25 de fevereiro de 2022 3:30 por Mácleim Carneiro
Acho que o ano era 2005. Recordo-me que, em uma matéria na TV, alguns jovens pareciam entusiasmados com a possibilidade de um retiro espiritual durante os dias de Momo. Confesso que houve um ano, na minha adolescência, que eu pensei seriamente nessa possibilidade e fui salvo pelo gongo da sabedoria dos meus pais, que não permitiram tal bobagem. Os jovens que vi na TV pareciam saudáveis e alegres, porém, todos tinham as características das pessoas que entrariam no rol dos picolés de chuchu. Naturalmente, não seria nada fora de lógica pensar que quem não possui sex appeal, não é chegado a uma embriagues, é tímido por natureza, ciumento e inseguro, realmente, não tem muito mesmo o que fazer na folia nada ortodoxa.
Afinal, no Aurélio, o carnaval é definido como “uma festa profana, uma manifestação sincrética oriunda de ritos e costumes pagãos, como as festas dionisíacas, as saturnais, as lupercais e se caracteriza pela eliminação da repressão e da censura, pela liberdade de atitudes críticas e eróticas”. Ou seja, folia, desordem, confusão, orgia… Tudo muito tentador, não fosse esse vírus macabro ainda a nos rondar. Além de eu ter um pouco de cada um daqueles predicados acima citados, o fato é que, atualmente, estou na confortável posição de pela primeira vez poder fazer o que eu quero durante o carnaval. Pode ser até sinal dos tempos, coisas de quem já está na turma dos “enta”. Porém, acho mesmo é que chequei à fase de poder encontrar muito mais sentido na carnavalização do que no carnaval.
Inversão dos Códigos
Quando Mikhail Bákhtin fez a transposição do carnaval para a literatura, em 1928, criou o termo carnavalização, que se caracteriza, em diferentes contextos culturais, pela inversão dos códigos vigentes, pela ambiguidade das propostas, das imagens e representações, e pela valorização da força erótica, do riso e do inusitado. A carnavalização, a partir das teorias de Bákhtin, tem sido objeto de estudo no campo da teoria literária, da antropologia, da sociologia e etc. Mesmo que a minha opção pela carnavalização tenha semelhança com a história do camarada que levou a mulher para a moita e preferiu comer a moita, mesmo assim, foi o próprio carnaval pandêmico quem me conduz à calmaria deliberada.
Ainda não consegui encontrar substância para, por exemplo, interagir com essa submissão aculturada do Pinto da Madrugada. Sou um órfão dos Meninos Órfãos da Albânia, do tempo que podíamos (o Ricardo Mota e algumas vezes eu) escrever frevos que seguiam à risca o que dizia a letra do hino: “Nós somos o bloco dos Meninos da Albânia/ Mostrando na rua o que está podre no poder”. Agora, por ironia, os fundadores do bloco, com raríssimas exceções, em vários setores, estão no poder. O fato é que eu não tenho obrigação nenhuma de ser feliz, principalmente, por apenas três dias.
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!