25 de novembro de 2021 1:36 por Marcos Berillo
(*) Pe. Gilvan Gomes das Neves é Mestre e doutor em Ciências da Religião pela UNICAP. E-mail: Gilvan.neves@uol.com.br
No dia 08 de dezembro a Igreja celebra a festa da Imaculada Conceição, cuja iconografia costuma ser representada de pé sobre o globo terrestre, de mãos postas em oração, pisando em serpente ou dragão. Com vestido branco e manto azul, cabelos compridos, apoia-se numa lua crescente, provável alusão ao verso (do seu Officium Parvum² ): “bela como a lua” (Ct 6,10). Geralmente, vem acompanhada de anjinhos. A celebração do dia 08 de dezembro foi registrada na Inglaterra no século XI.² Pouco a pouco, surgiu a convicção de que Maria – a nova Eva que esmagará a serpente do paraíso – foi concebida sem pecado, mais tarde chamada a “Imaculada Conceição” de Maria.
Mas, a proclamação do dogma só se deu em 08 de dezembro de 1854, e foi definido pelo Papa Pio IX:
“É artigo de fé que a bem-aventurada Virgem Maria, por graça especial e privilégio de Deus, em virtude dos méritos de Jesus Cristo Redentor do gênero humano foi desde o primeiro instante da sua Conceição, isenta e preservada de qualquer culpa da mancha original”( Pio IX, Ineffabilis Deus).
Mas, há registros na história que Dom João IV, numa provisão de 25 de março de 1646, declarou:
Estando ora junto em Côrtes com os Três Estados do Reino, lhes fiz propor a obrigação que tínhamos de renovar e continuar esta promessa, e venerar com muito particular afecto e solenidade a Festa de sua Imaculada Conceição e nelas, com parecer de todos, assentamos de tomar por Padroeira de Nossos Reinos e Senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição.³
A Imaculada Conceição foi protetora do Brasil ao longo do período colonial, proclamada padroeira do Império por D. Pedro I. Sua devoção está inserida ao grupo dos santos guerreiros, pois já existia uma Igreja na Rua Nova, em Recife-PE, datada a sua construção em 1757, de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, com pinturas da batalha de Guararapes (1654).
O costume de se colocar uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição ao pé dos Crucifixos já existia no século XVIII.4 Na guerra do Paraguai (1865-1870), cantava-se um hino próprio da Virgem da Conceição.
Segundo poeta Manoel Caboclo e Silva5 em: “O sermão de meu Padrinho no Ano de 32, “o padre Cícero pregava: E não custa muito tempo / pôr termo a nossa vida/ tomemos por proteção / a Maria Concebida / sem a bênção de Jesus /não somos nada na vida.
Há muitas rezas, orações e benditos à Virgem da Conceição, entre os quais destacam-se: Levantei de Madrugada e também Bendita e Louvada seja / senhora da Conceição / abasta o nome dela / para nos dar consolação. Muitos sabem de cor todo o Ofício de Nossa Senhora da Conceição.
Padroeira de numerosa de Igrejas no Brasil, sendo uma das mais antigas (1593) em Angra dos Reis – RJ e outra (1699) em Intahaém – SP; também no século XVII, Nossa Senhora da Conceição de Cambôa- BA e Conceição das Donzelas de Olinda. No início do século XVII, a capitania de Itamaracá-PE contava apenas com 30 moradores brancos, dez engenhos de açúcar e algumas fazendas. Mas, já era a “Freguesia da Conceição da Ilha de Itamaracá-PE”, isto é vila e paróquia 6 .
Em Marechal Deodoro – AL, a Igreja é de 1633, onde até hoje a Conceição de Maria é festejada com novena, procissão, quebra-pote, pastoril e guerreiro. Os pescadores fazem a Maré da padroeira oferecendo peixes e frutos do mar carregados festivamente numa pequena barca até o interior da Igreja, onde é abençoada pelo celebrante da festa e depois são vendidos em benefício da paróquia .
[1] Pequeno Ofício da Virgem Maria ou o Ofício da Imaculada Conceição.
[2]LIGTENBERG, R. et al. Coletânea Franciscana Holandesa. 1927, p. 21.
[3] Apud: REIS, Jacinto dos. Invocações de Nossa Senhora em Portugal d’Aquém e d’Além-mar e seu padroado. Lisboa: União Gráfica, 1967, p. 167.
[4] ETZEL, Eduardo. Arte Sacra popular brasileira: conceito, exemplo, evolução. São Paulo: Melhoramentos, 1975, p. 85.
[5] Manoel Caboclo e Silva, nasceu no dia 2 de janeiro de 1926, em Juazeiro do Norte, poeta, cordelista, artista, escreveu mais de 50 obras em cordel.
[6] RUBERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. Santa Maria: Palotti, 1981/1983, v.2, p. 90
REFERÊNCIAS:
ETZEL, Eduardo. Arte Sacra popular brasileira: conceito, exemplo, evolução. São Paulo: Melhoramentos, 1975.
LIGTENBERG, R. et al. Coletânea Franciscana Holandesa. 1927.
REIS, Jacinto dos. Invocações de Nossa Senhora em Portugal d’Aquém e d’Além-mar e seu padroado. Lisboa: União Gráfica, 1967.
ROCHA, José Maria Tenório. Folclore brasileiro: Alagoas. RJ: Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, 1977.
RUBERT, Arlindo. A Igreja no Brasil. Santa Maria: Palotti, 1981/1983, v.2, p. 90.