sábado 27 de abril de 2024

Carta aberta alerta possíveis compradores sobre passivo da Braskem

Novonor e Petrobras esperam arrecadar R$ 8 bilhões com venda de ações da empresa responsável por calamidade em Maceió

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação

Multinacional Braskem está em Alagoas desde 1975

Na iminência das controladoras da Braskem – Novonor e Petrobras – fecharem um negócio bilionário com a venda das ações preferenciais da empresa, um grupo formado por entidades diversas e por moradores dos bairros de Maceió atingidos pela mineração de sal-gema lançou uma carta aberta alertando que a mineradora “tem um passivo não resolvido nem precificado em Alagoas, uma dívida que pode oscilar entre 7 e 12 bilhões de reais”.

“Em documentos e peças publicitárias, a Braskem tem minimizado o megaproblema, classificando-o como “incidente” ou “fenômeno” geológico. Porém, o que ocorreu em Maceió foi o maior crime ambiental provocado por uma indústria cloroquímica no mundo”, lembram os signatários da carta.

De acordo com a carta, também não é verdade que a petroquímica regularizou a situação dela em relação ao desastre que gerou, mesmo após acordo celebrado com o Ministério Público Federal e com o Ministério Público Estadual de Alagoas . Segundo eles, a presença de uma planta de cloro-soda em Maceió é outra ameaça da empresa ao meio ambiente e à saúde das pessoas.

A transação das ações da Braskem deve gerar R$ 8 bilhões para os atuais acionistas. Por isso, o documento pretende chegar ao conhecimento da B3 e da bolsa de valores de Nova York, onde a empresa também atua, e à CVM e à ESC, controladoras do mercado de capitais no Brasil e nos EUA, respectivamente. “Esperamos que os futuros controladores saibam dos problemas que irão enfrentar e que deverão resolver sem demora, pois o espaço para postergações exauriu-se junto com nossa paciência”, conclui a carta.

Leia a carta aberta na íntegra:

CARTA ABERTA SOBRE A VENDA E TRANSFERÊNCIA DO CONTROLE DA BRASKEM

As atuais controladoras da empresa Braskem, Novonor e Petrobras, encaminharam comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no Brasil e à Securities and Exchange Commission, órgão regulador do mercado de capitais nos Estados Unidos, com o objetivo de informá-las da venda das suas ações preferenciais, a partir de 31 de janeiro de 2022. Elas esperam obter com essa transação cerca de 8 bilhões de reais. Em seguida, em data a ser anunciada, iniciarão a venda das ações ordinárias em seu poder, finalizando suas participações na empresa cloroquímica.

Diante dessa transação, é preciso alertar o público em geral e, particularmente, os investidores quanto ao fato de que a Braskem tem um passivo não resolvido nem precificado em Alagoas, uma dívida que pode oscilar entre 7 e 12 bilhões de reais, conforme cálculo feito com base em dados fornecidos por associações de moradores e por empresas imobiliárias e da construção civil. Esses valores são relativos aos prejuízos materiais e imateriais causados pela empresa no megadesastre ambiental decorrente da mineração do sal-gema na cidade de Maceió, desastre que se tornou conhecido em março de 2018 e que já foi noticiado pela imprensa nacional e internacional[1].

Em documentos e peças publicitárias, a Braskem tem minimizado o megaproblema, classificando-o como “incidente” ou “fenômeno” geológico. Porém, o que ocorreu em Maceió foi o maior crime ambiental provocado por uma indústria cloroquímica no mundo. A tragédia, além de ter provocado dois terremotos, destroçou quatro bairros inteiros (Bebedouro, Bom Parto, Pinheiro e Mutange) e impactou de forma significativa um quinto bairro (Farol), expulsando de suas casas 6% da população da cidade (55 mil pessoas) e forçando o fechamento de cerca de 5 mil empresas e indústrias de diversos portes que funcionavam na região. Grande parte das pessoas atingidas ainda não foi indenizada pelos danos materiais e imateriais sofridos. Essa realidade se repete com o município de Maceió, que, muito por anomia de seus administradores, sequer abriu negociações formais para as indenizações a que faz jus para reconstruir e reurbanizar a cidade no entorno do desastre.

A Braskem afirma que um acordo celebrado com o Ministério Público Federal e com o Ministério Público Estadual de Alagoas regularizou a situação da empresa em relação ao desastre que ela gerou. Não é verdade. Assinado no último dia de 2020 e referendado pela Justiça Federal depois de apenas três dias, o acordo permitiu à empresa reduzir de 40 bilhões de reais para pouco mais de 5 bilhões de reais o valor a ser pago em relação a duas ações cautelares de que era objeto. Além disso, o documento estabelece que a Braskem adote “medidas necessárias à estabilização e ao monitoramento do fenômeno [sic]da subsidência decorrente da extração do sal-gema, conforme exigido pela ANM – Agência Nacional de Mineração no plano de fechamento [das minas]”. Ou seja, o acordo não isentou a empresa de arcar com os prejuízos materiais e imateriais que ela provocou.

Vale ressaltar, ainda, que a Braskem é responsável por outra ameaça a Maceió, com potencial para causar uma calamidade ainda maior na cidade: a presença da planta da empresa – um equipamento de grande porte, com mais de 40 anos de operação – em plena área urbana, colocando em perigo a vida de 150 mil pessoas que trabalham, estudam ou residem no seu perímetro ou em bairros adjacentes, incluindo o Centro comercial da capital alagoana. Além disso, a corporação emprega somente 0,14% da força de trabalho de Alagoas. Ao longo dos 18 anos de operação da Braskem em seu território, Alagoas viu decrescer em 46% a renda familiar média per capita, além de não ter conseguido combater sua imensa desigualdade socioeconômica. A empresa quase nada recolhe de impostos, é beneficiada por incentivos fiscais e explora gratuitamente (não há cobrança de royalties) o principal mineral de Alagoas. A Braskem é uma enorme devedora do nosso estado.

A iniciativa desta carta é de uma congregação de cidadãos e instituições que desejam o melhor para Maceió, cansados de esperar por iniciativas políticas (que nunca vieram) de proteção da cidade e da sua população contra a sanha da Braskem. Queremos que este documento chegue, especialmente, ao conhecimento da B3 e da bolsa de valores de Nova York, onde a empresa também atua, e à CVM e à ESC, controladoras do mercado de capitais no Brasil e nos EUA, respectivamente. Esperamos que os futuros controladores saibam dos problemas que irão enfrentar e que deverão resolver sem demora, pois o espaço para postergações exauriu-se junto com nossa paciência. “Nunca duvidem que poucos cidadãos, comprometidos com seus semelhantes, possam mudar o status quo indesejado”[2].

Maceió, janeiro de 2022.

ASSINAM ESTA CARTA:

Instituições diversas

– Associação Cultural Joana Gajuru (bairro do Farol);

– Associação dos Empreendedores do Pinheiro (bairro do Pinheiro);

– Associação dos Moradores do Conjunto Professor Paulo Bandeira;

– Ateliê Ambrosina (bairro do Pontal da Barra);

– Cacto Facto;

– Coletivo Popfuzz;

– Coletivo Urbano AquiFora;

– Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas;

Slide 1
Slide 2

– Grupo de Pesquisa Representações do Lugar – FAU/UFAL;

– Igreja Batista do Pinheiro (bairro do Pinheiro);

– Instituto Casa Viva;

– Instituto para o Desenvolvimento das Alagoas – IDEAL (bairro da Levada);

– Instituto Quintal Cultural (bairro do Bom Parto);

– Movimento dos Povos das Lagoas;

– Movimento dos Trabalhadores Sem Teto de Alagoas;

– MUVB – Movimento Unificado das Vítimas da Braskem;

– Núcleo Zero;

– Projeto Bairros Silenciados;

– Projeto Erê (bairro da Levada);

– Projeto Histórias do Subsolo;

– Projeto Ruptura;

– Sindicato do Fisco de Alagoas;

– Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias do Estado de Alagoas (bairro do Prado).

Cidadãos diversos

– Abel Galindo Marques, engenheiro geotécnico e professor aposentado pela UFAL;

– Aderval Viana, ex-vereador por Maceió;

– Adolfo Hugo Silva, formado em ciências contábeis;

– Adriana Capretz, arquiteta e urbanista, professora da UFAL;

– Airton Rocha Omena Júnior, arquiteto e urbanista;

– Alexandre Sampaio, ex-morador e empresário do bairro do Pinheiro;

– Alex Walker, ator;

– Alice Barros, produtora cultural;

– Amanda Duarte, artista, comunicadora e ativista;

– Amaury Santana, ex-morador do bairro do Pinheiro, contador;

– Ana Carla Moraes, arte educadora e artista;

– Ana Paula da Silva, ex-moradora de Bebedouro, fotógrafa do projeto Bairros Silenciados e do projeto Ruptura;

– Andréa Guido Pereira, fotógrafa;

– Ane Oliva, atriz;

– Anna Alice Maria Santos, presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Professor Paulo Bandeira;

– Arthur Celso de Amorim Bezerra, fotógrafo;

– Basílio Seh, compositor e interprete;

– Bernadete Gomes Arcanjo, paisagista;

– Bruno Ribeiro, professor;

– Carla Mendes, arquiteta e urbanista;

– Carlito Lima, escritor e articulador cultural;

– Carlos Pronzato, realizador audiovisual do documentário “A Braskem passou por aqui: a catástrofe de Maceió”;

– Carmen Lúcia Dantas, museóloga, pesquisadora, escritora e crítica de arte;

– Cássio Araújo, ex-morador do Pinheiro, advogado, coordenador do MUVB;

– Celso Brandão, cineasta e fotógrafo;

– Chico Elpídio, compositor e interprete;

– Cícero Ferreira de Albuquerque, professor doutor da UFAL;

– Cintia Ribeiro, jornalista;

– Cláudio F. Vieira, advogado, procurador aposentado do Estado de Alagoas;

– Dethilda Gomes do Nascimento Filha, fotógrafa;

– Dilma Marinho de carvalho, fotógrafa;

– Dirceu Buarque de Freitas, ex-morador e empresário do Pinheiro;

– Ducyana Maria Lima da Silva, fotógrafa;

– Edgar Pedrosa, empresário;

– Edson José de Gouveia Bezerra, sociólogo, professor da UNEAL;

– Eliane Silva, coordenadora nacional do MTST, defensora em Direitos Humanos;

– Elias Fragoso, economista e professor;

– Emerson Ruan, ator;

– Erikson Machado de Melo, ambientalista, membro voluntário do Instituto Salsa-de-praia;

– Evelyn Gomes, Projeto Histórias do Subsolo;

– Fátima Caroline Pereira de Almeida Ribeiro, relações públicas;

– Felipe Hermann, Projeto Histórias do Subsolo;

– Fernando Onassis, ator;

– Flávio Gomes de Barros, jornalista;

– Gabriela Araújo, Projeto Histórias do Subsolo;

– Gabriel Campana, ex-diretor do Instituo do Meio Ambiente de Alagoas;

– Gabriel Campana Filho, engenheiro químico;

– Geraldo de Majella Fidelis de Moura Marques, historiador e escritor;

– Gilda Verbênia, professora;

– Guilherme Cesar, realizador audiovisual;

– Gustavo Félix Bezerra, professor;

– Illan Delvia Vasconcelos Cerqueira de Souza, nutricionista;

– Ilítia Maria Vasconcelos Cerqueira, arquiteta e urbanista;

– Irineu Torres, presidente do Sindfisco e Conselheiro da Fenafisco;

– Isadora Padilha de Holanda Cavalcanti, arquiteta e urbanista;

– Itawiltanã Camelo de Macena Albuquerque, fotógrafo;

– Ivana Iza, atriz;

– Ivana Silvia de Vasconcelos Cerqueira, jornalista;

– Ivo Regis Vasconcelos Cerqueira, contador;

– João Pedro Alves Salvador, Projeto Histórias do Subsolo;

– Joatam Fragoso, ex-gerente do BNB;

– Jorge Fernando Vieira, fotógrafo;

– José Edson da Silva, presidente do Instituto Casa Viva;

– José Geraldo Marques, ex-morador do Pinheiro, doutor em Ecologia pela Unicamp;

– Josian Paulino Barbosa, fotógrafo;

– Karla Calheiros, arquiteta e urbanista;

– Keka Rabelo, relações públicas e produtora cultural;

– Luciano Gomes de Lima, professor de zootecnia na UFAL;

– Lúcio Verçosa, professor doutor da UFAL;

– Luzia Menezes, moradora do Pinheiro atriz;

– Maclein Carneiro, músico, compositor, crítico musical e jornalista;

– Marcos Vinícius da Gama Santos, educador social formado em História;

– Maria Aliete Bezerra Lima Machado, professora de ciências biológicas na UFAL e presidente do Instituto Salsa-de-praia;

– Mariayra Mirella Constantino de Lima, atriz;

– Marília Dantas Tenório Leite, professora;

– Marisa Beltrão Malta, arqueóloga;

– Mauricio Sarmento da Silva, morador de Bebedouro e dos Flexais, advogado, coordenador do MUVB;

– Nando Magalhães, mestre em sociologia, professor, articulador cultural e pesquisador de políticas culturais;

– Neirevane Nunes, ex-moradora do Pinheiro, coordenadora do MUVB;

– Nilton Lins Buarque, administrador;

– Nilton Rezende, professor da UNEAL;

– Nina Magalhães, produtora cultural;

– Octávio Yuri, profissional de publicidade;

– Odja Barros, pastora da Igreja Batista do Pinheiro;

– Paulo Accioly, Projeto Histórias do Subsolo e Projeto A Gente Foi Feliz Aqui;

– Rafhael Barbosa, realizador audiovisual;

– Ramiro Ribeiro Neto, cozinheiro;

– Reginaldo Menezes, morador do Pinheiro, ator;

– Robertson Dorta, produtor cultural;

– Rogério Dyaz, artista e articulador cultural;

– Ronald Silva, artista;

– Samuel Cabral, Projeto Histórias do Subsolo;

– Sandra Neves, atriz e artista plástica;

– Sandreana de Melo Silva, professora;

– Sebastião Cadenas Cordeiro, médico;

– Sofia Morales, atriz;

– Synara Holanda, arquiteta e urbanista;

– Thayse Melo, ex-moradora do Pinheiro, presidente da CUFA Pescaria;

– Tiago de Holanda, jornalista;

– Ticiane Simões, atriz;

– Tom Ferreira, arquiteto e urbanista, criador do canal “Se Arquitete, Mininu”;

– Veronica de Holanda Padilha, médica;

– Vitor Satri, ator;

– Waneska Pimentel, atriz e professora;

– Weber Bagetti, artista plástico;

– Wellington Santos, pastor da Igreja Batista do Pinheiro;

– Werner Salles Bagetti, realizador audiovisual.

[1] Por exemplo, ver as seguintes reportagens: https://www.metropoles.com/materias-especiais/afundamento-de-maceio-provoca-exodo-urbano-de-55-mil-pessoas; https://brasil.elpais.com/brasil/2020-01-14/o-bairro-fantasma-que-a-mineracao-deixou-para-tras-em-maceio.html.

[2] Adaptação de uma frase da antropóloga estadunidense Margaret Mead.

 

Mais lidas

CPI da Braskem tem 35 dias para concluir investigação, que inclui visita aos bairros destruídos

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação Com o objetivo de investigar

Sem declarar IR cidadão não pode sequer receber prêmio de loteria que, acumulada, hoje sorteia

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação O prazo para entrega da

Risco de morte após a febre chikungunya continua por até 84 dias, diz Fiocruz

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação Em meio à epidemia de dengue

Saúde volta a alertar alagoanos sobre medidas de prevenção contra a dengue

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação A Secretaria de Estado de

PF indicia filho de Bolsonaro por falsidade ideológica e lavagem de dinheiro

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação A Polícia Federal em Brasília

FAEC anuncia calendário anual de eventos esportivos para o público escolar

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação A Federação Alagoana de Esportes

Bar do Doquinha: o lar enluarado da boemia

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação Por Stanley de Carvalho* Há

Seduc anuncia processo seletivo para a Educação Especial

27 de janeiro de 2022 9:27 por Da Redação A Secretaria de Estado da

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *