21 de setembro de 2020 10:54 por Thania Valença
Uma crise no grupo do governador Renan Filho, que vinha sendo remoída nos bastidores, emergiu com força na semana passada, durante a convenção do MDB de Arapiraca, tem o vice-governador Luciano Barbosa como destaque.Dizem os sabidos da política que o passado deve servir como lição para os mais velhos, e de aprendizado para os mais novos. Outra dica dos experientes no jogo político-eleitoral é que não se pode esconder insatisfações, ainda mais se os fatos envolverem figuras de proa, os líderes, os que mandam. Como agora, quando o imbé no MDB envolve o senador Renan e seu filho governador, também Renan.
Os dois vão precisar de muita paciência e competência pra desmontar a trava que o vice-governador Luciano Barbosa instalou bem no meio dos planos de seguirem mandando na política de Alagoas.
Em 2018, quando chegou pela segunda vez ao governo, Renan Filho foi obrigado pelo pai a manter Luciano Barbosa como seu vice. Os dois haviam sido eleitos governador e vice, respectivamente, em 2014. Na chapa para o segundo mandato, Renan Filho queria o empresário Fábio Farias, pessoa de sua estreita confiança, para compor como candidato a vice-governador. Mas esbarrou na decisão de seu pai, o senador Renan, que impôs o nome de Luciano Barbosa.
A dois anos de encerrar o mandato de governador, Renan Filho se vê diante de uma crise que pode dificultar muito os planos que traçou para chegar ao Senado, em 2022. Uma crise provocada justamente pelo vice que lhe foi imposto em 2018.
Magoado com os fatos que se sucederam ao longo dos dois mandatos, em que sempre ficou na segunda fila, o passional vice-governador Luciano Barbosa viu a “ferida” sangrar em dezembro de 2019, quando sua filha, Lívia Barbosa de Almeida Margallo, e seu genro, Pedro Silva Margallo, foram presos, durante uma operação da Polícia Federal.
Segundo a PF, a filha de Luciano seria sócia de uma empresa usada para desviar dinheiro público da área da Saúde. Os Renans, ou os Calheiros, assistiram a tudo sem mover uma palha em favor do vice.
Diante da indiferença de quem esperava apoio, o palmerense Luciano Barbosa, de 62 anos, decidiu expor as vísceras da relação política que há décadas mantém com os dois Renans. Mesmo com a vaidade e passionalidade que o caracterizam, alguns chegam a defini-lo como arrogante, o vice-governador é homem inteligente. Além da formação intelectual, é engenheiro civil com mestrado em Economia pela Universidade Columbia, nos Estados Unidos, moldou sua capacidade política a partir do movimento estudantil, e da militância no PCdoB dos anos 1980.
É fato que a prisão da filha, Lívia, aumentou sua insatisfação, mas ele não daria uma cartada desse nível, enfrentar o comando partidário historicamente sob domínio do senador Renan, à toa, como se não soubesse as conseqüências. O vice-governador Luciano Barbosa, agora um ex-aliado de primeira hora, sabe exatamente o tamanho de cada passo que já deu.
Ao se colocar como candidato do MDB a prefeito de Arapiraca, Luciano sabe que implode a estratégia de Renan Filho. Se ganhar, entrega nas mãos do deputado federal Arthur Lira, de quem os Calheiros não são amigos, um trunfo inestimável – o comando administrativo do estado, via deputado estadual Marcelo Vítor.
Sim, caro leitor, é Marcelo Victor Correia dos Santos, 41 anos, pecuarista, que tem R$ 1 milhão e 200 mil em bens declarados à Justiça Eleitoral, que poderá vir a ser o governador de Alagoas. Para isso, duas premissas precisam ser atendidas: a primeira é que o jovem deputado estadual seja reeleito presidente da Assembleia Legislativa no próximo biênio; e a outra que a lide entre Luciano Barbosa e os Renans não seja pacificada e o vice se torne, efetivamente, candidato a prefeito de Arapiraca.
Mas, independente dessas premissas, o pote de mágoas derramadas pelo vice-governador Luciano Barbosa comprometeu duramente a relação entre eles. Houve ali a chamada quebra de confiança! Um vaso quebrado que nem mesmo uma supercola fará voltar ao que era.
Ao eleitor cabe perguntar: Mesmo que, com sua comprovada eficiência como estrategista, o senador Renan consiga desmontar a trava armada pelo vice, ele e o filho ainda confiarão em Luciano?
E ainda, voltando ao cargo de vice-governador, o que fará Luciano, em 2022?
Para concluir, vale pensar sobre esta citação:
“Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo”. (Michel Foucault)
Após 31 anos, a história do vice magoado se repete na política alagoana
Quando, em maio de 1986, Divaldo Suruagy renunciou ao cargo de governador, o vice, José Tavares, assumiu para concluir o mandato, ficando no comando do Executivo estadual por 10 meses. Tempo mais que suficiente para minar a candidatura do senador Guilherme Palmeira, que fora indicado candidato ao governo.
Insatisfeito por ter sido preterido, pois acreditava que seria sua vez de disputar o cargo, Zé Tavares, como era chamado, liderou o bloco dos dissidentes do PDS que, derrotando Guilherme Palmeira, beneficiou Fernando Collor de Mello. Naquela eleição, com a postura que Zé Tavares assumiu, ficou clara importância do vice.
Tendo assumido o governo em maio de 1989, com a renúncia de Fernando Collor, o vice-governador Moacir Andrade foi decisivo na derrota do então deputado federal Renan Calheiros que disputou o governo com Geraldo Bulhões, na eleição de 1990.
Como acertara que o candidato a vice do grupo seria Francisco Mello, seu amigo, Moacir Andrade não aceitou a imposição do nome do arapiraquense Severino Leão como vice de Renan. A reação de Moacir, do alto dos 10 meses (14 de maio de 1989 a 15 de março de 1991) em que ficaria no cargo de governador, foi decisiva para a derrota do hoje senador e líder emedebista Renan de Vasconcelos Calheiros.
E Francisco Mello, o preferido de Moacir Andrade, foi ser o vice de Geraldo Bulhões, que governou de 1991 a 1995.
Esses dois fatos estão sendo relembrados nos últimos dias na cena política alagoana, por que a história está se repetindo, com novos e velhos personagens.
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“Ninho de Cobras” Ledo Ivo