26 de outubro de 2021 2:08 por Braulio Leite Junior
Paira uma dúvida quanto à data do lançamento da pedra fundamental da Catedral de Maceió. Informa o monsenhor Cícero de Vasconcelos, em seu volume Sobre a Historia da Catedral de Maceió, que esse lançamento teria ocorrido precisamente às 4 horas da tarde do dia 22 de julho de 1840. Posteriormente (o livro do monsenhor Cicero e de 1962), uma Comissão designada pelo Secretário da Educação e Cultura, José de Melo Gomes, em fevereiro de 1970, com a finalidade de proceder ao levantamento do patrimônio histórico e artístico de Alagoas, deu, em seu relatório, ter sido esse lançamento no dia 22 de novembro daquele mesmo ano de 1840. Afinal, julho ou novembro? Em que fontes se abeberaram os dois informantes – o padre e a comissão?
O fato é que muita gente supõe seja a Catedral de Nossa Senhora dos Prazeres o templo mais antigo de Maceió pela circunstância de ter sido erigida no local mesmo onde nasceu a cidade, o engenho Maçaió, palavra de origem indígena que quer dizer “terra alagada”, aplicação correta dos índios à antiquíssima foz do rio Mundaú, lentamente fechada, ao correr dos séculos, pelas terras de aluvião, formando-se em consequência a lagoa, de água salobra, e restando ao rio apenas o canal do Calunga como via de saída para o oceano.
A lógica teria sido fazermos uma cidade no altiplano, onde o clima é melhor e se está a salvo de prováveis futuras incursões marinhas como já vem sendo observado em outros pontos do litoral brasileiro. No entanto, o engenho Maçaió foi, de fato, alevantado numa espécie de segundo patamar elevado de vários metros sobre a planura das praias.
Não se sabe até hoje o que primeiro nasceu: se a primitiva capela de São Gonçalo do Amarante ou se o engenho. É provável, e até lógico, tenha sido o proprietário do engenho o construtor da capelinha, no sagrado afã de “atrair para a exploração agrícola e econômica que então se esboçava, as bençãos do Céu”, como se expressa o erudito monsenhor Cícero. Outra hipótese é a da ermida ter suscitado a fundação do engenho. “Acredita-se- escreve ele “que algum morador de Santa Luzia do Norte se tenha transportado para o terreno que emergia do lamaçal ao pé do Jacutinga e aqui tenha construído a sua casa, o seu engenho, a sua capela”. Só não acreditamos naquele lamaçal, o que teria afugentado qualquer cristão, tanto mais que sempre esteve em nossa índole mais buscar os morros que as terras muito baixas.
Basta olhar a posição ainda hoje da Praça da Catedral, a cavaleiro de toda a planície, desde a Rua da Verdura, para não conseguirmos imaginar ali um lamaçal, exceto quando chove, com os esgotos entupidos. Mas o tema é fascinante – basta que se saiba que estamos discreteando a respeito do que foi a célula-mater da nossa Maceió. Teremos de ver, ainda, que, mesmo após a demolição da capelinha de São Gonçalo do Amarante, que abdicou assim de sua condição de padroeiro da vila, o templo mais antigo de Maceió não é a Catedral de N. S. dos Prazeres, a padroeira da urbe. Outro valor mais velho se alevanta…
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.