16 de outubro de 2020 10:39 por Marcos Berillo
Aos quatro dias de outubro de 2020, no túmulo de São Francisco de Assis, na cidade homônima, o Papa Francisco assina a sua nova encíclica “Fratelli Tutti” cujo título foi tirado de um texto de São Francisco de Assis, escrito no século 13.
Na referida encíclica o Papa fala de temas como imigração, a distância entre ricos e pobres, injustiças econômicas e sociais, desequilíbrios na atenção à saúde e o aumento da polarização política em muitos países.
Acredito ser esse o texto que o mundo precisava neste momento dramático de sua história. No número seis, da referida Encíclica, o papa revela que o tema central é a “fraternidade universal”. O pontífice não pretende dizer tudo sobre o amor fraterno, mas apenas falar sobre essa abertura a todos, num tempo em que os tribalismos, partidarismos e todo tipo de fechamento sobre povos e ideologias ganham um espaço indefinido. O papa nos provoca a termos um coração aberto e fraterno. Afirma também que a Fratelli Tutti é uma encíclica social, assim como foram a Rerum Novarum de Leão XIII até a Caritas in Veritate de Bento XVI.
No primeiro capítulo, Francisco descreve as sombras de um mundo fechado sobre si mesmo. É como se o papa pintasse um cenário do nosso tempo, com todas as sombras que temos hoje e, a partir daí, nos outros capítulos ele mostrasse as luzes de esperança sobre este cenário de sombras. São os nossos dramas deste século 21, onde o Papa lembra que a pandemia da Covid-19 é a última crise a provar que as forças de mercado sozinhas não produziram os benefícios sociais que seus idealizadores prometeram.
O capítulo dois, o Papa começa narrando a história do Bom Samaritano, esse anônimo do Evangelho de Lucas (Lucas 10, 25-37), que faz trazer todos para dentro da festa da Vida. Essa é a proposta do Cristianismo. Queremos chamar a Deus de Pai, como fez São Francisco, que em seu momento de conversão chamou a Deus de “Pai Nosso”.
Escreve o capítulo três na busca de pensar e gestar um mundo aberto. Precisamos estar mais próximos uns dos outros. Os povos e nações precisam estar mais próximos.
Na mesma direção, escreve o capítulo quatro, onde pede que tenhamos um coração aberto ao mundo inteiro, precisamos ter um coração aberto e solidário, aliás, desejo que permeia todas as páginas da Encíclica.
No quinto capítulo, acentua a questão política, criticando os governos populistas. E nos lembra que ser popular não é ser populista. O papa denuncia a nova onda de demagogia mundial; não é democracia é demagogia. Capítulo curto, mas, muito contundente.
O diálogo e a amizade social é tratado no capítulo sexto. Mostra-nos como criar uma cultura do encontro na prática. O Papa Francisco, que é argentino, fez referência ao poeta brasileiro, Vinícius de Moraes, ao citar: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida”, no seu Samba da Bênção (n.215).
Já no sétimo capítulo são apresentados caminhos de reencontro a partir da verdade. O papa mostra claramente como é que podemos arquitetar a paz. Ele usa a expressão “artesanalidade”. Devemos ser “artesãos da paz”. A paz se faz como tricô; é ponto depois de ponto; nó depois de nó. Não se faz simplesmente com projetos escritos. A encíclica crítica duramente a guerra e a pena de morte, onde deve ser excluída de toda a possibilidade de legislação sensata.
O capítulo oitavo é o último e encerra as reflexões do Papa Francisco sobre a fraternidade universal. Ele afirma que as religiões estão à serviço da fraternidade no mundo e não se podem ser instrumentalizadas em favor de interesses particulares. A religião é instrumento de fraternidade e não instrumento de guerra, como alguns querem fazer crer.
A encíclica Fratelli Tutti termina com duas belíssimas orações, a primeira ao Criador e a segunda em tom mais ecumênico. O Papa Francisco acertou em cheio nesse texto sobre fraternidade inspirado em Francisco de Assis, patrono do seu pontificado, em um tempo tão dividido por discórdias e agredido por um vírus que nós não pedimos e por uma pandemia que nos incomoda em que demora para passar. O Papa Francisco lança uma luz de Esperança com sua nova encíclica Fratelli Tutti.
Gilvan Gomes das Neves é Doutor em Ciências da Religião pela UNICAP. E-mail: Gilvan.neves@uol.com.br
1 Comentário
Parabéns Gilvan belo belíssimo artigo!!!!?????????