8 de maio de 2021 8:10 por Geraldo de Majella
O morticínio de 28 pessoas na favela do Jacarezinho, na cidade do Rio de Janeiro, causa perplexidade na comunidade internacional, mas não causa vergonha, menos ainda compaixão ou respeito, às famílias das vítimas. Os falcões da polícia civil carioca regurgitam pela boca do (ir)responsável pela investigação do caso, o diretor-geral do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa, Roberto Cardoso, que, como de costume, já chegou à conclusão antes de apurar e disse que “não houve execução”.
O mau hálito que exala de sua fala macabra é a rotina policial que se diz mantenedora da ordem pública no Rio de Janeiro. O espetáculo foi seguido pelo delegado Felipe Curi, do DGPE (Departamento Geral de Polícia Especializada); este, sem cerimonia concluiu pela culpabilidade dos 27 moradores mortos, sem que antes ‒ e não seria possível pela exiguidade de tempo – apurar o morticínio.
“No início da incursão, o nosso policial foi alvejado e morto. Isso é a prova cabal de que não houve execução e houve, sim, uma necessidade real de um revide a uma injusta agressão”, declarou Roberto Cardoso. O comentário feito pelo vice-presidente Hamilton Mourão é sórdido para qualquer um e mais ainda para um vice-presidente emitir tal julgamento: “Tudo bandido”.
O governador Cláudio Castro é um político sem autonomia e a serviço da máquina de moer gente pobre, negra e moradora das favelas cariocas que tem o infortúnio de viver em territórios dominados por milícias e traficantes. Ambos dialogam em pé de igualdade com a política do Rio de Janeiro.
Cláudio Castro é aliado dos Bolsonaros e montou o governo partilhando o poder com essas facções, inclusive levando para perto policiais civis que no passado recente andaram ombreados com criminosos.
O morticínio do Jacarezinho constará do currículo ou folha corrida do governador carioca e não é de estranhar que o vereador Carlos Bolsonaro haja tentado impedir que a Câmara Municipal fizesse um minuto de silêncio pelos mortos, entre eles, um policial civil.
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a polícia carioca só poderia entrar nas favelas com motivo justificável. A polícia civil e o governador apresentam o álibi que não pode servir como justificativa: a prisão de traficantes que estavam aliciando jovens para o tráfico. Como diz o carioca: “conta outra, mané”.
O governador Cláudio Castro e os policiais que decidiram pelo morticínio devem ser investigados. O Ministério Público não pode se escudar na justificativa desse grupo de extermínio estatal. O Brasil sabe que a polícia carioca é uma máquina de moer carne negra e favelada.