13 de setembro de 2021 7:10 por Edson Bezerra
Para Babi, o meu pequeno Amor
Naquele ano, ele – não lembrando exatamente quando, – Papai Noel acordou com certeza que, já algum tempo ele estava morrendo, assim, não por não poder dar alegrias e presentes à todas as crianças da cidade – disto, já há muito ele sabia – mas, em virtude das memórias, nas quais a alegria entre os homens estava a sumir, e, do sumidouro delas, o contágio da solidão se estendiam às crianças.
Mas, – era o que ele se perguntava – seriam ele ou os homens que estava morrendo? Ou seriem os dois?!!!!
E, confuso, assim ficou quando se pensou em desterro.
No entanto – e nisto havia um consolo – ele desde sempre se pensou um homem adormecido e apenas a despertar para espalhar alegria entre os homens e encantar os meninos durante o Natal. Todavia, o que fazer agora neste Natal que se desenhava enquanto um tempo no qual, homens embrutecidos e crianças absortas em maquinas pulsantes não sabiam dele o que querer, ou, pior, pediam-lhes confusos desejos entre o superficial e o impossível? Pois, – e era sobretudo disto que ele se lembrava, – mesmo sendo um personagem desde sempre adormecido e somente desperto durante o Natal, lembrava-se ele de tempos outros, dos dias de poucas luzes, de cadeiras nas portas, das crenças e rezas e da ansiedade feliz das crianças na suave espera dos presente carinhosamente acoplados aos arredores da árvore de Natal. E eram soldadinhos de chumbo, um caixa de chocolate, alguns com luzes brilhantes, de madeira, outros, e também, de metal ou plásticos, e, coloridos que eram, se alegravam os meninos que, ainda mais alegres ficavam ao sentir por dentre eles, o calor e as alegrias dos homens.
Mas agora, o que fazer diante deste tempo de sorrisos simulados, e, quando, nem mesmo os vizinhos se lembravam do encantamento do mundo, e, quando muito, sentiam o fugidio o sentimento do sagrado chegar-lhes a contrapelo?
Sim, também ele sabia dos descrentes. Mas, e daí? se perguntava ele, pois, o que estava em falta – era isto o que ele sentia – era a magia das festas e o contágio da ternura entre os homens diante da fuga da esperança e a desapontadora solidão das crianças. Daí, o se pensar morrendo ao sentir escorregar de suas mãos, a magia de colorir e de alegrar o mundo.
Todavia, mesmo assim tão cansado e só, ele, em um derradeiro gesto, montou em seu trenó e, por dentre chaminés ou a se adentrar nas janelas das casas adormecidas na esperança de se encantar no encantamento do mundo. Mas antes, na derradeira esperança de não deixar órfãos crianças de quaisquer cor ou tamanho em qualquer lugar que fosse, se esgueirou por dentre as fechaduras das portas e pelas frechas dos telhados dos grandes magazines da cidade, e, expropriando delas todos os brinquedos que podia, se enveredou a colorir o mundo espalhando sopros e presentes de vida.
E então, e somente então, enlouquecido de alegria e de esperanças, de azul ele pintou as portas, e, de cor e de girassol as janelas das casas mais tristes, soprou de azul os telhados, nas ruas espalhou chocolates, pássaros e flores, e, adornado de luzes, acenou aos loucos e aos doentes, e ainda, cansado como só ele havia, encontrou forças para espalhar sonhos por debaixo das portas. E depois de estar exausto e não menos só, descosturou os rombos da noite, voltou ao sonho e se postou a dormir, quase anjo, na espera e desejo de acordar o mundo, e de nele, sentir por dentre o riso das crianças, a incompletude em busca de presenças, os rostos e os corpos na espera do amor, pois que, afinal, contra toda desesperança – pensou ele – era Natal e, ao descansar, veio-lhe uma certeza, – quase que um destino- , que justamente, ele nunca poderia morrer, pois afinal, e nisto ele se pensou: o que seriam do mundo se dele se evadissem os sonhos?