sexta-feira 29 de março de 2024

Quando Pão de Açúcar foi notícia em O Pasquim

16 de junho de 2021 10:01 por Álvaro Antônio Machado

 

Departamento de Publicidade Jaciobá de Pão de Açúcar em 1951. Foto de João Lisboa

 

Recentemente, recebi como presente da minha enteada o Volume III da antologia de O Pasquim, que reproduz as matérias publicadas nos anos de 1973 e 1974. Caroline, minha enteada, bacharelanda em design pela PUC-RJ, sabe a influência que O Pasquim teve na minha formação moral e intelectual.

Pois bem, muita coisa pra ler, alegria e emoção em cada página, um verdadeiro deleite nostálgico e, de repente, me deparo com algo fantástico, verdadeiro teste de emoção para minha coleção de stents cardíacos.

Mas antes de contar o milagre, revelo o santo: nos memoráveis primeiros anos de existência de O Pasquim, eu integrava, em Pão de Açúcar, um grupo de jovens sedento pela expressão das ideias, pela democratização da comunicação, numa contraposição ao regime ditatorial da época, que cerceava o acesso à informação, que já era difícil pela limitação dos meios de comunicação.

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Sabíamos do mundo e do Brasil pelo cinema, pelo rádio, pelos jornais impressos que nos chegavam com dias de atraso e por algumas revistas. Dentre os jornais, O Pasquim, de longe, reunia nossa predileção, tanto por ser mais independente, como pela inteligência, sagacidade, argúcia e engenhosidade na abordagem dos fatos e na forma de se comunicar com os leitores, reunindo grande parte da indignação social frente ao regime ditatorial.

Éramos fãs ardorosos de Millôr, Henfil, Ziraldo, Paulo Francis, Jaguar e tantos outros ídolos que nos faziam pensar, aprofundar e discutir a realidade do país e a nossa própria realidade existencial, além de um humor diferenciado, arguto e inventivo.

Pois bem, entusiasmados e ávidos pelos bens culturais e pela expressão de nossos pensamentos, saímos de uma vitoriosa experiência em Pão de Açúcar com o jornal O Clarim e iniciamos em 7 de setembro de 1972 uma nova etapa com o jornal A Pátria, ancorados e motivados pelo nosso timoneiro Pedro Lúcio Rocha.

Sindicalista Pedro Lúcio, um histórico líder dos trabalhadores rurais do sertão

A Pátria começou como veículo de divulgação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pão de Açúcar e no início, além do Pedro Lúcio, estávamos Massilon Silva, Érico Abreu, Etevaldo Amorim e eu, gerindo o jornal. Com o passar do tempo e a consolidação da empreitada, outros jovens aderiram à ideia e agregaram-se ao grupo.

A vontade de fazer um bom jornalismo e, mais que isso, perpetrar uma comunicação de verdade, algo que propiciasse fomentar a cultura de nossa terra e os nossos valores, fez com que, em 3 de março de 1973 ― aniversário da emancipação política de Pão de Açúcar ― fundássemos a “Associação Pão-de-açucarense de Jornalismo e Comunicação“, uma entidade que tinha “como meta principal desenvolver entre a nossa juventude os ideais da verdadeira comunicação, integrando os jovens aos caminhos da nova e surpreendente ciência”. tal qual descrito na edição de A Pátria de 17 de março de 1973.

A primeira diretoria, votada e empossada, tinha Pedro Lúcio Rocha como presidente e Érico Abreu como vice-presidente. O jornal A Pátria desligou-se do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e passou a ser o órgão oficial da Associação recém-criada. E esta, ao longo de sua existência, deu reconhecidos frutos: promoveu eventos culturais, seminários sobre Comunicação trazendo nomes importantes do jornalismo alagoano para ministrar palestras, concursos de contos e poesias etc. Um período de muita efervescência e de muita aprendizagem em como fazer bom jornalismo. Havia constante incentivo para os jovens pão-de-açucarenses integrarem a Associação, motivados pelos propósitos da mesma, dentre os quais estava o, digamos, modesto objetivo de “mostrar ao mundo a cultura pão-de-açucarense” (sic).

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No alto patamar do entusiasmo derivado da fundação da Associação, de imediato pensamos em mandar para O Pasquim a álacre notícia da criação da nossa entidade, embora receosos de que fosse uma informação que não merecesse atenção dos famosos protagonistas daquele jornal, mas certos de que, se a merecesse, seria digna de pelo menos uma carta resposta de incentivo à nossa iniciativa.

Passadas algumas semanas, ao abrirmos o número 204 de O Pasquim, nos deparamos com uma página inteira de piadas dirigidas aos estudantes de Comunicação e relacionadas às distorções no ensino desse curso nas escolas brasileiras, e, nesse contexto, uma surpresa deveras inesquecível e que se transformou num enorme e indigesto balde de água fria que caiu sobre nós: a nossa modestíssima Associação estava lá, retratada nos célebres cartuns do Ziraldo, mas interpretada pelos nossos ídolos como sendo uma “Escola de Comunicação” (o Curso de Comunicação Social da UFAL, o primeiro de Alagoas, só seria criado em 1978, imaginem!).

A crítica veio no grafismo de dois satíricos personagens que assim dialogavam:

― Na cidadezinha de Pão de Açúcar (5.000 habitantes), em Alagoas, inauguraram uma escola de Comunicação.

― Por que é que não fizeram uma escola de Medicina?

― Tá pensando que Medicina é brinquedo, rapaz?!

Pagina 70 da edição nº 204 (maio/junho de 1973) de O Pasquim

Nossa decepção, no primeiro momento, foi enorme: logo eles, nossos heróis das tintas e dos textos, a nos criticarem por uma ação tão bem intencionada… No segundo momento, pusemo-nos uma carapuça: “Eles não erraram, nós é que erramos na ‘comunicação‘ para eles”. E por fim, encontramos um alento: “Leram nossa carta! Não entenderam, mas leram, deram importância à nossa correspondência e Pão de Açúcar, de uma forma ou de outra, foi pras páginas d’O Pasquim, algo que nunca dantes imaginamos!”

Revelado o santo, volto ao milagre: eis que, lendo o Volume III da antologia de O Pasquim, me deparo e me emociono com a reprodução fiel e autêntica da edição 204, de maio/junho de 1973, e na página 70 as “Piadas particulares para o pessoal que estuda Comunicação nas escolas idem”. Nela, agora mais imortal que nunca, Pão de Açúcar e a interpretação crítica da Associação que fundamos e que, mesmo de forma enviesada, foi parar no mais famoso hebdomadário brasileiro de todos os tempos…

 

Álvaro Antônio Machado é Médico, sócio efetivo do Instituto Histórico
e Geográfico de Alagoas e membro efetivo
da Academia de Letras de Pão de Açúcar.

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