domingo 24 de novembro de 2024

Sururu ou caviar?

22 de setembro de 2020 1:32 por Carlos Lima

A população de Maceió, mais uma vez, poderá escolher entre as velhas/modernas formas de fazer política e projetos construídos com o povo. Não será a primeira vez, nem a última, que as velhas receitas produzidas em mansões e puxados palacianos colocam-se em nossas cozinhas como sendo novos temperos.

Em torno da mesa política, a direita alagoana, de olho no banquete servido pelo palácio da Alvorada, apresenta-se como íntima das iguarias vindas do Planalto. Já no campo da esquerda, para deleite da direita caviar, não houve acordo sequer com o carro-chefe do cardápio: uma frente anti-Bolsonaro.

Por outro lado, em meio ao conservadorismo e reacionarismo, surgem os nomes de Lenilda Luna, pela Unidade Popular (UP), e Valéria Correia, pelo PSOL. Elas lutam contra o tradicional esbanjamento promovido pela direita insaciável e, ao mesmo tempo, por falta de unidade, disputam entre si o voto sururu. O bom, o ideal seriam Lenilda e Valéria no mesmo projeto, uma como vice da outra. Mesmo separadas, a meu ver, representam, na origem, a possibilidade de inverter as preferências históricas, de rever o abismo social, sanitário e econômico entre os bairros de Maceió.

São urgentes ações capazes de proteger as periferias das práticas arcaicas e atuais de exterminação. Urge a criação de mecanismos dinâmicos que gerem renda, nutrição, lazer e educação aos empobrecidos de Maceió.

Acredito que as receitas tanto de Lenilda como de Valéria não estão prontas. Caso contrário, sem a pitada de tempero vinda do povo e de suas organizações, o prato será frio e sem sabor, o mesmo que vem sendo servido pela casa-grande. Elas, se desejam acertar, não podem ignorar o conhecimento popular nem a labuta cotidiana das comunidades para garantir o pão nosso de cada dia em suas mesas.

São obrigatórios os ingredientes da escuta e da construção coletiva. Faz-se imprescindível ouvir as comunidades, suas reais necessidades, e construir com elas outras possibilidades, nas quais os mais fragilizados, as vítimas do modelo econômico e político, serão ao mesmo tempo sujeitos e destinatários das políticas públicas de Maceió.

Carlos Lima é mestre em história pela Universidade Federal de Alagoas.

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