10 de novembro de 2021 8:04 por Braulio Leite Junior
Na evocação que fizemos do nosso antigo porto, com os seus trapiches, em capitulo anterior, faltou-nos relembrar o derradeiro dos quatro trapiches que tínhamos em Jaraguá e com certeza o mais bem construído. No começo do século pertencia ao coronel Carlos Lyra, proprietário da Usina Serra Grande, que o comprou, em 1913, por 372 contos de réis aos irmãos Luiz e Manoel de Vasconcelos. Com o dinheiro da transação, ambos adquiriram a fábrica de tecidos Santa Margarida, que ficava lá mesmo em Jaraguá, na rua Sá de Albuquerque, esquina com a rua Mato Grosso.
Dividido em cinco extensos compartimentos, possuía três pontes de mar a dentro, de madeira e alvenaria, e tinha dois grandes reservatórios com capacidade total para 400 mil litros d’água. Anunciava-se que ele oferecia garantia aos seus depósitos em caso de incêndio, pois se achava equipado c com trinta registros especiais com encanamentos de três polegadas. Havia um primeiro andar reservado à guarda de algodão, onde também ficava, em compartimento especial com bastante ventilação natural e instalações sanitárias, o escritório da firma chefiada pelo Dr. Levino Madeira. O local que ocupava era privilegiado, no nº 12 da rua Sá de Albuquerque, perto da Alfândega, da Recebedoria Central e dos bancos. Seu endereço telegráfico era Carlyra.
Uma pausa para uma breve recordação que nos ocorre. O falecido professor J. Silveira Camerino, mestre de várias gerações, costumava contar aos seus alunos os banhos de mar que gostavam de tomar, ele e outros garotos do seu tempo, saltando de mergulho das pontes dos trapiches. Um dia, a maré estava seca e felizmente saltou ele de pé, caindo na areia encoberta pela pouca água como uma estaca rígida, sentindo terrível concussão no crânio! Outro ponto pitoresco a a recordar é aquele referido pelo historiador Félix Lima Júnior em seu livro Maceió de Outrora: “debaixo das pontes estivadores e trapicheiros colocavam, em certo pontos latas vazias de querosene ou de banha, para aparar o melaço que escorria. Eles o vendiam a donos de carroças e de vacarias que preparavam ótima garapa para os animais “.
No interessante estudo que compulsamos de Maria José Menezes e Luiz Araújo, editado pela Funted na série “Maceió-Historia-Costumes”, sob o número FP-32, encontramos com a grafia inexata o nome do antigo armazém Pohlman, da firma alemã Pohlman & Cia que datava de 1902 e foi vendido à firma Maia Gomes & Cia, em 1917, quando o Brasil entrou na guerra. Lá está, com efeito, escrito Pullman, que se confunde com o nome do industrial norte-americano George Mortimer Pullman, nascido em Brocton, Nova Iorque, em 1831 e falecido em Chicago, em 1897. Cerca de 1860, Pullman imaginou construir vagões-camas ou vagões-salões, o que veio a patentear em 1864, tendo fundado em 1867 a Companhia dos Vagões-Palácios. Em 1880 fundou próximo de Chicago uma vila à qual deu seu nome e ficou sendo habitada por operários de sua empresa, a exemplo do que sucedeu conosco, por exemplo, em Fernão Velho. A antiga Great Western chegou a possuir carros Pullman, tipo vagões-salões, para viajantes de categoria, sendo Pullman braquilogia do inglês “pullman-car”. O Aurélio não registra o vocábulo, que aparece, no entanto, no Caldas Aulete e no Vocabulário Ortográfico, da Brasileira de Letras.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.
