20 de janeiro de 2021 12:53 por Fernando Morais
18 de janeiro de 2021.
Nietszche, Paulo Coelho e o Cabo Daciolo afirmam que não há coincidências. Há cinquenta anos eu punha os pés pela primeira vez em Cuba. E , carajos, tudo começou exatamente aqui, neste trapiche da praia de Varadero em que fui fotografado hoje pelo Ricardo Stuckert.
Na Varadero daquela época não havia nada, nada, nada, além de um solitário hotel, não sei se construído ainda nos tempos de Batista ou já pelos compas soviéticos. Montado num dos velhos Ford Falcon (que Perón peitou o bloqueio e vendeu a Cuba), transpus mil e tantos quilômetros de estrada, durante três meses. Vi o que quis ver, sentei e escrevi “A Ilha”.
Depois de mim os jornalões mandaram a Cuba seus repórteres para “desmentir” o que eu publicara sobre a atrevida ilha caribenha. Um editor criativo, descobri outro dia no vatizap, intitulou a matéria do Jornal da Tarde com algo como “A Ilha, sem fantasia”, ou coisa menos engraçada, mas parecida.
Entre os “repórteres” enviados a Cuba para desmoralizar meu trabalho profissional destacava-se o canalha em falsete Lenildo Tabosa Pessoa, que entrou para a história não como jornalista, mas como súcubo do delegado do DOPS Edsel Magnotti, torturador dos frades dominicanos presos nos anos sessenta/setenta pela ditadura militar. A revista Visão, para quem eu fizera originalmente a reportagem, contratrou a soldo os serviços do jornalista Frederico Branco – que nunca pusera seus pequenos pés em Cuba – para desescrever o que eu havia escrito.
Mas por que, diabos, estou falando disto aqui? Primeiro pela coincidência das datas. Depois para encher o saco dos que me consideram dono de um ego grande demais, o que talvez seja verdade. “A Ilha”, que meio século depois continua à venda nas boas casas do ramo, está editada em um montão de idiomas e países.
E, claro, escrevi este breve mistifório também para lembrar que, passadas três décadas da desencarnação da União Soviética, a Cuba que descrevi há tantos anos continua firme, de pé, digna, decente, íntegra, sem analfabetos nem esfomeados. E, em plena tragédia da Covid, socorrendo ricos países europeus com seus médicos e enfermeiros.
O ego grande, grande como um sapo-boi, na verdade, nem é só o meu, mas também o de Cuba.
Ah, e já ia esquecendo do principal. Esta nota é também para revelar que, por sugestão de amigos interneteiros, devo começar em breve a contar estas e outras histórias, completas e com detalhes, da minha profissão.
Aquela que segundo García Márquez é a melhor profissão do mundo, a de jornalista.
Texto originalmente publicado na página do Facebook do autor