26 de outubro de 2021 1:35 por Edson Bezerra
Para o meu inesquecível amigo Vavá, o Joseval Fragoso
Hoje eu pensei em escrever um poema, crônica ou qualquer escrito que fosse capaz de caber a vida que havia ali, na Praça dos Martírios, e, quando pensei no escrito, fiquei a duvidar de dentro dele me seria possível conter no escrito, tudo que estava a pensar, pois que nele, não deveria faltar nada.
Nele não deveriam faltar nem os vivos e nem os mortos, nem os vencidos e nem os vencedores, e nem, os alegres e os tristes e foi então que, senti saudade, e dela, deslizaram todos os rostos de mim bem perto, como se, ao olhar os olhos de cada um – uns longe – eu, como que pudesse como que sentir as alegrias, os medos, as solidões e, ainda, também sentir o pulsar do que poderia haver de mais torpe e santo em cada um, foi que, tal como se podendo ser eu, um garimpeiro, me pus peneirar o que havia de melhor em cada um deles.
Silêncio! Em me se apossou um rumoroso silêncio.
Lembrei que, ali por perto havia um mar e um caís, um mar azul e imenso onde meninos ousados nadavam até ele e brincavam por dentre os navios, e que, naquelas praias também jogavam os meninos, as peladas e vivenciavam além, outras ousadias, e, foi por estas dentre outras ousadias que, alguns se tornaram médicos, outros engenheiros, uns poucos, empresários, outros – a maioria – homens comuns e eram todos, ou quase todos, filhos de pais e mães pobres, quase todos mestiços e, invariavelmente alegres no compartilhar a vida naquele centenário espaço vivenciado por tantos esquecidos.
Todavia, me recordo ainda que por dentre as idas ao mar, um pouco antes, havia as brincadeiras de tropas, de pega-pega, de garrafão, de esconde-esconde e existia também o campinho na Cambona, e ainda um outro dentro de uma escola e neste, campeonatos de jogos de bola. Também havia a coisa dos roubos de mangas, das peripécias por dentre os mangues aos arredores das lagoas, da brincadeira de matar passarinhos, das festas e das missas na Igreja dos Martírios e, no avançar das temporalidades, a descoberta dos bares e da boemia, e, por ai se infiltrando, os prazeres do sexo, e, por dentre a minha trajetória de menino que jogava bola e se articularia nas vivências por dentre as peladas e os jogos do Cambonennse, no avançar da finitude, eu fico aqui a me lembrar – sem citar nomes – do que eu posso.
Talvez, – me ponho aqui a pensar – ao não citar nomes, o motivo talvez seja, o de não poder engendrar aqui por dentre estas letras, os dribles endiabrados de um deles, o Vavá, pois – há de se admitir – que eles, os dribles e ele mesmo, o Vavá, não caberiam aqui, visto que, Vavá – pelo menos para mim – esta vivo e a pulsar em minhas memórias o seu misto, composto de sonhos e da grandeza de ter sido sempre, ele, ao lado de tantos outros, um caminhante por dentre as tragédias, encantos e sonhos, e no frigir dos ovos, assim como todos nós, mais um maloqueiro alegre da Praça dos Martírios, ali, um recanto de sonhos, que fez brotar em nós, um pouco dos homens que todos somos.