4 de maio de 2021 4:06 por Marcos Berillo
O mês de maio, também chamado mês de Maria e mês das noivas. Dedicado a Santa Mãe de Deus, Maria. A sua devoção surgiu no século XIII, na Europa, onde maio é o mês das flores, um dos meses da primavera. No Brasil, a devoção do mês de maio iniciou-se no século XIX, com a romanização (2) da Igreja e, principalmente pela ação dos religiosos lazaristas franceses. Nos hinários tradicionais encontramos cantos como: “Eis o mês de alegria, mês da mãe do Senhor; Neste mês de alegria, tão lindo mês de flores; Neste mês tão santo de suma alegria, seja o nosso encanto a virgem Maria” (Inf.: Francisco C. Alves Dupim).
Maio é o mês das coroações de Nossa Senhora, é da mesma época, que é uma devoção marcadamente infantil e feminina. A coroação é uma cerimônia paralitúrgica (3) própria do mês de maio, realizada com crianças vestidas de anjo que homenageiam Maria, Virgem e Rainha, colocando véu, palma, rosário e coroa na sua Imagem, à frente dos fiéis reunidos na Igreja. No final, jogam flores, ou pétalas de rosas.
Lélia Vidal Gomes da Gama conta que antigamente a Igreja era muito bem ornamentada, as escadarias por onde subiam anjos e virgens eram erguidas dos lados da imagem de Nossa Senhora. Eram muitas fitas, filós, cetins, brilhos, cores e flores, A Igreja ficava repleta, no coro, os músicos acompanhavam os cânticos.
Anjos e virgens aguardavam, na sacristia o término da reza e o esperado momento de darem entrada no templo. Lá fora, a banda de música tocava os mais belos dobrados da época, anunciando aos fiéis a chegada do cortejo alado. O vigário, em geral, dava inicio aos cantos de louvor, assim que as meninas, duas a duas, galgavam a porta da Igreja (GAMA, 1984, p. 14).
Existem muitas músicas específicas para a coroação (4). Na entrada pode ser cantado: “neste mês de alegria, tão lindo mês de flores,/ queremos de Maria celebrar os louvores. / Hinos harmoniosos vamos hoje cantar./ De ramos mais viçosos, ornemos seu altar”. Outro canto para ofertar os mesmos atributos é: Mãezinha do céu, eu não sei rezar, só sei dizer: eu quero e amar. Azul é teu manto e branco é teu véu. Eu te trago flores (etc.,) mãezinha do céu.
Segundo Dornas Filho, a coroação de Nossa Senhora por Dom Viçoso (1787-1875), bispo de Mariana (MG), a partir de 1840 (5). Já segundo Augusto de Lima Júnior, “as coroações de Nossa Senhora começaram depois de 1849, em Minas Gerais, por iniciativa dos padres Lazaristas e irmãs de Caridade”5.
Em Sergipe, registramos o ritual da queima das flores e outros materiais usados nas festividades. Há cantos apropriados, em Telha (SE), o povo canta: “vamos companheiras, em doce união,/queimemos as flores, na consagração.// Na consagração, em doce harmonia / queimemos as flores do mês de Maria..”(Caderno manuscrito por Maria da Paz, em Telha (SE), 1980, canto 116.
O Ofício de Nossa Senhora da Conceição (séc. XV) diz nas Completas: “Deus vos salve, Virgem, Mãe Imaculada, / rainha de clemência / de estrelas coroada. // Vós, sobre os anjos / sois purificada, / de Deus à mão direita / estás de ouro ornada” (Ap 12,1).
Notas:
1- Maius (magnus) Júpiter, pode ser derivado da deusa romana, Maia, conhecida como Bona Dea, a” Boa Deusa”, na mitologia romana, era uma deusa da fertilidade e virgindade, venerada pelas matronas romanas. Filha do deus Fauno, muitas vezes chamada de Fauna, cuja festa celebravam neste mês que chamaram de Maius.
2- Mestre e doutor pela Unicap. E-mail: Gilvan.neves@uol.com.br.
3- A Romanização na Igreja do Brasil, acontece na segunda metade do século XIX, onde da nossa origem colonial e portuguesa, bastante laicizada, começou a sofrer influência da Igreja européia, marcada pela contrarreforma surgida a partir do Concílio de Trento (1545-1563).
4- Aquilo que vai para além da liturgia. Por exemplo: uma Folia de reis, que é religiosa, mas incorpora outros elementos culturais.
5- SARMENTO, Clarice. Coroações. Montes Claros [s.n.] 1994. Coletânea de 102 cantos com pauta musical em 76pp.
6- DORNAS FILHO, João. Achegas de Etnografia e folclore. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972, p. 166.
Referências:
GAMA, Lélia Vidal Gomes da. Devoção e nostalgia: informação histórico-litúrgica sobre o catolicismo e o culto da Virgem Maria em Minas Gerais. Belo Horizonte: Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, 1984, p. 14.
DORNAS FILHO, João. Achegas de Etnografia e folclore. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1972, p. 166.
SARMENTO, Clarice. Coroações. Montes Claros [s.n.] 1994. Coletânea de 102 cantos com pauta musical em 76 pp.
VAN DER POEL, Francisco. Dicionário da Religiosidade Popular. Curitiba: Ed. Nossa Cultura, 2013.
1 Comentário
Belo texto Gilvan e o mesmo me trouxe uma lembrança que tenho quando jovem cantando aos domingos na missa na Igreja da Praça das Graças uma homenagem a Maria: “Maria de Nazaré, Maria me cativou, fez mais forte a minha fé e por filho me adotou”. Eu gostava tanto dessa musica que tinha vontade de pedir ao padre por um repeteco!!’