20 de julho de 2021 7:49 por Braulio Leite Junior
A Ponte dos Fonseca Uma boa pergunta para exame: quantos eram os Fonseca? Sem incluir as duas filhas de D. Rosa Maria Paulina da Fonseca, casada com Manoel Mendes, militar brasileiro que serviu nas Alagoas na primeira metade do séc. XIX, os Fonseca eram oito, mas apenas um, Pedro Paulino, reformado como tenente, deixou de ir à guerra do Paraguai para ficar tomando conta da família, tendo sido depois senador à Constituinte e governador do Estado, o primeiro eleito pelo Congresso Constituinte.
D. Rosa ficou conhecida como mãe dos sete Macabeus, por analogia com episódio do martírio dos sete irmãos, e sua mãe, de nomes não mencionados, no cap. VII do Livro II dos Macabeus. Portanto, dos seis Fonseca idos à guerra, e que a ponte celebra, dois morreram em Curupaiti, em 22 de setembro de 1866, Hipólito e Afonso Aurélio, perecendo um terceiro, Eduardo Emiliano, em Itororó, no dia 6 de dezembro de 1868; Hermes Ernesto, o mais velho, que foi pai do Marechal Hermes, oitavo Presidente da República, e Manoel Deodoro foram feridos em Itororó, apenas escapando Severiano Martins, depois Barão de Alagoas e João Severiano, general do corpo médico, senador à Constituinte pelo Distrito Federal, membro da Academia de Medicina e autor de numerosos livros.
Quando em 1866 D. Rosa recebeu a notícia da morte de Hipólito e de Afonso, mandou iluminar festivamente sua residência, engalando-a com bandeiras e flores em honra da pátria, o mesmo fazendo ao ter notícia de que Eduardo sucumbira em combate, e Hermes e Deodoro estavam feridos.
A foto mostra a antiga Ponte dos Fonseca, entregue ao governo em 13 de janeiro de 1871, tendo sido a sua construção contratada em 1869 com Sr. Hugh Wilson, presidindo a província o Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior. O preço foi 6.500 libras esterlinas, ao câmbio do dia do pagamento. No Memorial Alagoano, do Dr. Olímpio Galvão, publicado no primeiro volume da revista do Instituto Histórico de Alagoas, consta que a ponte media “120 metros de comprimento, quatro de largura, ornada de passeios laterais, calçada no centro de paralelepípedos, com oito lampiões grandes em grossas colunas de ferro bronzeado. A ponte assenta sobre três arcadas e contém chapas de inscrições da era”.
Na Semana Santa de 1924 uma tromba d’água se abateu sobre o Poço e a aluvião decorrente afetou irremediavelmente a ponte, já com mais de meio século, tendo sido substituída por outra de cimento armado, projeto do engenheiro francês Sigaud, no governo de Costa Rego.
A nova ponte recebeu tabuleiro retilíneo. O historiador Félix Lima Júnior evoca os acontecimentos em Maceió de Outrora, Volume I: “em 19 de abril de 1924, sexta feira da Paixão, choveu a noite toda. Caiu um tromba d’água no Reginaldo, nas proximidades da Rua Diégues Júnior, a primeira de que se tem notícia nesta Capital. Na ocasião, dizem, a maré era de enchente. Tendo o rio recebido enorme volume d’água, como jamais talvez recebera, ficou alagado todo o trecho entre a ponte do Poço e a Estação Central da Great Western, isto é, as ruas 7 de setembro, do Imperador e Marechal Roberto Ferreira, bem como a entrada do Poço – desabando muitas casas. Ruiu parte da Ponte dos Fonseca. Vinte anos depois, mudaram a foz do Salgadinho. Por que e para quê? Encerrou-se, melancolicamente, um período da vida da cidade e de muito menino vadio…”.
Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.