16 de julho de 2021 1:13 por Braulio Leite Junior
Aí está a Boca de Maceió. A antiga, claro, desdentada, ainda com seus primitivos “dentes de leite”. Em seu livro “Maceió”, João Craveiro Costa (27-2-1871 a 31-8-1934) informa que “em 1866, a Rua da Boca de Maceió recebera um melhoramento considerável”. Naquela época, a rua era atravessada por uma espécie de levada ou rego d’água que, no dizer do então presidente da província Esperidião Eloi de Barros Pimentel, que assumira o governo a 31 de julho do ano anterior, “muito afeiava (à Boca) e dificultava a passagem de carros, não obstante a despesa que se fazia com a conservação de um pontilhão de madeira, que, por seu estado de ruína, não podia deixar de ser substituído por um novo”.
Foi então que o Presidente mandou fazer no lugar do pontilhão uma bomba de alvenaria queria ele dizer o que chamamos hoje bueiro-que além da melhor duração “tornou o pavimento da rua unido em toda a sua largura, dando fácil saída às águas pluviais”, que ali se estagnavam, formando um pântano de todo desagradável, quase no centro da cidade.
Com essa obra, gastou o governo da província pouco mais de novecentos mil réis 9900$000 (como se grafava). A foto não tem data. Podemos ver a tal “bomba de alvenaria de fronte ao Hotel Universal, onde seria construído no começo da segunda década deste século o Grande Hotel Bela Vista, o Bela Vista Palácio Hotel, seu nome de fachada. O sobrado escuro à esquerda na entrada da Rua Nova (que já tinha esse nome em 1817), foi onde funcionou durante muitos anos o Hotel Pimenta. A foto abrange apenas o triangulo ainda iniciante, com sementeiras recém-plantadas, onde seria a Praça dos Palmares, vendo-se na extrema esquerda o velho portão da estação da Great Western Brazil Railway Company-GWBR, com seus trilhos cortando os do bonde. Os transeuntes estão severamente enroupados à moda da época – na maioria trajes escuros, chapéus europeus, inclusive as mulheres, e bengalas.
Todavia, a foto não abrange toda a primitiva Boca de Maceió, senão duas das subidas e ladeiras, das quatro que ligavam à estrada do Poço (depois chamada “Entrada do Poço”.), ou seja, as ladeiras da Rua Nova e da Rua do Comércio, que José Bento Júnior melhorou dando lhes aspecto urbano. As outras ladeiras, integrando a Boca de Maceió, eram as do Calabouço (Pinto Martins) e a chamada Ladeira da Igreja (Catedral), ambas margeando ainda hoje o paredão do tesouro, como era conhecido aquele muramento na Rua da Verdura, que limita o lado leste da Praça Dom Pedro II, antigo Largo do Pelourinho. Mas isso foi há tanto tempo que, como já deixou dito Jorge Amado, “No novo tempo recém-desabrochado, na flor da nova madrugada do homem, esses casos e essas pessoas, não caberão”. Tornaremos a cantar Virgílio Guedes, no seu poema sobre a festa dos Martírios:
“Tania, que noticia me dás do teu poeta”?
Santa, como tudo é falaz no vórtice da vida.
Julieta, lá foi levada pela morte!
E aquela voz suave,
cristalina de Enedina?
Tudo foi de roldão na dobadoura do tempo!
Quem é que põe um dique à lei dura da sorte?..
Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.