20 de outubro de 2021 10:58 por Braulio Leite Junior
No estudo que Ernani Mero escreveu sobre a Igreja do Rosário dos Pretos, editado pela Funted, na serie Maceió- História – Costumes, sob número FF-22, consta que “no local da atual Igreja do Rosário, na rua João Pessoa, no inicio do século XIX, existiu, com certeza, um cruzeiro”… Pois bem, há muitas fotos que estampam o símbolo antigo daquele templo, lá está bem visível o cruzeiro.
O casario da primitiva Rua do Açougue é nitidamente colonial, o leito da rua e o próprio templo oferecem aspectos contrastantes com a fachada atual. Tanto na torre do sino como na outra, inconclusa, foram abertos óculos, inexistentes na foto ora publicada; na torre quadrangular aparece um janelão, hoje fechado; o próprio rendilhado da cúpula encimada pelo galo sofreu modificações e as varandas de ferro das janelas, hoje cinco, eram apenas quatro. Construída por homens de cor, libertos e escravos, a igreja fora a principio pequeno nicho.
A História refere que o seu consistório foi designado para a primeira reunião da Assembleia Legislativa Provincial, em 1840, quando da transferência da capital da velha Alagoas, à margem da Lagoa Manguaba, para Maceió, mas os seus membros se recusaram a reunir-se no local designado pelo Visconde de Sinimbu. Templo do século XIX, obedece a uma linha neoclássica. Notemos, no entanto, o seu frontão, que deveria ser triangular, mas foi desenhado em curvas barrocas, e a janela, na foto antiga, lembra um nicho, fechado atrás, quando atualmente e aberto.
Na pesada torre, e cobertura bulbosa, alunos de Educação Artística do Prof. Ernani Mero, no Cesmac, fizeram uma descoberta curiosa: o que se pensava ser decoração na base de azulejo não passava de engenhosa aplicação, por parte dos escravos, de simples cacos de pratos de cor azul. Adianta o pesquisador penedense: “Isto prova a pobreza dos cativos na construção do templo e, ao mesmo tempo, o valor de nossos artesãos negros.”
Ao longo dos anos, o templo da antiga Rua do Sol tem sofrido desgastes e destruições, tudo indicando, por exemplo, que o seu primitivo altar-mor foi demolido. Permanece, contudo, invicto, lá no alto, talvez pela sua invejável posição inalcançável, o galo da torre, símbolo cristão da vigilância, já aparecendo nas catacumbas romanas com a inscrição latina “Vigilate” (Vigiai). O galo começou a aparecer nas torres das igrejas no decurso do século XII.
Segundo as pessoas mais antigas de Maceió, há uma lenda em torno do galo da Igreja do Rosário. Quando ele se volta para determinada parte da cidade, indica quase sempre acontecimentos funestos que poderão resultar em mortes ou simplesmente num número mais acrescido de óbitos. Os fiéis, porém, encontram, a qualquer momento, lá dentro, a doçura da bela imagem de Nossa Senhora do Rosário, revestida de precioso estofamento de ouro.