18 de agosto de 2020 1:31 por Marcos Berillo
Por Thania Valença – Um Plano de Ações Estratégicas para os bairros Bebedouro, Mutange, Pinheiro e Bom Parto traz imagens de como ficará essa região da cidade, após obras a serem realizadas pela mineradora Braskem, responsável pelo maior dano ambiental da história de Alagoas, e a Prefeitura de Maceió. Segundo a proposta, elaborada conjuntamente pela mineradora e a prefeitura, o trabalho começa com a demolição das áreas mais críticas.
A primeira área a ser demolida é o conjunto habitacional Divaldo Suruagy, seguido pelos conjuntos Jardim Acácia e Jardim Alagoas. Ainda nessa primeira fase serão demolidos os imóveis do Mutange.
A proposta prevê a construção de um corredor ecológico, parque florestal com espécies da mata atlântica, e uma estrada Parque. Está prevista também a restauração do mangue; reposicionamento do trilho do VLT; e aterro na baía da Lagoa Mundaú, com reaproveitamento dos resíduos da demolição para criação da nova área urbanizada (aterro).
Tragicamente atingidos pela mineração que a Braskem realizou nessa área da capital alagoana, a população continua sofrendo. Os grupos organizados da sociedade civil, criados em reação ao massacre imposto pela Braskem, fizeram uma avaliação inicial do Plano de Ações Estratégicas, apontando pontos negativos.
O primeiro, apontam, é a proposta de manter o transporte ferroviário (VLT) passando numa área de minas instáveis, que estão desabando. Os moradores e empresários avaliam que não há sentido nessa proposta, considerando os relatórios técnicos da CPRM. Em maio do ano passado, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) concluiu que está ocorrendo a desestabilização das minas de extração de sal-gema, provocando movimentação do sal (halocinese), “e criando uma situação dinâmica com reativação de estruturas geológicas antigas, subsidência (afundamento) do terreno e deformações rúpteis na superfície (trincas no solo e nas edificações) em parte dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro”.
Outra avaliação que os moradores fazem é quanto a proposta de criação de ciclovia e passeio, diante do risco de desabamento repentino (sinkholes), em direção às minas de sal-gema.
Houve também reação emocional dos moradores, que discordam da apresentação de propostas de parque, ciclovias e outros equipamentos de lazer, quando ainda há famílias morando na área, e por não haver sido concluído o processo de indenização de todos os que foram prejudicados pela tragédia ambiental. “Falar que tudo se transformará num parque, onde hoje existe gente morando, comércio funcionando, sem que ninguém saiba como será indenizado exatamente, é adoecedor. Mostra o quanto nossas autoridades estão desconectadas da realidade que vivemos” – reclama o presidente da Associação dos Empresários, Alexandre Sampaio.
Entenda a tragédia
Em 2018, foi registrado um tremor de terra de 2,5 pontos na Escala Richter no bairro Pinheiro, na capital, Maceió (AL), atingindo também bairros adjacentes. O Ministério Público Federal em Alagoas (MP-AL) instaurou o Inquérito Civil 1.11.000.000649/2018-29 para verificar o impacto dos tremores de terra sobre o meio ambiente e os direitos dos cidadãos.Estudos realizados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) apontaram a extração de sal-gema (um tipo de cloreto de sódio utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC) nas proximidades dos bairros, as chuvas fortes e a falta de saneamento como causas para o aparecimento das rachaduras nas casas e vias públicas. Segundo o CPRM, a exploração de sal-gema, feita de forma inadequada, desestabilizou as cavernas subterrâneas que já existiam nos bairros, causando o afundamento do solo e, consequentemente, as rachaduras.
Na sequência, o governo alagoano e a Prefeitura de Maceió decretaram estado de calamidade no bairro Pinheiro, Mutange e Bebedouro, áreas de risco iminente. Até agora não se sabe a dimensão dos impactos relacionados aos 35 poços de exploração de sal-gema, sob responsabilidade da empresa de mineração Braskem. A recomendação da Defesa Civil foi para evacuação de toda a área.
Desde então, a situação só se agravou, obrigando milhares de famílias a deixarem suas moradias por causa dos riscos de desabamento.