22 de janeiro de 2022 6:55 por Braulio Leite Junior
Certas pessoas neste mundo são como estrelas cadentes. Durante algum tempo vivem uma fase brilhantíssima, atravessam períodos cheios de ressonâncias, depois mergulham serenamente no olvido, na escuridão, e acabam imergindo no mar do esquecimento. Assim foi com João Barafunda, cujo verdadeiro nome, aliás, era João Francisco Coelho Cavalcanti, nascido em 1874 em São Luiz de Quitunde, filho de Joaquim Machado da Cunha Cavalcante e Belmira Menezes Cavalcanti. Além de João Barafunda, ele usou o pseudónimo de Amália Peitiguary, como também os nomes literários de João Cavalcante e Coelho Cavalcanti. Sua vida é uma fulminante aventura.
“Quando nasci”- escreveu Lima Júnior em 1920 “já uma notoriedade gritante e entusiástica cercava o nome de João Barafunda. Rodeavam-no lendas, como se se tratasse de admirativas e com gestos de deslumbramento. Era um homem que sabia abrir bem os braços, sem o receio mínimo de rasgar o casaco; elogiava, demolia, derruía, sem se prender a condições e normas alheias. Atacava com a mesma vitalidade com que jogava incenso”.
Em 1893, sabe-se que estava no 2º ano da Faculdade de Direito de Recife, “onde se presume bacharelou-se”. Aos dezenove anos colaborava no semanário O Momento, fundado em 4 de junho de 1893, redatoriado por Luiz Mesquita e Joaquim Diégues. Em janeiro de 1902, após concurso, foi nomeado juiz de Direito da comarca de Passo Fundo pelo então governador do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto Borges de Medeiros.
Começou a escrever no Correio do Povo, de Porto Alegre, onde se meteu em polêmicas literárias, inclusive uma com Pinto Rocha, autor do livro de versos Talita, por ele acerbamente criticado. Acabou sendo processado e demitido do cargo de magistrado. No início de 1907, retomou seus ataques contra adversários políticos e terminou condenado. Quando era conduzido para cumprir pena, um bando do guerrilheiro Clementino Bento o tirou do trem em que era levado, após intenso tiroteio com escolta policial. Barafunda refugia-se em Rivera, no Uruguai, onde funda um jornal político – Propaganda – pró candidatura de Fernando Abott ao governo do Rio Grande do Sul. No fim de 1908 embarcou para o Amazonas. Advoga em Manaus. É procurador da República. E acaba levando uns tiros do engenheiro Geraldo Rocha, por motivos políticos. Em Maceió, correu que morrera. A família chegou a expedir convites para a missa de 7º dia. Adalberto Marroquim relembraria o fato anos depois, ao escrever. “Seus versos nem por sonho parecem ter saído da mesma cachola de onde chispam os formidáveis panfletos que lhe têm acarretado tantos ódios. Foi certamente um destes que determinou a imprevista operação cirúrgica dum quisto que trazia à face: um engenheiro, no Amazonas, arrancou-lhe com oito tiros de pistola”.
(*) Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro História de Maceió, Edição Catavento, 2000.