7 de agosto de 2021 9:25 por Edson Bezerra
Eu adorava vê-la dançar, e, era uma alegria imensa, senti-la flutuar al como uma borboleta, a rodopiar e a desafiar a gravidade, a dar saltos e mais saltos. E ela, como se eu não estivesse ali, se entregava toda à canção em seu dançar esvoaçante.
As vezes, eu estava longe, mas, ao ouvir a canção, eu sabia que era ela que estava a dançar, e então, como que de esguelha, eu ficava na porta do quarto e ficava a vê-la dançar, dançar e dançar.
Todavia, por mais desejo que eu tivesse, eu quase que, não a podia tocar, pois o seu tamanho e zelo espirava cuidados, de modo que, somente as vezes eu podia toca-la, e, nas vezes em que eu pude toca-la, eu a fiz dançar.
Por vezes, depois de um tempo, ela sumia, se escondia e eu não sabia aonde, quando de repente e em puro resplandecer de magia, ela retornava e se punha a bailar, e eu, com meus olhos de menino pidão, ficava ali, meio que, enfeitiçado e cheio de desejos.
Lembro-me da primeira vez em que eu a vi. Eu era bem pequeno ainda, mas, como poderia esquecer aqueles gestos? Somente senti que, depois daquele dia – da primeira vez em que a vi, – eu desejaria vê-la e tê-la muitas vezes comigo, mas, era só, posto que, logo depois, ela sumia e se escondia de mim por um bom tempo.
E o tempo foi passando e a bailarina como que, sumiu. Mas, mesmo que eu soubesse que ela estava por ali, alhures, eu a deixava quieta a descansar Todavia, isto somente se deu aos poucos, pois, de tempos em tempos eu ia vê-la se pôr a dançar, e silenciosa e, muda, ela bailava, bailava até que, cansado eu me punha a dormir como que, apaixonado, eu pudesse adormecer junto a ela.
E o tempo foi escorregando e, como que, adormecendo o meu desejo de vê-la dançar e dançar, e isto, – que se acredite – aconteceu quase que sem um sentir, dia-a-dia, mês a mês. No entanto, com o passar do tempo, os meus olhos apartados dos desejos, me fez como que, esquecer dela em seu quase sumir adormecida que já há algum tempo estava.
Só que um dia, um dia muito distante daqueles primeiros dias em que eu, apaixonado ficava a vê-la dançar, senti saudades e, sorrateiramente como quem não quer nada, invadi o quarto, e, ao remexer no guarda roupa, lá estava ela adormecida no canto da caixa. E então eu, delicadamente e entorpecido de saudadas, tentei dar corda na caixinha, mas a manivela estava quebrada e ela, naquele dia pleno de saudades, não se deixou brincar, posto que, ela, a bailarina estava como que, quebrada, e eu, tentei dar corda no afã de ouvir a velha canção, dim, dimdim, e, nada.
E foi que, naquele dia, ao me adentrar no quarto de minha mãe, eu me lembrei de remexer em todas as coisas e me recordar de todos os afetos que existia ali em nosso riso e brincar com a bailarina em seu dançar em meio a risos.
Todavia agora, a caixinha e ela estão desde a muito, quebrados, e minha mãe, eu seu aparecer tardio, agora me aparece bem velha, e então eu, mergulhado em um mar de saudades, me ponho a comtemplar às estrelas e, solitariamente, danço e danço, como que, assim eu pudesse voltar a ser menino, me encantar e voltar a ter com ela, mas que, enfim, eu posso compreender e aceitar que, um dia, a bailarina teria que sumir, para que ela pudesse permanecer em mim para sempre feito a volúpia de um sonho e fantasias de amor