17 de julho de 2020 5:30 por Geraldo de Majella
A renúncia do governador Divaldo Suruagy, na manhã do dia 17 de julho de 1997, forçada pela mobilização dos servidores públicos e de amplos setores da sociedade alagoana, é um fato político sem precedentes na história de Alagoas.
Suruagy elegeu-se com 83% dos votos para tirar Alagoas da crise financeira decorrente da incúria administrativa do governador Geraldo Bulhões. Tendo sido eleito como uma unanimidade e surfando na crise do governo Bulhões, Suruagy, entretanto, não foi capaz de apresentar uma saída para a crise em que o Estado se achava.
A experiência de quem já havia governado Alagoas em duas outras oportunidades – a primeira, indicado pela ditadura-militar, e a segunda, eleito pelo voto –, de nada serviu para estancar a crise financeiro-administrativa.
A crise cresceu de tal maneira que os salários dos funcionários, que já se achavam por dois meses atrasados desde o governo Geraldo Bulhões, resultaram atrasados na gestão Suruagy por dez meses.
Somados a crise financeira outros elementos essenciais foram potencializados no processo de desmonte da administração estadual: as polícias, militar e civil, sem controle, a quebra na hierarquia e o domínio de grupos criminosos, a exercerem o comando paralelo.
A Gangue Fardada era um poder efetivo e dialogava com as instâncias de poder. Esse grupo passou a matar e assaltar por encomenda, extorquindo empresários. Um completo desmonte da segurança pública.
A Secretaria da Fazenda não apresentou alternativas para estancar a crise, e muito menos para solucioná-la. Os funcionários públicos mobilizados foram às ruas pedir a renuncia do governador, e no dia 17 de julho tentaram entrar no prédio da Assembleia Legislativa, protegida desde a madrugada por centenas de militares do Exército, o que impediu a multidão de invadir o prédio do Legislativo estadual.
A iminência do confronto na manhã do dia 17 de julho deu-se quando a prefeita Kátia Born, com uma multidão de mais de 15 mil pessoas, forçou a entrada na Assembleia, derrubando as grades. Nesse momento, os militares atiram para o alto a fim de conter a multidão. Criou-se um enorme tumulto na Praça Dom Pedro II.
A renúncia do governador Suruagy é anunciada pouco tempo depois dos tiros na frente da Assembleia Legislativa, em meio à iminência de confronto de previsões indefinidas entre os militares do Exército e policias militares e civis, manifestantes, funcionários de outras categorias e populares que protestavam.
O ciclo de poder iniciado por Suruagy em 1975, quando é indicado governador pelos militares, encerra-se com a sua melancólica renúncia. O poder que tão bem manipulou – distribuindo benesses do Estado como dezenas de milhares de empregos sem concursos e fatiando-o com as oligarquias –, esvaiu-se de suas mãos na manhã daquele 17 de julho.
A debacle desse grupo político decorre integralmente da crise econômica, financeira e política. Suruagy, como símbolo histórico do grupo, deixa o poder escondido, humilhado, num rastro de desordem nunca visto na história de Alagoas. Milhares de funcionários ficaram sem salários por dez meses, e 25 mil aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV), no desespero e esperando encontrar uma alternativa para solucionar as suas contas pessoais.
O presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) negocia a saída para Alagoas aplicando as maiores taxas de juros do país. Da dívida original de R$ 2,2 bilhões, Estado já pagou R$ 8 bilhões, e a dívida persiste em R$ 11 bilhões.
Essa dívida, imoral e impagável, é a herança mais visível e maldita do que restou do último e melancólico governo Suruagy.
O ciclo de poder acabou com a renúncia. A lembrança desses acontecimentos vinte três anos depois é necessária para que as novas gerações de políticos e de cidadãos tenham conhecimento da nossa história e que fatos dessa natureza jamais voltem a acontecer.
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