sábado 23 de novembro de 2024

O Relógio Oficial

O Ponto Central desapareceu há pouco, não sem uma certa onda de protesto que não resistiu à insensibilidade comum. Também nessa parte da Rua do Comércio, passeada por gente humilde e por ilustres figurões ao longo dos anos

11 de agosto de 2021 7:35 por Braulio Leite Junior

 

Rua do Comércio nos anos 20, com o prédio do futuro Café Central ao fundo. Fonte: www.historiadealagoas.com.br

 

O trecho da Rua do Comércio que se vê na foto.com os dois únicos automóveis que apresenta, deve ter sido fotografado na terceira década do século. Os automóveis são do tipo primitivo: as chamadas “fubicas” que atualmente são “hobby” de colecionadores ricos. Nesse pedaço centralissimo de Maceió, que tendo tido oficialmente o nome de Visconde de Sinimbu nunca, na verdade, assim foi designada em longa e movimentada existência no passado da capital alagoana, a cidade concentrou por dezenas de anos o melhor de sua vivência urbana. As melhores lojas comerciais nele se instalaram e o comercio progrediu. Seu ponto nevrálgico, do ponto de vista histórico, foi o Relógio Oficial, que se centrava a entrada da Rua do Livramento, bem no fundo da foto. Foi em torno do relógio oficial que o maceioense sussurrou sobre política, sobre acontecimentos sociais, sobre esportes, sobre violência e fatos estarrecedores da opinião pública.

Durante muitos e muitos anos era impossível vir-se a Maceió e não se conhecer o trecho acima da Rua do Comércio. Os modernos magazines se instalaram exatamente no local da fotografia. A “Brasileira” foi um deles – um dos mais destacados. Alfaiataria tinha a “Casa Londres”, de Elpídio Andrade. E o Ponto Central, que era esquina térrea da construção assobradada do último plano da foto, era um ponto de tomar café pequeno, onde se reuniram durante muitos anos os intelectuais que faziam vida literária em Maceió dos idos de trinta: Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Santa Rosa, Aloísio Branco, Carlos Paurilio, Valdemar Cavalcanti. O Ponto Central desapareceu há pouco, não sem uma certa onda de protesto que não resistiu à insensibilidade comum. Também nessa parte da Rua do Comércio, passeada por gente humilde e por ilustres figurões ao longo dos anos, vibraram os foliões da terra em Carnavais de corso que ficaram famosos. Nela desfilaram, sob aplausos, as colunas revolucionárias de 1930 rumo ao Palácio do Governo. No prédio mais alto que se vê na estampa, funcionou o primeiro cassino maceioense – o Cassino Atlântico.

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