6 de outubro de 2021 9:42 por Braulio Leite Junior
O primeiro sistema de água potável em Maceió, como tudo mais, tem uma história. Conhecê-la é uma curiosidade que nos torna íntimos das condições de vida de um vilarejo que mais tarde seria a capital da província, dá-nos uma ideia do nível da salubridade da época, com profundos reflexos na existência comunitária.
Do engenho que lhe deu origem ao agrupamento humano que aqui foi se constituindo, a água que se bebia provinha de poços, barreiros e riachos, sem qualquer tratamento especifico. No começo do século XVIII, quando Maceió já despontava em desenvolvimento, o processo de abastecimento da vila ainda era o mesmo, sendo aquele liquido colhido, de cacimbas e poços, ou trazido em ancoretas dos arredores do canal da Ponta Grossa, dos rios Bebedouro e Fernão Velho.
A primeira reação no sentido de mudar esse quadro partiu do Conselheiro Lisboa, que a 20 de outubro de 1826, em sessão do Conselho de Governo, propôs a construção de um sistema de encanamento que, captando as águas do riacho Bebedouro, poderia abastecer satisfatoriamente Maceió, já a essa época em plena efervescência política e franco desenvolvimento.
Todavia, dessa proposta inicial até a efetiva construção da obra haveria de ser passados muitos anos. A Assembleia Legislativa Provincial somente a autorizou em 1845, através da Lei n° 34 de 12 de dezembro. O tempo se passava e a obra não iniciava por falta de recursos. Em 1849, nova Lei, de n° 125 de 16 de maio, referendava a anterior, sem nenhum resultado concreto.
Nove anos depois, precisamente a 30 de abril de 1858, a Lei n° 335 revalidou o assunto.
A 22 de junho de 1859, a Lei n° 347 autorizou a presidência a contrair um empréstimo de 200:0005000rs. O inicio das obras não seria agora.
A Lei n° 393 de novembro de 1863 finalmente determinava que a presidência da província realizasse um depósito de 50:000$000rs no Banco do Brasil com o objetivo de servir de base financeira para a criação de uma empresa que se encarregaria da execução dos trabalhos.
Era presidente da província de Alagoas o Dr. Agostinho Luís da Gama quando chega a Maceió, proveniente do Rio de Janeiro, em 1859, o engenheiro Conrado, responsável pelo levantamento do projeto, porém, a contratação só foi efetivada em 1863, na presidência do Dr. João Marcelino de Souza Gonzaga, por intermédio de novo contrato firmado com o engenheiro Carneiro Monteiro, que encarregou ao engenheiro Wilmen as obras físicas do empreendimento.
Após serem gastos mais de 300:000$000rs, extrapolando as previsões em muito, ainda estava a se exigir uma suplementação de verba da ordem de 120:000$000rs. Ao ser concluído, o sistema apresentou-se falho. O terreno onde se achava o açude era péssimo e alterava a qualidade da água. O engenheiro Wilmen propõe o emprego de filtros; outros, a feitura de novo açude.
Ao assumir a presidência, José Bento Figueiredo Júnior dá prosseguimento à obra, já agora irreversível. Ao deixar o governo, em 1869, Maceió possuía água encanada e uma dívida, dela decorrente, de 27:000$000rs.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.