25 de agosto de 2021 7:11 por Braulio Leite Junior
Era um recanto histórico. Romântico. Poético. A velha ponte de embarque, fincada em barras de ferro com lastro de madeira, que eram beijadas pelas ondas suaves que vinham do mar ou agredidas pelas marés fortes empurradas pelos vendavais que vinham da Costa d’África, para usar uma expressão do velho orador alagoano papel carbono do Conselheiro Acácio.
Na verdade, a velha ponte era utilizada por passageiros; para as mercadorias existiam os velhos trapiches, também mar a dentro, aguentados, com estacas de maçaranduba, madeira das matas das Alagoas, que resistiam aos estragos das águas marinhas que tanto destroem. Os trapiches eram propriedades privadas, bem como as alvarengas que conduziam para aqueles armazéns sobre o mar as mercadorias vindas do sul, do norte, da Europa e dos Estados Unidos. Ainda estávamos longe das rodovias que ligam o Brasil de norte a sul e os caminhões não passavam de humildes “fordecos”.
Os trapiches de Maceió tinham nomes: “Bandeira”, da firma J. Pimentel Goulart; “Dois Irmãos”, de Bastos Machado e Cia; “Faustino”, do Comendador Manoel Vasconcelos; “Jaraguá”, da firma Silva Leão, “Novo”, do Comendador Manoel de Vasconcelos; “Pohlman”, de Pohlman e Cia; “Segundo”, de uma sociedade, sendo o Estado maior acionista; “Silva” & “Ferreira Pinto”, que era da firma com o mesmo nome, “Williams”, de Branckles Boxwell & Cia. Na época da safra estas pontes ficavam cheias de açúcar bruto que seriam levados para os navios por alvarengas puxadas por grandes rebocadores de nomes poéticos.
Mas voltemos à ponte de passageiros, à ponte de embarque, que ficava situada numa praça (atual Praça Dezoito do Forte de Copacabana) por trás do prédio da Recebedoria Central, onde hoje se encontra o Museu da Imagem e do Som de Alagoas. Ao lado da praça estava a Estátua da Liberdade olhando para o mar, dando boas vindas aos que chegavam em Maceió. Linda era uma balaustrada que servia de quebra-mar. Ainda hoje está na praça da ponte o pedestal – uma beleza da arte barroca, onde se vê o emblema das Alagoas-, sustentando a estátua.
Com a construção do cais do porto nos governos Getúlio Vargas/Osman Loureiro, a ponte foi desativada. Acabaram-se aquelas despedidas provincianas, lenços acenando para os que partiam. Prantos para os que iam definitivamente, como o poeta Jorge de Lima, Sorrisos para os que chegavam.
Velha ponte guarnecida na sua entrada por figuras mitológicas. Ponte que inspirou poetas como Jayme de Altavilla e Cipriano Jucá. Antigo marco do velho bairro de Jaraguá, ponte que o progresso engoliu porque chegaram as rodovias, os aviões e o porto de Maceió construído pela Geobra já não recebe os velhos navios, os “itas” e os “aras”.
Só resta daqueles dias pacíficos da velha Maceió lembranças como a ponte de embarque, que agora é um pedaço da história urbana da terra que o Governador Melo e Póvoas tanto amou.
Só resta daqueles dias pacíficos da velha Maceió lembranças como a ponte de embarque, que agora é um pedaço da história urbana da terra que o Governador Melo e Póvoas tanto amou.