22 de agosto de 2021 9:17 por Braulio Leite Junior
Em julho, uma unidade hospitalar de Maceió completa aniversaria de inaugurada. Às 14 horas do dia 23 de julho de 1922, entre rosas e verbenas e como parte das festas em louvor a São Vicente de Paula que a Santa Casa de Misericórdia vinha realizando desde o dia 20, era inaugurada “ a mais perfeita construção no gênero” em todo Nordeste, conforme a imprensa da época, o Pavilhão de Cirurgia Domingos Leite.
O nome era em homenagem ao seu provedor. A obra havia importado em 216 contos de réis, incluindo as desapropriações. “O público há de se abismar diante de canta grandeza”, afiançava o Jornal de Alagoas.
Várias generosas doações foram assinaladas, recebidas de D. Laura Leão, coronel Gustavo Paiva, Dr. Luiz Vasconcelos, Dr. Levino Madeira, Dr. Antônio Machado, Srs. Leuzinger Dietcker & Co., D. Maria Machado, coronel Serafim Costa, coronel Isaac Menezes e muitos outros que preferiram permanecer no anonimato, embora tenha o Senhor tomado boa nota de todos eles.
O antigo edifício está hoje, infelizmente, descaracterizado: desmancharam-lhe a bela entrada e levantaram nova portaria; a antiga ficava no corpo do edifício ao lado do gabinete dos médicos. Do lado direito existiam as salas Zacharias (para duas pensionistas), Imaculada Conceição (para indigentes do sexo feminino), Santa Carolina (para meninas indigentes), São Francisco (para indigentes do sexo masculino), Menino Jesus (para meninos indigentes) e São Benedito (para pensionistas).
No lado esquerdo, dando para a Sampaio Marques – hoje transformada havia a sala de Sant’Anna (para pensionistas), rouparia (com espaço para dois leitos destinados a indigentes), São Luiz (para indigentes), sala de cloroformização, vestiário para os médicos e sala para curativos. A sala Sampaio Marques, destinada a operações, com mesa ao centro, era a dependência mais perfeita de todo o edifício. Revestida de uma camada de mármore artificial, com serviços de aeração e de luz “rigorosamente de acordo com as regras da higiene mais modernamente adotadas em departamentos de tal espécie”, era circular, com diâmetro de quatro metros, porta de ferro, janelas de vidro embutido e mezaninos – espécie de pequenas janelas de porão – revestidas de tela milimétrica e preparadas para adaptação de pastas de algodão hidrófilo.
O jornal informava que essa sala era “destinada exclusivamente às operações asséptica” (sic). Hoje diríamos “assépticas”. Para concluir a descrição, no rés do chão, cujo teto construído em cimento armado formava todo o soalho do pavimento superior, havia também amplos salões para guarda de madeiras, ali funcionando serviços de marcenaria e carpintaria, sendo um deles ocupados por grande depósito de água. Não o demoliram como já fizeram com outros prédios do passado, mas conseguiram modificar completamente a singeleza elegante do antigo Pavilhão de Cirurgia Domingos Leite e até apagar o nome dos grandes beneméritos daquela casa hospitalar.