quinta-feira 31 de outubro de 2024

Pluralidade singular

6 de novembro de 2021 5:00 por Mácleim Carneiro

Recentemente, assisti à uma live onde o mestre Antonio Adolfo foi entrevistado por jovens e, em alguns momentos, outros jovens convidados do mediador interpretaram canções do entrevistado. Não que eu tenha me surpreendido, mas foi curioso ver jovens tão bem-informados sobre o trabalho e a trajetória do grande Antonio Adolfo. De maneira geral, demonstraram embasamento sobre a música brasileira e seus grandes ícones. Ficou evidente que Antonio Adolfo era um desses ícones e ídolo para aqueles jovens. Claro, a interação do mestre com a rapaziada foi perfeita!

Apropriei-me desse fato, como preâmbulo, apenas para ratificar a jovialidade e frescor que Antonio Adolfo nos apresenta em seu mais recente álbum, ‘Jobim Forever’, lançado nas plataformas digitais e, sobretudo, no mercado americano, onde é possível encontrar a versão física, em CD. Aliás, Jobim Forever está concorrendo ao Grammy Latino, indicado em cinco categorias, entre elas a de melhor álbum de Jazz Latino. Além disso, nos últimos anos, Antonio Adolfo tem sido pródigo e generoso para com a humanidade, lançando um novo álbum a cada ano, desde 2013. Sempre com a qualidade, esmero e viço impressionantes, que caracterizam o trabalho do consagrado músico brasileiro, autor de Sá Marina, Teletema e tantos outros sucessos. Certamente, o êxito em cada lançamento lhe é facultado pelo talento e pela experiência adquirida ao longo de sua impressionante trajetória fonográfica. Afinal, desde o seu primeiro álbum, Antonio Adolfo & A Brazuca, de 1969, até ao atual Jobim Forever, são cerca de 35 títulos, sem contar os singles, EPs e compilações.

Dessa vez, em Jobim Forever, como o próprio nome sugere, Antonio Adolfo presta homenagem à obra do magnífico Antonio Brasileiro, o que já é sugerido a partir da capa genial, em letras garrafais, num superlativo que abrange os dois grandes Antonios. Internamente, como fantástico conteúdo, encontraremos nove músicas de Antonio Carlos Jobim, a maioria composta nos anos 1960. “O impacto da novidade foi na década de 1960. Quando eu era adolescente, comecei a aprender piano e me tornei profissional, embevecido por aquela atmosfera musical mágica do Rio de Janeiro da época, onde a qualidade e quantidade das músicas de Jobim reinaram. Musicalmente, aqueles anos impactaram muito! Quando fui ver, já estava fechando o repertório com predominância nos anos 1960. E fechei com essa ideia toda do momento mágico musical e a qualidade da obra, que também impactou o Brasil e o mundo.” Assim definiu Antonio Adolfo o fato de, com exceção de Estrada do Sol e A Felicidade, as demais músicas serem colhidas nos anos 1960.

The Girl From Ipanema (Jobim e Vinicius, 1962) abre o álbum com a suavidade e malemolência das sinuosidades femininas, delicadamente flutuando sobre as ondas de Burle Marx, num eterno desfile pelas calçadas de Ipanema, ora atraída pelo sax tenor de Marcelo Martins, ora pelo piano de Antonio Adolfo. Wave (Tom Jobim, 1967) dá sequência a mesma pegada do arranjo de Garota de Ipanema, só que pontuada pelos solos de Lula Galvão (guitarra) e o trombone de Rafael Rocha, arrematados pelo piano do mestre, até chegar ao grand finale, Sozinho! Na sequência, A Felicidade (Jobim e Vinicius, 1959), de cara, traz uma novidade: Zé Renato à capela, com os versos “Tristeza não tem fim / Felicidade sim”, como introdução, retornando num segundo momento, numa brincadeira de pergunta e resposta com o piano, após o belo improviso de Jesse Sadoc (trompete), que passa a bola para Antonio Adolfo, numa tabelinha perfeita, que antes passa por Jorge Helder (contrabaixo), que aplica uma pegada afrosamba em sua gravidade.

Delicadeza e Fragrância Musical
Toda delicadeza dos arranjos maravilhosos de Antonio Adolfo tem prosseguimento em Insensatez (Jobim e Vinicius, 1961), onde o trompete do Sadoc e a flauta de Marcelo Martins se irmanam, reforçando toda a atmosfera dessa bossa, que nos conduz ao sublime. Favela – O Morro Não Tem Vez – (Jobim e Vinicius, 1963), eleva um tantinho a atmosfera em sua síncope, mas o clima continua altamente agradável e favorável ao encantamento, que vai nos envolvendo pelos flancos do arrebatamento musical, proposto por Antonio Adolfo. Sempre com alguma novidade de arranjo, como os fraseados, por exemplo. E, assim, suavemente, como em Inútil Paisagem (Jobim e Aloysio de Oliveira, 1963), nem nos damos conta de que já estamos além da metade do álbum, tal é a fragrância musical que nos envolve e nos conduz a algum tipo de plenitude e satisfação incondicional à fruição desse trabalho.

Água de Beber (Jobim e Vinicius de, 1961) ganha mais originalidade, sobretudo, se compararmos aos tantos outros arranjos tradicionais, já desgastados ou repetitivos, para esse clássico. Amparo (Jobim,1969), prepara o ouvinte ao inexorável final do álbum, com uma tocante introdução em piano solo, emocionante e carregada de melancolia, na citação de Por Toda a Minha Vida, (Jobim e Vinicius, 1959). Ao mesmo tempo, traz de algum lugar, onde habita a emoção, uma beleza que nos eleva a um patamar de nuvens, confortáveis nuvens de um território imaginário às admiráveis canções. Aqui, Antonio Adolfo nos garante a poderosa possibilidade dessa viagem.

Para finalizar, Estrada do Sol (Jobim e Dolores Duran, 1958) está para o álbum assim como a cena final de Tempos Modernos, do Chaplin, onde ele caminha com Paulette Goddard, no The End, por uma estrada ao amanhecer, em direção a um futuro incerto e esperançoso. Aqui, pela estrada Jobim Forever, chega-se ao lugar onde as coisas belas, doces e suaves existem e aguardam o andarilho fruidor. O magistral solo de Lula Galvão, bem como o não menos empolgante solo de piano do mestre, calçado pelo conforto do naipe de metais, parecem dizer que Antonio Adolfo propõe encerrar esse belíssimo trabalho, trilhando uma estrada que nos direciona à aura de genialidade das canções jobinianas, porém, lapidadas pelos arranjos e performances dos que sentem absoluta afinidade com o compositor e sua obra.

SERVIÇO
Jobim Forever, Antonio Adolfo
Plataformas digitais: Spotify, Apple Music, Youtube Music, Deezer, iTunes,Napster…
Plataforma física: Em CD, pelo link httpps://www.amazon.com/Jobim-Forever
Preço: $ 14,64

No + MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!

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