8 de outubro de 2021 6:44 por Mácleim Carneiro
Houve um tempo, no qual eu praticava minha corridinha diária no que talvez tenha sido uma pista de atletismo do Cepa. Assim, apesar de não ser atleta, me arriscava diariamente a uma contusão, pela quantidade de buracos que pareciam competir com o mato e os carrapichos, que avançavam e estreitavam a tal pista, denunciando o descaso. E, pasmem, o campeão paraolímpico Yohansson também treinava lá. Pois bem, além do descaso com o patrimônio público, o que chocava mesmo era a irresponsabilidade cometida contra crianças e jovens humildes, que poderiam encontrar na prática esportiva um escape, uma válvula de saída, um presente-seta para o futuro, capaz de torná-los cidadãos de cabeça erguida. Contudo, será que existe o interesse em construirmos um Estado, um país de cidadãos de cabeça erguida? Não é o que parece ser!
Lembro-me que, à época, me permiti usar da minha parca parcela sociológica de ocasião, tão em voga nos veículos de comunicação. Para tanto, bastava dar uma olhada na tal pista de atletismo do Cepa e seu entorno. Olhava para a pista esburacada, com os jovens descalços e desnutridos, treinando num esforço inglório, literalmente, correndo mais riscos do que eu que, ao menos, tinha um plano de saúde. Olhava e tentava entender qual a lógica daquela realidade.
A comparação, a partir de uma simples observação mais atenta, tornava-se inevitável ao entendimento da lógica dos governantes, que desnivelam o que deveria ser preponderantemente nivelado. Olhava para a pista do Cepa e via os jovens que a utilizavam. A ruína e a precariedade da pista não combinavam com o frescor, vontade e determinação dos jovens. Sobretudo, se um é meio e o outro fim. Por isso, retrocedemos e fracassamos como país!
Desabafo
Era a época das olimpíadas de Londres. Se me fosse pedido fazer um resumo sobre o Brasil, naquela Olimpíada, ou melhor, o desempenho dos atletas brasileiros nos jogos, eu diria que foi isso: a pista de atletismo esburacada e a piscina vazia do Cepa; a falta de investimentos na base da formação intelectual e desportiva das nossas crianças; o Diego Hypólito caindo de bunda no tablado; a premonição do compositor Assis Valente, lá nos anos 40, com a canção Brasil Pandeiro; a essência positivista, todos por um, de alguns esportes coletivos; a real impossibilidade de medalha da maioria dos atletas, que não tiveram e não têm a sorte de nascer em berço confortável e carregam a cruz da irresponsabilidade estrutural do poder público, tornando-os reféns das políticas desonestas, para os setores básicos da cidadania; o choro {por que será que os atletas brasileiros choram tanto?} no desabafo do judoca negro, que, naquelas Olimpíadas, sem patrocínio sequer para ter uma academia onde treinar, pedia desculpas ao país por só ter conseguido um quarto lugar, quando o país é que deveria pedir desculpas e perdão a ele.
Acho melhor não tecer mais qualquer comentário, até porque não sou sociólogo de ocasião e é triste lembrar que, à época, tive que admitir o comentário de um reacionário calhorda, Diogo Mainardi, quando escreveu: “Os meus atletas preferidos são os que chegam desacreditados aos jogos e, confirmando todos os prognósticos, perdem logo de cara”. Tal afirmativa sempre fará sentido enquanto não mudar esse eterno faz de conta brasileiro, esse engodo nacional. Pelo menos, esses atletas não servem à hipocrisia e dividendos políticos.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!