2 de janeiro de 2022 7:20 por Geraldo de Majella
A pandemia do coronavírus é uma tempestade que ainda não passou. As vacinas estão sendo aplicadas, vidas estão sendo salvas; milhões infelizmente feneceram no mundo todo. Eram pessoas que tinham o direito de viver felizes. A terceira dose é a certeza de que a possibilidade de se salvar é o caminho assegurado pela ciência.
Realizei de memória uma conta e me deparei com a soma de mais de 65 mortes pela Covid-19. Eram parentes, amigos, vizinhos com quem convivi em algum momento da vida; não eram pessoas que soube de suas mortes através dos noticiários. Essas marcas vão permanecer em nossas vidas, em nossas almas.
Ter sobrevivido até agora é motivo para comemorar, e a comemoração não pode ser com aglomeração. Esse dia chegará, mas só quando a humanidade estiver livre dessa peste é que faremos o nosso carnaval.
As dores físicas sentidas talvez sejam menos doloridas do que as dores da alma, pelas vidas perdidas e pelos que se salvaram, mas lhes restaram sequelas. Um (des)governante esquizofrênico zomba ao vivo de todos.
Em meio à tragédia posso me sentir um sortudo de não ter contraído essa moléstia e, hoje, dia 2 de janeiro, comemoro 61 anos de idade com saúde e serenidade. Mesmo em meio à tempestade a que o Brasil vem sendo submetido, tenho esperança de que este povo de tanto sofrimento, em outubro vire o jogo através do voto e derrote o genocida inquilino que usurpou a presidência da República.
Não tenho motivos para ficar triste, mas tenho forças para manter a chama acesa na defesa da democracia como um valor ‒ se desejarem, como uma alternativa universal. Fora dos marcos democráticos o que ronda as nossas cabeças e o céu da América Latina é o autoritarismo e a pilhagem de nossas riquezas.
O balanço que sempre realizo ao final de cada ano não é, nem poderia ser, relativo às conquistas materiais, mas o que me fez sentir bem comigo mesmo e em relação aos meus familiares e amigos. São os momentos de alegria e compartilhamento de emoções que mudam vidas de maneira sutil e que muitas vezes são imperceptíveis. Só tempos mais tarde entenderemos o quanto houve de mudança.
Tenho me voltado mais para observar esses aspectos da minha vida e das minhas relações com as pessoas mais próximas. Mantenho o senso de observação sobre elas não para criticá-las, mas como uma fonte de aprendizagem.
A pandemia em larga medida me fez pensar mais claramente nesse aspecto da vida. Saber que vivemos em comunidade no planeta é óbvio, mas quando todos os habitantes da Terra foram e ainda estão submetidos às regras sanitárias para sobreviver a uma doença, é nesse ponto crucial que a humanidade se sente quase impotente.
A outra tragédia em escala planetária é o aquecimento global. A destruição do planeta me parece ser uma política do capitalismo; não posso crer que seja dos “homens”, como muita gente fala sem imputar a destruição da natureza à predação desencadeada pelo modo capitalista de acumulação de riqueza.
Os sinais de alerta vêm sendo dados pelos ambientalistas, por povos indígenas ao redor da terra e por Chefes de Estado, religiosos, cientistas. A marcha da insensatez está em curso.
Aos 61 anos tenho o entendimento de que as combinações de lutas locais com as lutas globais se interligam e são essenciais para salvar o planeta. A luta de classes ‒ na qual fui forjado desde a minha juventude – faz parte da luta global, mas a luta pela preservação da natureza é também para ser incluída como parte da estratégia da luta contra o capitalismo.
É com essa compreensão que pretendo manter a vida em harmonia e em permanente luta pela transformação da sociedade onde for possível viver com justiça social, tendo a liberdade e o trabalho como bens essenciais de toda a sociedade.
Chico Buarque, num dos versos de “Quando o carnaval chegar”, diz: “quem me vê apanhando da vida/ Duvida que eu vá revidar./ Tou me guardando pra quando o carnaval chegar. // Eu vejo a barra do dia surgindo/ Pedindo pra gente cantar”.
É necessário cantar e lutar.
6 Comentários
Parabéns, Camarada Majella. Sábias reflexões. “Eu te desejo vida, longa vida” com sabedoria e coragem para enfrentar as pedras do caminho e para se alegrar esperançando sempre. Abraços ? ????
Camarada Majella, parabéns pelos seus 61 anos, que se repitam com toda essa sua lucidez.
Abraços de
Elieser Lyra .
Obrigado, Elieser. Feliz 2022.
Obrigado, Fátima. Feliz 2022
Saúde e paz, é o que desejo nesse ano que se inicia. Insistir na luta pelas transformações que a sociedade precisa, para vivermos mais e melhor. Essa deve ser a pauta diária.
Contra toda espécie de tirania, Fora Bolsonaro.
Valmir, muito obrigado.