5 de maio de 2021 8:29 por Geraldo de Majella
O que define o fascismo é o Estado autoritário, onde a ordem que vigora é a eliminação ou a tentativa de eliminação dos adversários, que logo ascendem à condição de inimigos. Os comunistas, os esquerdistas, os direitos individuais e coletivos vão para a alça de mira das forças regulares de segurança ou das organizações paramilitares ou milícias; antes eram os esquadrões da morte. Mudam de nome e configuração em cada região do país.
O Poder Judiciário é chantageado, ameaçado, e certas áreas são cooptadas e passam a decidir de acordo com os interesses do governante. O Poder Legislativo, a depender da correlação de força, terá maior ou menor resistência às pretensões fascistas. É um terreno fértil e que amplifica as propostas do Executivo. Assim, o Legislativo pode suprimir direitos conquistados para servir ao ocupante do Executivo.
Há na sociedade uma alavanca que impulsiona os pendores fascistas do governante, que é o mercado. As forças econômicas são as que o apoiam nos primeiros momentos e têm um discurso pronto: a modernização das relações de trabalho, a redução do Estado – principalmente nas áreas em que o Estado, por obrigação constitucional, cuida da população mais pobre e vulnerável. É nesse momento que é lançado o discurso das mudanças que desencadearão a prosperidade social em cascata.
As pessoas que não conseguem compreender ou não percebem as ações autoritárias, e até mesmo a supressão dos seus direitos, apoiam sem contestação e até vão às ruas defender tais propostas. O mal é inoculado entre os membros das famílias no momento em que o ódio é destilado como uma política de Estado. A perversidade é instituída até alcançar o mais distante dos viventes, por mais isolado do mundo e da política que se encontre.

O braço longo do Estado os elege como os inimigos da nação e o patriotismo é (re)introduzido em nome de uma salvação iminente. As regras básicas da democracia pouco a pouco vão sendo esgarçadas e a violência policial é dada como resposta aos que pensam diferentemente. Grupos de milícias são convocados e passam a atuar no combate aos comunistas; basta se declarar contra o fascismo para ser logo tachado de comunista.
As relações familiares, pessoais e no trabalho são afetadas diretamente. É o momento em que a reflexão ou a relação civilizada perde a significância e a voz autoritária emerge com ar de superioridade, não raro, ameaçando a convivência em grupo ou através da violência, inicialmente verbal; o passo seguinte é a violência física.
O autoritarismo desenhado para dominar a sociedade passa a ser sentido por todos aqueles que nunca deram a merecida importância à democracia, ao direito à divergência, e não sabem que só com a pluralidade de opinião é possível construir relações fraternas e respeitosas.
O Ovo da Serpente – refiro-me ao filme de Ingmar Bergman, em que é retratada a Alemanha que antecede a ascensão do nazismo e de Hitler ao poder ‒ foi gestado pelos agentes econômicos, políticos, pela mídia que satanizou a esquerda, e o Partido dos Trabalhadores (PT) em particular. Contou de maneira ininterrupta com as vozes estridentes de religiosos de quase todas as denominações e mais o apoio, no primeiro momento, quase imperceptível de organizações de extrema direita baseadas nos EUA. Não é surpresa para os mais experientes a participação das Agências de Inteligência dos EUA no processo de ascensão autoritária no Brasil a partir do golpe contra a presidente Dilma Rousseff.
A identificação do momento em que o ovo da serpente foi gestado agora é perceptível, mas ainda não é possível derrotar a máquina monstruosa que dissemina a ideologia do ódio de classes, religioso, étnico, de gênero e político. Há uma plataforma industrial de propaganda fascista em curso no país que atraiu setores relevantes das massas populares; estes aderiram sem refletir – a maioria não tinha capacidade de realizar a necessária reflexão. A adesão aconteceu pelo medo, pelo ódio ao comunismo e também pelo desespero e a necessidade de defesa da família ‒ sentimentos plantados e que prosperaram.
O mecanismo de condução das massas tem sido semelhante ao utilizado pela máquina de guerra conduzida por Hitler. É claro que hoje existem instrumentos de comunicação instantâneos; os robôs são os Panzer (veículo blindado de combate) utilizados pelo exército alemão; é a arma do momento que ataca a democracia brasileira e a de outros países.

Bolsonaro é um político medíocre e conta com um exército de fanáticos que não diferem de outros tipos mundo afora. O amálgama utilizado por ele entre religião, moral, usurpação do aparelho de Estado e a violência é o substrato dos seus discursos diários que potencializam as redes sociais.
Bolsonaro quer governar com a mão no trabuco institucional para guerrear contra a democracia, as instituições do Estado e seus defensores. As ameaças semanais contra as instituições amplificam o discurso em direção às polícias, às camadas médias da sociedade e às massas evangélicas capturadas. A sua popularidade tem caído; segundo os especialistas, tende a reduzir-se ainda mais.
É necessário lutar para derrotar Bolsonaro e o fascismo, que é o campo ideológico em que ele se situa. O fascismo pode bater à porta, mas não se deve deixa-lo entrar. O antídoto contra o fascismo é a democracia, e a democracia se conquista com o esclarecimento das massas e a luta diária.
2 Comentários
O fascismo bate à porta!? Isto é, a violência oficial ou não, a mão pesada do Estado, não importa por quem comandada. Na Alemanha foi Hitler, hoje, no Brasil, Bolsonaro. Que, estúpido ou não, comanda e tem maioria no Congresso; tem, dizem, 1/3 no coração do povo. Será? 30% + 69% de apatia-indiferença = 🤔
O conservadorismo, a ignorância e a apatia que produzem governos bolsonaros é a equação que nos define.
Na verdade, após a queda da ditadura, perdemos decênios sem nos organizarmo,s sem educar política e ideologicamente as massas populares. Por isto um vazio político se formou, ocupado imediatamente ao sentimento anticomunista e pelo fascismo arraigado nos seguimentos mais retrógrados de determinadas camadas da nossa sociedade mais abastardas.
O neo -fascismo, um fenômeno contemporânio no atual estágio do desenvolvimento do capitalismo mundial, em seu estágio superior, o imperialismo, a sua última fase de desenvolvimento social e econômico, quando se dar a imensa concentração de capitais e riquezas e a imensa pobreza das massa populares e dos países periféricos. O estágio da morte do capitalismo, que ainda moribundo luta pela hegemonia global. O Mundo atual é o mais perigoso e arriscado para a humanidade e a sua existéncia com os riscos da guerra global nuclear pela sua sobrevivência.
O fascismo atual é um fenômeno que reflete as enormes e graves contradições sociais e econômicas não só no Brasil, mas no mundo globalizado. A nossa luta e combates deve dirigir-se não somente aos pigmeus Bolsonaro instrumentos do Império, mas também as grandes poténcias imperialistas que os espelham, como aos Estados Unidos e a União Européia e o seu braço armado: A OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte e os seu aliados no Extremo Oriente que ressurgem na marcha em direção ao militarismo. Lembremos que Bolsonaro não é um fenômeno isola, porém um resultado como outros na América Latina e no Mundo da política de interferéncia da Metrópole.