sábado 12 de abril de 2025

Lembranças do florista Zé Dezinho

13 de outubro de 2020 10:10 por Geraldo de Majella

 

Zé Dezinho fotografado pela Dops, em 1964

José Vieira de Araújo (1911-1999), conhecido como Zé Dezinho, nasceu no dia 24 de agosto de 1911, na cidade de Viçosa (AL), filho do casal João Vieira de Araújo e Antônia Brígida da Costa. Foi casado com Valdete Born Cavalcanti; o casal formou uma família com três filhos: José Haroldo, Josefa (Jodete) e Valderez de Araújo. Em Viçosa cursou o primário e o ginasial. Era o máximo que existia à época na cidade. Desenvolveu o gosto pela leitura e passou a adquirir livros em Viçosa e também pelo reembolso postal, modalidade de compra através dos Correios.

O gosto pela leitura e o interesse pela política o transformaram num leitor dos clássicos da literatura nacional e universal. Com o passar dos anos formou uma biblioteca particular respeitável para uma pessoa que não estava inserida no ambiente intelectual da cidade, que era constituído pelos doutores e proprietários de terra. Sua biblioteca tornou-se um dos atrativos para os amigos e principalmente para os jovens que despertavam o interesse pela leitura e pela militância política em Viçosa.

Os livros, jornais e revistas chegavam pelos trens da Great Western of Brazil Railway Company, companheiros inseparáveis que descortinaram o mundo além das fronteiras da pequena Viçosa.
A atividade como comerciante foi de longa duração ‒ por mais de quarenta anos esteve firme no balcão das lojas em Viçosa; aí abriu a primeira loja: A Vencedora, a sapataria onde tudo começou e com a qual, durante quase duas décadas, manteve a família.

O golpe-militar de 1º de abril de 1964 atingiu-o frontalmente, mesmo estando distante do epicentro do terremoto político. Zé Dezinho é levado preso para Maceió porque era militante do PCB, fato público na cidade. Desde a década de 40 era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). É trancafiado na Cadeia Pública, no Centro de Maceió. No dia 4 de junho de 1964 é qualificado, no jargão policial, como autor de “crime contra a segurança do Estado”, como consta em sua ficha do Dops.

Nos dias seguintes ao golpe, João Guedes Cavalcanti [1894-1966], conhecido como Joca Seleiro, artesão de selas de montaria, sogro de Zé Dezinho e militante comunista desde a década de 30, escondeu-se em Atalaia, para não ser preso. Após alguns dias, volta a Viçosa e de longe acompanha, através de amigos, a prisão do genro. Em 1966, com 72 anos de idade, morre em Maceió.

Zé Dezinho fotografado de perfil na Dops, em 1964

A prisão provocou uma reviravolta em sua vida e na de sua família. Ao sair da cadeia, Zé Dezinho fecha a sapataria em Viçosa e se muda para Maceió, na companhia do sogro Joca Seleiro. A saída da bucólica Viçosa não o fez perder a esperança num mundo com justiça social. O sonho do socialismo, única possibilidade de igualdade, manteve-se. Mas a dura realidade de uma nova ditadura impunha-se ‒ ambos, genro e sogro, haviam vivenciado a ditadura de Vargas. Desta vez viveriam sob uma ditadura militar.

Em Maceió, vai morar na rua Dias Cabral, nº 90, e retoma a atividade comercial, abrindo a loja A Vencedora na rua Joaquim Távora, nº 29. A mudança de cidade é um novo desafio, acrescida das preocupações de se defender do processo instaurado na IV Auditoria Militar, em Recife. Esse drama cessou no dia 13 de março de 1969, ao ser absolvido juntamente com outros acusados. Sua defesa coube ao advogado Mendes de Barros.

O trabalho continuou, porém em outras atividades. Abriu uma floricultura e uma lotérica na rua da Alegria, nº 29; anos depois, muda-se para a rua Barão de Penedo; nesta, a Só Flores é sua última loja. Com problemas de saúde e cansado, na década de 90 fecha a loja e vai viver a velhice junto ao mar, em Paripueira.

O PCB, em 1980, é reorganizado em Alagoas; jovens dirigentes vão ao encontro do velho comunista para convidá-lo a novas atividades políticas. A idade e a saúde o impedem de atuar no dia a dia, mas prontifica-se a contribuir com as tarefas de arrecadação de finanças junto aos antigos companheiros e simpatizantes. Passa a vender o jornal da imprensa comunista. Essas foram as suas últimas tarefas.
A Só Flores era um ponto de encontro dos militantes do PCB de Maceió e Viçosa no centro de Maceió. No dia 22 de janeiro de 1999, aos 88 anos, morre em Maceió.

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5 Comentários

  • Que Deus o tenha onde estiver meu voinho.

  • Era o meu tio, irmão do meu pai, meu nome Arthur Vieira de Araújo filho, lembranças e abraços aos meus primos.

    • Feliz em saber de vc. Sou Sheila Araújo, neta dele e filha de JODETE

  • Meu avô. Voinho como nós o chamávamos. Uma das pessoas mais interessantes q conheci… saudades. Se minha mãe, JODETE, fosse viva, iria estar toda orgulhosa da trajetória dele sendo posta. Grata pela linda matéria !

  • Orgulho imenso desse homem íntegro, inteligente, amoroso … meu eterno amor!! Meu voinho para sempre!!

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