quinta-feira 18 de abril de 2024

O Ser poeta

Brinca com a natureza tornando-a mais doce ainda. Imanta-se com o belo e dele vive.

20 de dezembro de 2021 9:33 por Braulio Leite Junior

 

O poeta e por natureza um ser divino, queira ou não os prosadores sem poesia, que desautorizados a viverem sem o “Eu “ poético, se é que isso lhes é possível fazer, mesmo assim o fazem. Brinca com a natureza tornando-a mais doce ainda. Imanta-se com o belo e dele vive. É de sua observação estritamente particular, reservada, maculada por todos os seus” eus”, que faz seus versos. Nada sai somente de sus alma, mas de todas as outras que de uma forma ou de outra pode ver ou, delas, ouviu falar, porém sentindo-as todos…

Sua vida é uma poesia, seus gestos são bem representativos dos momentos que vive, transcendem aos seus próprios sonhos e enchem os ares de eternidade, por que vindo de um ser sacrossanto como ele, jamais poderiam findar-se em nada.

Constrói em versos o que fica bem maior que ele Criador e criatura podem se distanciar tanto e o poeta admirar como de outros, seus próprios versos. São mágicos, seus frutos, e voam com as asas da genialidade que os deuses o emprestaram um dia.

Põe o tempo no bolso e dá existência ao que nunca existiu. Cria o inimaginável, o indestrutível, esfola conceitos, cria palavras, devora tudo como se esperasse uma perfeita digestão dos seus atos cotidiano. É sem sombra de dúvidas um ser singular. Fácil e difícil enquanto anjo. É bálsamo de eterno gozo que navega como eterno marinheiro em pleno mar de estrelas.

Põe seus versos materializados sobre a távola onírica, às vezes se apercebe do que houvera feito de tão grandioso e na maioria das vezes, não . A recompensa pela gênese dos seus versos saem dos próprios sons que ele têm. A melodia conserva sua alma presenteando-o com a mágica sensação que o estranhamento entre suas frases fazem. É ser programado para encontrar a dor e a alegria entre as outras criaturas. Sua alma desmancha-se numa representação figurativa, vivendo nas entranhas do que escreve. Não pode vestir-se nunca. É ser desnudo e esfomeado. Tudo come, remói, digere, para vomitar o perfume de poesia que lhe chega esfuziante, bela e propriamente sua.

O poeta beija as flores no mesmo jardim por onde anda os colibris mas supera-o no beijar, porque retira delas o além da flor, o transcendental sabor das almas flóreas. Apesar de não ter as asas daquele pássaro pode alçar vôos inimagináveis por aquele.

É fácil se pensar porque o poeta não pisa ao chão como os desiguais mortais: vive do pensamento elaborando os versos que saem de evocação do esplêndido e do maravilhoso, adormece com o que faz ao pensar além do pensamento, transcende às suas próprias verdades e encontra-se muitas vezes bem maior do que é o próprio. Dentro do poeta parece viver dois seres ele e o outro transformado à partir de sua magna essência. Ser poeta é ser diferente, sim. Viver muito além das simples expectativas, cativar as emoções tão fortemente que se permitir viver com mil e duas vidas . Há uma candura no pensamento do poeta, mesmo quando ele constrói os versos satânico. É nesse exato momento quando quer emprestar ao mal tudo o que há de bom e belo dentro do seu ser. A força dos seus sentimentos revoltos no peito e na alma, fazem-no um fraco também e assim passa a escrever sobre a fragilidade do seu viver comum, muito embora viva na fortidão de seu “ser poético”.

Não basta ao poeta iludir-se enquanto criador dos seus versos. Sabe que os tens emprestados dos deuses que passam a morar dentro do cerne de sua alma. Mas, às vezes, esse saprofitismo confere aos dois, Deus e poeta, uma única forma de existir e é quando enxergamos no ser de carne que abriga o poeta, seu endeusamento, sua genialidade e a força de todo seu verdadeiro amor.

E ser distraído do formalismo mundano. Apercebido do impróprio, que mesmo buscando-o tão pouco, dele vale-se para sua adaptação ao mundo. Fere-se a si mesmo sobre suas mais dolorosas chagas e delas que saem seus mais puros e alegres versos.

Acha sem buscar o que tantos outros seres sequer veem longe em suas procuras. A intuição desce de sua alma sem freios. Não cabe-lhe contê-la. Ela é talvez um dos deuses que mora alegremente em seu peito e dorme lado a lado com o ritmo de seus versos.

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O poeta, esse valioso e descuidado ser que aprendeu a fabricar sonhos, acordado sente o delírio da convulsão da sua beleza profunda de ser inigualável. Jamais necessita juntar as pálpebras para dormir, nem fisicamente. Vigia sonhando para sonhar na vigília, mesmo que isso lhe custe a desconfiguração social ao ser taxado como um eterno sonhador, esquecido do formalismo das ideias e das condutas que interessam, à prosa do viver moderno. É eterno boêmio que luta e deita por sobre suas grandes ilusões, pequeninos sonhos, perversas frustrações, doce imaginário, rebeldes modos, todos esses saídos da mesma porta do corpo, a boca, que pensa e que morde, que sopra e que dorme, que vive e nunca morre!

Conheço um bom punhado deles. Convivo com alguns e sei de muitos por suas obras lidas.

Uns são doces perversos, conseguem chorar rindo. Outros são exaltados enquanto loucos lúcidos mas não gostam de fazer versos. Conheço muitos inconstantes, não pisam o chão frio, vivem na quentura dos lábios alheios mas são gélidos. Há poetas convulsos que vivem na aquiescência de sua infinda reclusão: são os eternos insatisfeitos com o mundo onde vivem: querem-no diferente, acreditem.

Ah! mas há os eternos lambedores de sonhos, os poetas assexuados, os que gostam do Sol e da Lua, os que molham a chuva, os que sem saber ao menos o que seja a sede, bebem as águas. Os que manso, brigam tanto, na maioria das vezes escondendo a fragilidade de suas vidas.

Há os poetas que choram com as lágrimas alheias, os que nunca choram, os pervertidos que possuem tantas almas quanto assim as queira. E o pobre poeta, será que há? Sim! Sou um desses que sabidamente pobre soube se fazer na grandeza alheia emprestada. Visto-me dos poetas que conheço, mudo sempre meus jeitos novos que transponho deles, mas a poesia, está firmemente com a chave na mão e é graças a ela que permito que todos eles entrem em minha ‘alma, num forte inquilinato.

Gosto de cantar seus versos porque neles estou e é onde vivo! As cores estranhas ao sentido de visão não podem ser conhecidas fora da poesia. Cada poeta é um grande arco íris que invejavelmente brilha em seus particulares céus. Haja tinta, haja luz e haja olhos, só não é necessário o pincel porque o é a poesia, desdobrável porém infinda enquanto beleza e gozo eternos só para os que verdadeiramente conhecem a essência da vida que enfeita um grande poema de amor.

O que eu acho maravilhoso é que todos eles são poetas, grandes poetas e grandes poetas pequenos na dependência do que escrevem com o que acham seus corações enamorados pela vida. Há público para todos porque todos eles são estranhamente um só ser. As letras, seus primeiros passos materiais, adoçam e formam as palavras que, açucaradas e transcendendo à própria língua de onde vieram enchem os versos do poeta. Juntas ou distraidamente dispersas, constroem o poema. Este carece de uma alma, o poeta pressente e sopra-lhe ao fazê-lo. Agora é também poesia porque ganhou o ritmo da alma do poeta que melodicamente se apercebeu de tudo E por fim, admito que o poeta e o ser que consegue amar além da dor, aquém do sorriso, mas nunca sem observar-se a si mesmo para só depois se ver nas outras almas. O que o poeta não é, é o que ainda não o pode sê-lo. Extrai dos outros, o que de si está nele mesmo. Adoece sem fazer os versos, cansa estático na preguiça do que acha impublicável mas não cessa de arrepender-se de não ter sorrido diante da dor. Pode o impossível, ver o invisível, atinge o inatingível, tudo simplesmente. Suas formas, quaisquer delas, são desmontáveis, conversíveis, admiráveis, graças ao todo poderoso deus do abstrato, singular e doce demônio de sua divindade poética.

Eles são os homens almados que enchem o que ainda pode ser visto e descoberto Vilões são também os mocinhos dos corações alheios que preguiçosamente não quiseram andar nas outras ruas São o que são, são o que dão, moram onde moram, entre Deus e a vida, em todo alheio santuário que se permitir ser desvendado e lido por eles. Finalmente posso dizer que moram entre o céu e a terra, entre a Lua e o Sol, dormindo com o luar e acordando em toda aurora renovada de um simples dia que pode lhe ser infinitamente grande dentro dos seus versos. Poeta? E aquele serzinho ou sezão que sendo um bom palhaço, ainda não encontrou um só circo que o coubesse por inteiro: corpo e alma. É o poeta! Simples ser de imensas asas a viver entre os trapézios voantes das emoções e dos sonhos: uma bela mulher ou um lindo homem. Enfim, é um anjo muito iluminado capaz de admirar seres tão pequeninos como uma formiga ou um grandessíssimo gigante como outro poeta que ao espelho lhe ofusca com o encantamento das duas verdades feito gente e sábio enamorados pelas coisas simples e complexas do mundo onde habita e vive.

Braulio Leite Júnior, alagoano, filho de Anália Meyer Leite e Braulio Leite, graduado em Direito,Ciências Contábeis e jornalismo. Diretor do Teatro Deodoro e de Arena Sérgio Cardoso, criador e idealizador da Fundação Teatro Deodoro, do Centro de Belas Artes, Museu da Imagem e do Som de Alagoas, Orquestra Filarmônica de Alagoas, Casa de Marechal Deodoro e tantas outras criações. Escreveu em vários jornais da capital como convidado. Nasceu em 24 de dezembro de 1931, véspera do natal e faleceu no dia 27de fevereiro de 2013.

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