11 de agosto de 2021 8:27 por Eleonora Duse Leite
Conta os mais antigos, que o nome dessa comunidade foi dada por conta de um padre que morava no recinto se apaixonou por uma mulher casada e tendo o marido descoberto, decapito-o, e o mesmo depois de morto passou a visitar sua amada. Mas essa é uma história que talvez tenha sido criada, uma história de Trancoso.
Agora, vamos a uma história real que muitos estão vivendo na pele e tenho certeza de que ninguém gostaria de ser protagonista desta história.
Era da minha casa que via a rua que brincava quando criança e passeava quando adolescente. Dali daquele ponto via a imensidão da lagoa, as cidades circunvizinhas, o pôr do sol e muitas vezes o nascimento da lua com São Jorge no seu cavalo. As escadarias que acompanhava aquele pedaço de terra muitas vezes esquecidas , suas casinhas de taipas com telhados acanhados e pequenos os casebres naquela rua estreita, sem quase nenhum movimento, apenas passos lentos e compassado na subida e ágil de descida em suas escadinhas de degraus estreitos e escorregadios. Olhando para cima cheguei próximo a pracinha intercalada por becos disformes com calçamento de pedra rachão. Ainda lembro a quitanda do senhorzinho, a borracharia da esquina, a casa da moça que vendia flau e o muro alto sempre pichado por algum anarquista. E foi neste pedaço de vila que nasci…
Nossa casa era o ponto de partida para o estudo e trabalho e ponto de chegada de tudo de bom que colhemos durante o dia. Era o nosso “ Lar Doce Lar”. Mesmo humilde éramos felizes, tínhamos um local de morada, descanso, um abraço sempre aberto para a nossa volta.
Hoje vejo que nada é certo, nem a casa que pensei ser nossa. Ela não é inviolável. E agora, tudo explode do dia para a noite e tivemos que sair em toque de retirada em rota de fuga. Estamos de pés e mãos atadas a mercê, sabe Deus de quem. Estamos simplesmente de partida sem alcançar a chegada. Estamos perdidos a procura de passos que nos encaminhem para a nova morada e que certamente não será a última e eterna.
Aqui só nos resta rezar e pedir ao padre que deu nome a nossa gruta, bênçãos de um final feliz, bem diferente do seu.
Esse é um depoimento de um desses de tantos outros, que chora na despedida do seu lar.
(*) Eleonora DUSE Leite é funcionária pública e graduanda em jornalismo.