domingo 24 de novembro de 2024

Comitê do São Francisco alerta para risco de extinção dos jumentos na paisagem nordestina

Animais domésticos e soltos são capturados e exportados para a China, onde são usados na medicina local

7 de agosto de 2020 2:17 por Marcos Berillo

O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) faz um alerta: em menos de cinco anos, o animal que se tornou símbolo do sertão pode desaparecer da paisagem nordestina. O jumento corre risco devido à exportação da espécie que é usada na produção de remédios e cosméticos na China.

O animal tem papel fundamental no desenvolvimento agrícola do país, principalmente no Nordeste, pois, antes da chegada das máquinas, era o grande aliado do homem do campo na lida diária, transformando-se em patrimônio cultural e símbolo do agreste brasileiro.

De acordo com o Comitê, o destino dos jumentos brasileiros começou a ser traçado em 2016, quando a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) resolveu definir os critérios para o abate legal de equídeos.

“A partir daí, instituiu-se a matança para a exportação. Calcula-se que, desde então, cerca de 100 mil jumentos tenham sido mortos nos três frigoríficos autorizados pelo governo federal, nos municípios de Amargosa, Itapetinga e Simões Filho. O risco de extinção deve-se ao fato de que não existe criação de jumentos para o abate, como acontece com o gado, por exemplo. Os sertanejos capturam animais soltos ou domésticos para vender para atravessadores e fazendeiros”, alerta o CBHSF.

A situação é agrava pelo fato de que a China não possui animais suficientes para sustentar o mercado. Anualmente, para produzir 5.600 toneladas do ejiao (um tipo de gelatina usado como ingrediente na medicina tradicional chinesa) são necessários 4,8 milhões de peles de jumento – e esse índice cresce 20% por ano.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Food and Agriculture Organization of the United Nations, FAO), em 1992, havia mais de 11 milhões de jumentos no país, representando o maior rebanho do mundo. Já, em 2017, a estimativa foi que esse número havia diminuído em mais da metade, não ultrapassando 4,6 milhões de jumentos. Mas esse número pode ser ainda mais baixo, cerca de 2,6 milhões de acordo com o Anuário estatístico da China para 2017. Por isso, a necessidade de importar de outros países. Inclusive do Brasil.

Parque Padre Antônio Vieira abriga cerca de três mil jumentos | Divulgação

Parque no Ceará é exemplo de preservação

Um bom exemplo de proteção à espécie vem do Ceará. Na cidade de Santa Quitéria, a 220 quilômetros de Fortaleza, fica o Parque Padre Antônio Vieira, que abriga cerca de três mil jumentos, em área de 500 hectares.

Considerada hoje um santuário, a fazenda, a princípio, funcionava como um depósito de jumentos recolhidos nas estradas do estado. Sem alimentação ou cuidados, a maioria acabava morrendo. Foi então que Geuza Leitão, presidente da União Internacional Protetora dos Animais, em parceria com o Ministério Público e o Detran/CE, resolveu arregaçar as mangas, conseguindo firmar um termo de ajuste de conduta para garantir o bem-estar dos jumentos capturados.

“Junto com a União Internacional de Proteção dos Animais (UIPA), do qual faço parte, criamos a ideia de um parque de turismo que poderia servir para o recolhimento do animal, pesquisa dos hábitos e cuidados. Hoje a taxa de mortalidade diminuiu consideravelmente, os animais têm um tratamento digno, recebendo alimentação, água, vacinas”, comentou Aparício. “Não foi fácil, mas estamos conseguindo fazer com que as pessoas entendam aquele espaço como um local de cuidados e preservação”.

O local recebeu o nome de Parque de Proteção Padre Antônio Vieira numa justa homenagem. Homônimo do português que se tornara um dos nomes mais influentes da colônia, no século 17, o pároco foi um grande defensor dos animais e escreveu o livro que inspirou Luiz Gonzaga: “O Jumento, Nosso Irmão”.

Por 30 anos, ele coordenou o Clube Mundial dos Jumentos que chegou a receber apoio da atriz e ecologista francesa Brigitte Bardot. “O padre dizia: ‘A situação é triste porque tudo que existe neste Nordeste foi feito no lombo do jumento’”, comentou José Dimas de Almeida, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel.

Fonte: Revista Chico n°. 7

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