quinta-feira 25 de abril de 2024

Morre o poeta Thiago de Mello

Seu poema mais famoso se chama "Os Estatutos do Homem (1977)"

14 de janeiro de 2022 4:58 por Da Redação

O poeta Thiago de Mello | Rodrigo Sombra/Divulgação

Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai chegar.

O poeta e diplomata amazonense Thiago de Mello morreu aos 95 anos, nesta sexta-feira (14). Faleceu em casa, em Manaus. A família ainda não divulgou a causa da morte. Amadeu Thiago de Mello nasceu em Porantim do Bom Socorro, município de Barreirinha (interior do Estado do Amazonas), no dia 30 de março de 1926 e é um poeta e tradutor brasileiro. É um dos poetas mais influentes e respeitados no país.

Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Seu poema mais conhecido é Os Estatutos do Homem (leia o poema abaixo), em que ele chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana.

Thiago é membro da Academia Amazonense de Letras e recebeu o destaque de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti, em 2018. O autor foi reconhecido pelo conjunto da obra, que é referência na literatura brasileira.

Primeiros Poemas

Em 1947, Thiago de Mello publicou seu primeiro volume de poemas, Coração da Terra. Em 1950, publicou seu poema Tenso Por Meus Olhos, na primeira página do suplemento literário do jornal Correio da Manhã. Em 1951, publicou Silêncio e Palavra, que foi muito bem acolhido pela crítica. Em seguida, lançou Narciso Cego (1952) e A Lenda da Rosa, em (1957).

Adido Cultural

Em 1957, Thiago de Mello foi convidado para dirigir o Departamento Cultural da Prefeitura do Rio de Janeiro. Entre 1959 e 1960 foi adido cultural na Bolívia e no Peru. Em 1960, publicou Canto Geral. Entre os anos de 1961 e 1964 foi adido cultural em Santiago, no Chile, onde conhece o escritor Pablo Neruda, de quem faz a tradução de uma antologia poética.

Estatuto do Homem

Logo depois do golpe militar de 1964, Thiago renunciou ao posto de adido cultural e, em 1965, foi residir no Rio de Janeiro. Sua poesia ganhou forte conteúdo político e, Indignado com o Ato Institucional nº. 1 e por ver a tortura ser empregada como método de interrogatório, escreveu o seu poema mais famoso, Os Estatutos do Homem (1977):

Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
Artigo I.
Fica decretado que agora vale a verdade.
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II.
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III.
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV.
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo Único:
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V.
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI.
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII.
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII.
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX.
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.
Artigo X.
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI.
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo.
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII.
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII.
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

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