3 de janeiro de 2022 8:18 por Braulio Leite Junior
Um flagrante do carnaval maceioense de 51 fevereiros atrás foi por nós identificada quanto à data após acurado exame quando descobrimos, ao pé das figuras retratadas, graças a um reflexo de claridade, à época discretamente datilografada, sem a fita: “Lembrança do carnaval de 1948”. Imediatamente recorremos aos nossos arquivos, precários, sem dúvida, já que é o Brasil um país notadamente sem memória e que só agora, felizmente, dela começa a cuidar, haja vista o trabalho paciente do nosso Museu da Imagem e do Som, quando dava os seus primeiros passos e formava o seu acervo.
Naquele 1948, o banho de mar a fantasia aconteceu no domingo, 1º de fevereiro, mas a foto, onde vemos ao fundo o popular “ficus-benjamin”, da família das moráceas, na realidade F. retusa, não situa os figurantes na praia, antes numa praça. Somente os que nela aparecem poderão dizer a data com certeza, talvez o domingo, 8 de fevereiro, que amanheceu chuvoso, por sinal.
Na Rua do Comércio, apareceram críticas: a do ioiô, um casal de falsos velhos, mordente reparo à Cia. Força e Luz, Tarzan e sua família e dois anjos a caminho do céu, um deles, Paulo Lobo. E aí tínhamos um provável casal de noivos, a clássica almofada aos pés, naturalmente para se ajoelharem, o noivo numa sebenta sobrecasaca, bengala, borzeguins, um pé de calça mais curto que o outro, luvas negras, cordão na lapela e óculos na ponta no nariz, além do chapéu; a noiva, mais alta, calça luvas brancas, tinha curto véu sobre a cabeça e usava longas meias brancas de algodão. Atrás sempre havia uma figura caótica, talvez o juiz, óculos escuros, cigarro na boca, meia cartola, colarinho alto; ao lado do noivo, um travesti, de pano à cabeça. Havia também a testemunha de sapatos brancos e chapeuzinho ridículo, copo na mão, sempre comemorando Momo, Juraci Alves e Paulo Peixoto eram figuras obrigatórias nas brincadeiras.
Carnaval de 1948! E as músicas mais tocadas? Quem se lembra ainda? Cadê Zazá? Ré Misteriosa, a Mulata é a tal. Recordemos que a banda de Coqueiro Seco foi uma das mais animadas naquele ano, tocando na Rua do Comércio, no Beco do Moeda um alto-falante estrondava sem parar, conduzindo todos à loucura do passo.
Dez anos depois, em 1958, depois de aparentemente morto há vários anos, repontava sacudido o Vou Botar Fora, sob a direção de Antônio Amâncio e Abel Ribeiro, fazendo ressoar pelas ruas de Maceió o seu hino, letra de Olavo de Campos e música de Américo Castro.
Viva a suprema alegria
Tristezas se vão embora
Quem não entrar na folia
Vou bota fora (Repete)
Recordemos os seus nomes mais expressivos: Passinha, Olímpio Passos (o marechal do 44), Arestides Carteiro, Zé Pio, Mário Cardoso, Abel Ribeiro, Edgar Ramos, Durval de Freitas, Pedro Soares e Fernando Lima. Naquele 1958 a rainha do carnaval foi Nilda Rosa Perrelli. E no domingo de carnaval morria no Rio o popular compositor Benedito Lacerda, nascido em Maceió a 14 de maio de 1915, autor de jardineira, Um a zero, Falta um zero na meu ordenado, Dinheiro não da No Pronto Socorro tudo calmo, nada a operar, apenas casos de rotina; não fez falta a única ambulância, apesar de haver sofrido espetacular capotagem na Praça dos Martírios.