
Nações Unidas em jan/2020
A afirmação acima foi publicada no site das Nações Unidas no dia 7 de janeiro deste ano, no artigo 2020: um ano decisivo para a biodiversidade e as emergências climáticas[i]. Entretanto, eles não tinham se dado conta de que os encontros internacionais estariam ameaçados por um obstáculo que já se desenhava no horizonte.
BID
No entanto, no dia 22 de maio, ao ser comemorado o Dia Internacional da Biodiversidade, a realidade se encontrava redesenhada, e o obstáculo tinha cara e nome. Como resultado, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou: A COVID-19, que emanou da natureza, mostrou como a saúde humana está intimamente ligada com a relação que temos com o meio ambiente. À medida que invadimos a natureza e esgotamos habitats vitais, um número crescente de espécies está em risco. Incluindo a Humanidade e o futuro que queremos[ii].
Agenda 2030
Enquanto isso, no mesmo site, é ressaltado o Objetivo 15 da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável: Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Diversidade Biológica – Fórum
Mas, o que é mesmo Biodiversidade – essa palavra que passou a fazer parte do vocabulário de muita gente nas últimas décadas? Voltemos aos anos 80 do século passado.
Para esclarecer, relembremos que mais de 60 renomados pesquisadores de diversas áreas (biologia, economia, agricultura, filosofia, entre outros) se reuniram em Washington, em 1986, para discutir a diversidade biológica. Seu idealizador foi o botânico Walter G. Rosen, do National Research Council / National Academy of Sciences, que também introduziu o termo BioDiversidade. Assim, ocorreu o Fórum Nacional sobre BioDiversidade, cujos trabalhos foram publicados no livro Biodiversity[iii] que teve como editor o biólogo e naturalista americano E. O. Wilson.
Subsequentemente, em dezembro de 1993, quando entrou em vigor a Convenção da Diversidade Biológica, um Comitê da Assembleia Geral da ONU criou o Dia Internacional da Diversidade Biológica. No entanto, somente a partir de dezembro de 2000, passou-se a considerar 22 de maio como a data da comemoração por ter sido em 22 de maio de 1992 que o texto da Convenção havia sido acordado em um Ato Final em Nairóbi.
Acima de tudo, é preciso esclarecer o conceito de biodiversidade, pois vai além da diversidade de espécies. Desde 1989, estudos e encontros de especialistas levaram à formulação da Estratégia Global para a Biodiversidade. É lembrado que: A riqueza da vida na Terra, hoje, é o produto de centenas de milhões de anos de história evolutiva. No documento, a definição de Biodiversidade engloba o total de genes, espécies e ecossistemas de uma região.
Portanto, há três categorias. Ou seja, a diversidade de espécies se refere a todas as formas de vida. Mas, como afirmou E.O. Wilson: Cada espécie é um depósito de uma imensa quantidade de informação genética. Assim, a diversidade genética inclui a variação dos genes dentre as espécies, tanto entre as populações geograficamente separadas como entre os indivíduos de uma mesma população. E mais; a existência de uma espécie afeta diretamente outras, compondo as comunidades biológicas, que se inter-relacionam formando a diversidade de ecossistemas.
Conceitos
Assim, para melhor entendimento é importante esclarecer alguns conceitos. Um grupo de indivíduos da mesma espécie, que ocupa uma determinada área em um determinado tempo, forma uma população. E populações que ocorrem juntas no espaço e tempo formam uma comunidade. Ao mesmo tempo, as comunidades biológicas e suas interações com o ambiente não-vivo (energia e matéria) funcionam juntos como um sistema ecológico, ou ecossistema.
Ou seja, se espécies são extintas, os genes que elas contêm também desaparecem. Isto vai causar alterações no funcionamento das comunidades biológicas, muitas vezes com consequências indesejáveis e até irreversíveis. Uma explicação bem clara foi dada pelo naturalista inglês Alfred Russel Wallace: [Os naturalistas] olham cada espécie de animal e planta agora vivente como letras individuais que comporão um dos volumes de nossa história da terra; e, como umas poucas letras perdidas podem tornar uma sentença ininteligível, assim a extinção de numerosas formas de vida que o progresso do desenvolvimento invariavelmente impõe necessariamente tornará obscuro este inestimável registro do passado…
Mas, não é só o registro do passado que será afetado. Muitas alterações trazem transtornos para estas e as futuras gerações, funcionando como a peça de dominó que cai sobre a próxima e cada uma vai derrubando a próxima, com resultados imprevisíveis.
Pandemias e Destruição de Hábitats
Em textos futuros, falaremos sobre Biologia da Conservação e as estratégias utilizadas.
Em textos anteriores neste blog, falei sobre a relação entre as pandemias e a destruição de hábitats. Ou seja, alterações feitas no meio ambiente, sem respeito ao funcionamento normal dos ecossistemas sempre levam a desastres ambientais. E estes, geralmente, provocam perdas de vidas, inclusive de humanos.
Por isto, pensando na biossegurança global, alguns cientistas estão desenvolvendo uma disciplina de saúde planetária “que analisa os vínculos entre a saúde humana e a saúde dos ecossistemas”. Ou seja, muitas pesquisas sobre saúde humana devem considerar os ecossistemas naturais circundantes para encontrar explicações para muitos fenômenos.
Embora estejamos há mais de 30 anos da afirmação que segue (1988), ela continua atual não só quando se fala em biodiversidade. No final das contas, creio que tudo se resuma a uma decisão ética: de que maneira valorizamos os mundos naturais nos quais nos desenvolvemos e agora, cada vez mais, de que maneira entendemos nosso ‘status’ como indivíduos (Wilson, 1988).
[i] Disponível em: https://nacoesunidas.org/2020-um-ano-decisivo-para-a-biodiversidade-e-as-emergencias-climaticas/.
[ii] Disponível em: https://nacoesunidas.org/onu-coronavirus-nos-mostra-como-nossa-saude-esta-vinculada-a-natureza/amp/
[iii] WILSON, E.O. (Ed.) Biodiversidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. [Biodiversity. Washington: National Academy Press, 1988].
Todas as postagens são de inteira responsabilidade do blogueiro.
4 Comentários
Parabéns, Fátima! é muito bom ler seus textos, devias escrever um livro, vou ser a primeira da fila para pedir um autógrafo. Concordo com você em tudo, ou a gente toma consciência da preservação, ou estamos fadados ao desaparecimento da nossa raça.
Oi, Noêmia
Coisas da tecnologia … respondi ao teu comentário no mesmo dia em que o li. Fiquei aguardando o moderador liberar. Agora vejo que não seguiu quando o enviei. Vamos lá novamente.
Eu adoro quando fazem comentários. E tu és minha leitora mais assídua. Muito obrigada. Estes “feedbacks” são muito importantes para quem escreve. Com certeza, uma das coisas que mais gosto de fazer é escrever. E sempre dizia para meus alunos: “quem não lê, dificilmente vai conseguir escrever”. Esta é outra atividade que sempre gostei: LER. Mesmo quando eu não tinha dinheiro para comprar livros, pegava emprestado das bibliotecas (do colégio, do internato, da universidade).
Sobre esta última frase tua, lembrei de um texto que li da Margulius. Vou localizá-lo para escrever sobre isso: o possível “desaparecimento” dos humanos.
Mais uma vez, obrigada!
Excelente ensaio. Esclarecedor. Mudar o mundo, tarefa de todos, é urgente pra ontem. A mudança é tarefa para todos. Já que o capitalismo precisa ser eliminado. Cadê esse todos? No doce exílio da quarentena? Olhe, o bicho vai pegar…
Sim, Maria. Mesmo em quarentena, não podemos vacilar porque temos visto as garras afiadas dos senhores do mal. Eles até já disseram com todas as letras a que vieram. Têm mostrado na prática. Basta lermos as notícias oficiais. E não são “fakes”!