8 de setembro de 2021 12:04 por Da Redação
Texto: Isabelle Rocha (*)
Recebi a notícia do encerramento das atividades do Ballet Eliana Cavalcanti com um aperto no coração, afinal, passei 24 anos da minha vida atuando como bailarina e coreógrafa desta escola. Também fui testemunha de toda persistência, resistência e resiliência de Eliana em manter-se por 48 anos fazendo arte/dança em um estado árido em investimentos e políticas culturais voltados para a dança e demais linguagens artísticas.
Além da escola de ballet, fiz parte do Ballet Íris de Alagoas – dirigido por Eliana Cavalcanti – de 1983 a 2001, atuando como bailarina, coreógrafa e assistente de produção. Em diversas ocasiões acompanhei Eliana e Gustavo Leite na Via-Crúcis de encontros com empresários e políticos para apresentarmos projetos de patrocínio e profissionalização da dança, através da criação de uma Companhia Estável em nosso estado. Eram muitas conversas e pouquíssimos apoios aos projetos. Mas ela não perdia a esperança!
Para o Ballet Íris de Alagoas, ela sempre encontrava uma solução para fazermos pequenas temporadas com os poucos recursos que conseguíamos. Nem nos dez anos em que o Teatro Deodoro passou com as portas fechadas – de 1988 a 1998 – o Ballet Eliana Cavalcanti e o Ballet Íris de Alagoas deixaram de produzir seus espetáculos de dança. Foram dez anos dançando em ginásios de escolas, no ginásio do SESC Poço e na Vila Olímpica Albano Franco – SESI/AL. Até hoje nos perguntamos como conseguimos resistir a esse período de tanta dificuldade.
No Ballet Eliana Cavalcanti e no Ballet Íris de Alagoas vivi meus anos mais felizes e produtivos. No intenso convívio com Eliana Cavalcanti aprendi muito mais que dançar ballet. Recebi lições valiosas de amor a dança, de postura ética e honesta, de respeito e admiração por todas as manifestações artísticas e, principalmente, de nunca desistir das minhas ideias, sonhos e projetos.
Em novembro, as atividades do Ballet Eliana Cavalcanti se encerrarão. A pandemia da COVID 19 e a terrível situação que sofre o bairro do Pinheiro e outros bairros da capital, destruídos com o afundamento do solo causado pela exploração de sal-gema, pela mineradora Braskem, anteciparam essa decisão que vinha sendo pensada para acontecer em 2023. A sede da escola, situada na rua Comendador Francisco de Amorim Leão, no Pinheiro, foi um investimento projetado com todas as particularidades necessárias que uma escola de ballet exige. A perda deste patrimônio e as incertezas de receber uma indenização justa tornaram a vida de Eliana um turbilhão de preocupações. Assim como ela, milhares de famílias e empresas sofrem com a perda de seus patrimônios.
Entendo seu desencanto e sua decisão. Mas não tenho dúvidas que seu legado de 48 anos dedicados ao ensino da dança continuará vivo através de seus três livros que registram seu trabalho no ensino do ballet em Maceió; através de suas ex-alunas, proprietárias de escolas de ballet; assim como, na memória afetiva de cada pessoa que, muito ou pouco, teve uma experiência com a dança, em sua escola.
Finalizo este texto sabendo que ele não contempla o tamanho da importância de Eliana Cavalcanti para a arte alagoana. Isso até me frustra um pouco. No entanto, não posso deixar esse encerramento das atividades desta escola de dança sem o testemunho e o registro da importância de Eliana na minha vida e na sociedade alagoana. Assim como costumamos fazer ao final de cada aula de ballet, coloco-me em postura de reverência e aplaudo de pé o legado desta artista e seus 48 anos de dedicação ao ensino da dança. Sempre me orgulharei de dizer que sou cria de Eliana Cavalcanti.
Muito obrigada por tudo, Eliana!
*Docente do Curso de Licenciatura em Dança da UFAL
2 Comentários
Parabéns, Eliana Cavalcanti, pelo seu trabalho e
pela sua arte.
Que força tem essa mulher!
Guerreira.
Disseminadora de oportunidades
Às carentes comunidades
Com humanidade no seu olhar
Faz da arte um patamar
De inclusão, para além do coração
Parabéns pelo legado
Gratidão!
Lucy Almeida Al