1 de agosto de 2021 8:34 por Da Redação
Adultos estressados, atingidos pelo desemprego ou redução de salários. Adolescentes gastando mais tempo nas redes sociais, sofrendo desgaste mental e frustração. O cenário sempre foi conhecido, mas assumiu proporções graves com a pandemia Covid-19. A crise de saúde pública aumentou os registros de transtornos emocionais, sendo causa nos últimos meses de tentativas de suicídio ou surtos psicóticos registrados em Alagoas.
Só para dar um exemplo, entre os mais de 38 mil socorros prestados pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), de janeiro a junho deste ano, 1.295 foram pessoas em surtos psiquiátricos. Conforme dados oficiais, divulgados pela Agência Alagoas, foi este o quinto caso mais comum no primeiro semestre de 2021 entre todas as ocorrências atendidas pelo Samu/AL.
Médico da família e comunidades, o professor Elias Bonifácio confirma que é cada vez maior o número de pessoas que buscam atendimento com sinais de ansiedade e depressão. Docente da Universidade Tiradentes (Unit/Maceió), ele atende na unidade básica de saúde Casas Novas, no município do Pilar, e vê com preocupação esse quadro, que define como um dos grandes problemas da pandemia do novo coronavírus.
O isolamento social teve efeito grave sobre as pessoas que já enfrentavam depressão e ansiedade, ressalta o médico. Essas pessoas se sentiram ainda mais solitárias. “Temos percebido um aumento no número de tentativas de suicídio, de ideação suicida” – afirma o professor, apontando adolescentes, pessoas que perderam o emprego, tiveram o salário reduzido, que temem não conseguir a aposentadoria como vítimas dessa situação.
“Tem muita gente com pânico, que chegam afirmando que estão com falta de ar, acreditando que estão com Covid, que vão morrer, e no entanto não estão infectadas” – ilustra o professor Elias Bonifácio. Para ele, o cenário de pânico é reflexo da pandemia, mas também do comportamento ansioso e neurótico da sociedade.
Medo da fome
Somado a isso está o empobrecimento da maior parte da população. “As pessoas se desesperam por não ter o que comer e não ter onde conseguir o sustento. Isso está acontecendo muito com os trabalhadores, especialmente nos segmentos onde houve muita demissão e redução de salário, como no caso de empregadas domésticas e comerciários” – acrescenta.
Muitas dessas pessoas entraram em processo depressivo, afirma ele. Para o professor Elias, é preciso que o poder público garanta a essas vítimas a assistência necessária para que o surto psicótico seja menos nocivo.
Entre adolescentes e jovens o isolamento exigido para enfrentamento da pandemia também trouxe efeitos danosos. Por não poder ir ao encontro dos amigos, eles aumentaram o tempo nas redes sociais. Mas essa busca por socialização trouxe efeitos negativos, aumentando a frustração nessa faixa populacional, onde também cresceram os níveis de ideação suicida.