Amizade familiar rompida entre Marcelo e Marx Beltrão
Texto: Thania Valença
A crise interna na família Beltrão, que domina politicamente o Litoral Sul de Alagoas, está se agravando nesta campanha eleitoral, a ponto de expor negativamente a imagem do deputado federal Marx Beltrão (MDB/AL). Além do cargo parlamentar, Marx se destaca como liderança por ter sido ministro do Turismo, no governo de Michel Temer (MDB-SP).
Mas, pelo que tem feito na campanha em Coruripe, município no qual foi prefeito por dois mandatos, o deputado, que já manifestou interesse em disputar como candidato ao governo, em 2022, dá sinais de descontrole. Além de não conseguir manter a unidade política no seio dos Beltrão, Marx tem se desentendido com aliados inclusive no campo pessoal.
Esta semana, durante comício, o parlamentar atacou adversários com um discurso de natureza pessoal, o que lhe rendeu a acusação de preconceito contra homossexuais. Veja:
O ataque homofóbico, gravado em vídeo que circula em grupos de whatsaap, foi contra o vereador João Fernando Sampaio Peixoto (PL), 1º secretário da Câmara Municipal de Jequiá da Praia, município onde a irmã de Marx, Jeannyne Beltrão (Republicanos), disputa a reeleição. O vereador João Sampaio apoia o concorrente, Felipe Jatobá (PP).
“João, você é vereador, você é um cara que era para ser respeitador, mas você é acostumado a andar armado, com porte de armas, o que ele diz para todo mundo. Anda com três ou quatro seguranças, mas João, nas madrugadas que você está sozinho tu bem que gosta de uma barba no teu pescoço, né, João? Nas madrugadas, João Sampaio, você morde fronha”, afirmou Marx Beltrão, na última segunda-feira, 12, durante comício em Jequiá.
A reação do vereador manteve o baixo nível da campanha eleitoral no município. Ele chamou Marx de homofóbico, e gravou um vídeo onde faz referências desrespeitosas à esposa do deputado.
Vereador João Sampaio: baixo nível na discussão com Marx Beltrão
“Se eu fosse solteiro… Você que corre muito e deve estar deixando sua esposa desassistida, traga ela aqui em casa. Duas horinhas. Eu devolvo ela do jeito que eu a encontrei. E aí você pergunta a ela quem é que morde fronha. Deputado Marx, é pau na máquina e nós vamos arrancar a sua irmã de Jequiá da Praia. E você vai ser desmoralizado pelo Marcelo Beltrão em Coruripe”, afirmou o vereador João Sampaio.
Além da fala ofensiva, que vai na contramão do respeito devido à todas as mulheres, Sampaio aumentou a temperatura da crise familiar ao se referir ao deputado estadual Marcelo Beltrão, que disputa a prefeitura de Coruripe contra seu primo, Maycon Beltrão, que é irmão de Marx.
A disputa de espaço político só tem crescido desde a morte do pai de Marx e Maycon, deputado estadual João Beltrão, em dezembro do ano passado. Aliás, a candidatura a prefeito de Marcelo contra Maykon em Coruripe, cidade que deu origem ao poderio dos Beltrão, foi o estopim da cizânia familiar.
O pomo da discórdia
No final do ano passado, Marcelo disse que seria candidato em Coruripe, desrespeitando, segundo Marx, um acordo da família em torno de Maykon. As discordância se agravaram até que, acirrando ainda mais os ânimos, Marcelo Beltrão oficializou sua candidatura e indicou sua mulher, Lili, como candidata a vice de Felipe Jatobá (PP), cuja família é rival dos Beltrão, em Jequiá da Praia.
A crise se aprofundou e, nesta quarta-feira, 14, Marcelo entrou com uma ação eleitoral contra seu primo Marx Beltrão por falsa acusação. Em comício no último dia 7, Marx teria afirmado que Marcelo estaria armando um atentado contra si mesmo, para acusar responsabilizar seu grupo.
O juiz do caso, Felipe Ferreira Mungunba, fixou prazo de 10 dias para que Marx Beltrão apresente sua defesa.
Deputado JB (falecido) e Maycon Beltrão
Mãos de ferro
Até sua morte, vitimado por um câncer, o deputado estadual por seis mandatos, João Beltrão Siqueira, controlou a família e a região com mãos de ferro. Ao longo de quase 24 anos, ampliou poder político em direção ao Litoral Sul, chegando aos municípios de Jequiá da Praia (Jeannyne Beltrão), Feliz Deserto (Rosiana Beltrão), Piaçabuçu (Djalma Beltrão), Coruripe (Joaquim Beltrão) e Penedo (Március Beltrão).
O domínio ocorreu sem oposição competitiva, afiançado pela histórica aliança com a família Calheiros (senador Renan e deputado Olavo). Na região, a família Beltrão concentra poder controlando órgãos públicos estaduais, como a Companhia de Abastecimento e Saneamento (Casal) e o Departamento de Trânsito (Ciretran), considerados fortes alavancas políticas.
Com a morte de João Beltrão, o controle de sua herança política vem sendo disputado entre o deputado federal Marx, e seu tio, Joaquim Beltrão.
O prefeito Joaquim Beltrão é considerado mais cauteloso com a gestão pública e na ação política. Ao contrário de Marx Beltrão, que já se mostrou disposto a usar todos os meios para se tornar uma possibilidade majoritária em 2022. O deputado espera dar suporte ao pretenso voo na direção do Palácio República dos Palmares mantendo o domínio sob as prefeituras ‘conquistadas’ por seu pai.
Ele nega ser homofóbico, e acusa o vereador João Sampaio de ter editado o vídeo para que assim parecesse. Segundo Marx, sua reação foi motivada pelos ataques pessoas do vereador contra sua irmã, Jeannyne, que busca a reeleição em Jequiá da Praia, por isso fez o que chamou de “provocação” de palanque.
