20 de agosto de 2021 11:12 por Eliana Sá Angelo
Imagine uma cidade onde todos os apartamentos estejam ligados a um sistema onde os resíduos descartados vão diretamente para a central de coleta de lixo, sem necessidade de caminhões e, pasmem, os detritos servem para abastecer incineradores que geram energia para a própria cidade.
Nesse lugar os edifícios são conectados por sistemas de monitoramento de energia e de incêndios, capazes de otimizar o uso e reduzir significativamente o custo de manutenção.
Nessa cidade há mais de 400 km de ciclovias e, em algumas delas acumulam-se mais de 40 mil passagens de ciclistas por dia. Além disso, mais da metade de seus parlamentares pedalam todos os dias para o trabalho.
Existe também uma frota de carros elétricos que prestam serviços públicos e aplicativos capazes de dizer aos motoristas exatamente onde e quando os espaços de estacionamento estarão disponíveis, diminuindo as voltas no quarteirão para localizar uma vaga.
Na pegada de redução de emissão dos gases, uma rede integrada de transporte público conta com metrô com mais de 400 quilômetros de extensão, além de trem, ônibus, táxi e bicicletas e, com um único cartão é possível ter acesso a vários meios de transporte.
Cidades assim existem!
A cada século intensifica-se a concentração populacional nas cidades. Previsões indicam que até a metade do século XXI, 2/3 dos habitantes da terra estarão nas cidades. Entretanto… estudos sinalizam que até 3 bilhões de pessoas podem estar vivendo em comunidades precárias.
Os dados não mentem: é urgente a necessidade de se repensar as cidades por meio do planejamento e da gestão urbana, incorporando os preceitos das cidades inteligentes.
Urgente.
O crescimento das cidades e os problemas por ele gerados impõem o surgimento de projetos inteligentes, inovadores e criativos.
As cidades inteligentes são aquelas que combinam seus recursos de modo ótimo e, em geral, inovador, para promover o desenvolvimento econômico e, de fato, elevar o bem-estar e a qualidade de vida da população. Como recursos entenda-se: infraestrutura social (saúde, educação, esgoto, mobilidade, habitação, segurança), governança institucional e ecossistema de inovação empreendedora, instituições de ciência e tecnologia, sistema financeiro, ativos ambientais, e a infraestrutura tecnológica que assume protagonismo e são utilizadas de forma estratégica nesse rearranjo dos recursos.
Ou seja, as cidades inteligentes aliam tecnologia e a participação dos cidadãos ao seu planejamento, com impactos na melhoria da infraestrutura, na otimização da mobilidade urbana, na habitação social, na energia, na coleta de lixo, no controle da poluição do ar, na criação de soluções sustentáveis dentre outras melhorias necessárias para o aumento da qualidade de vida dos moradores.
Para medir o “nível” de inteligência da cidade foi criado pela IESE Business School, o Citiesin Motion Index, que trabalha 10 dimensões: governança, administração pública, planejamento urbano, tecnologia, o meio-ambiente, conexões internacionais, coesão social, capital humano e a economia.
Cidades como Amsterdã, Tóquio, Viena, Nova York, Songdo são cases de sucesso no assunto.
Apesar das características e demandas específicas de cada cidade, que as tornam únicas, as Cidades inteligentes têm aspectos comuns fundamentais: foco no aumento da qualidade de vida dos cidadãos; coesão e envolvimento dos stakeholders; uso otimizado dos recursos; e… planejamento, planejamento, planejamento!
Ao pensar as cidades é inevitável considerar o papel do homem, enquanto cidadão a sua capacidade de contribuir de forma inovadora na solução dos problemas. Surge, então, as Cidades Humanas e Inteligentes.
Projetos menos tecnológicos também podem mudar completamente a vida da população, à exemplo de ações de reciclagem muito comuns na economia circular e criativa.
Assim, a associação entre inteligente, humana e criativa no acrônimo CHICS foi inevitável.
As Cidades Criativas, conforme a Unesco, são aquelas que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. São sete as áreas consideradas criativas: artesanato e arte folclórica, design, cinema, gastronomia, literatura, mídia e música.
AS CHICS operam sua gestão baseadas em dados e informações confiáveis, transparentes, e que garantam projetos sustentáveis ambientalmente e também sustentáveis ao longo do tempo e são observadas a partir de seis dimensões: governança inteligente; pessoas inteligentes; ambiente inteligente; mobilidade inteligente; vida inteligente; economia inteligente (Giffinger et al., 2007) e uma sétima dimensão acrescida pelo IBRACHICS, que é o financiamento inteligente.
No Brasil, em 2013, criou-se a Rede Brasileira de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis (REDE CHICS), no âmbito da Frente Nacional de Prefeitos e definiu como CHICS “aquela cidade que faz uma gestão integrada, integral, sistêmica e transversal de suas cinco camadas: as pessoas; o subsolo; o solo; a infraestrutura tecnológica; e as plataformas: internet das coisas, inteligência artificial e blockchain, construindo uma cidade boa para viver, para estudar, para trabalhar, para investir e para visitar, de forma sustentável, criativa e com alta qualidade de vida.” (IBRACHICS, 2018).
As CHICS utilizam as tecnologias da informação e da comunicação (TIC), a Internet das Coisas (IoT), a Inteligência Artificial (IA) e a Blockchain (Bcn), de forma integrada, como meio para ter eficiência e eficácia na gestão, englobando aspectos criativos, sustentáveis e principalmente humanos. Ela se organiza, planeja, e executa ações, estabelecendo sistemas entre governo, empresas, academia, ONGs e comunidade, que interagem de forma coletiva, utilizando a criatividade social, econômica, cultural e política de forma inteligente, tendo como finalidade a melhora da qualidade de vida e o aumento da FIB (Felicidade Interna Bruta) de sua população.
Maceió tem dado os primeiros passos nessa direção. São exemplos: a aprovação da Lei de Inovação de Maceió institui a Política Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação e dispõe sobre mecanismos para estímulo à inovação, à economia criativa, ao empreendedorismo, à pesquisa e qualificação científica e tecnológica; o projeto Maceió Cidade Inteligente, que busca, consolidar a cultura da inovação e elevar o município ao patamar de cidade humana, inteligente, sustentável e criativa, engajando o cidadão e aproximando a gestão pública, a academia e o setor produtivo para o desenvolvimento socioeconômico inclusivo, resiliente e sustentável. Ações de desburocratização, assim como a promoção de oficinas e o projeto Vem pro Jaraguá são outras ações que empurram a cidade para esse novo e admirável mundo onde tecnologias, criatividade e sustentabilidade se coadunam de forma inteligente para melhorar a vida dos cidadãos.
Simbora ser CHICS!
1 Comentário
Maravilha! Chic mesmo é ser CHICS. Parabéns pelo artigo.