O carnaval, festa de toda a gente brasileira, tradição estendida um passado que se confunde com os jogos selvagens”, festa pagã em fronteiras sociais, espaço de tempo permissível a todas as troças excessos, acontece em Maceió. Além da variação de datas do período momesco, o carnaval mudou muito desde que foi introduzido no Brasil, o entrudo português é adequado às brincadeiras carnavalescas tipicamente brasileiras.
Já no primeiro ano do século passado, os foliões de Maceió fundavam o clube carnavalesco Cara Dura, distante quatorze anos da fundação do Zé Pereira do Clube Fénix Alagoana que, em 186, s sede da rua da Igreja, em Jaraguá, começava uma tradição que parecendo, aos poucos, até os dias de hoje. O Zé Pereira surgido no Rio de Janeiro 40 anos antes, trazia para as ruas foliões tocando bombos, tambores, mascarados ou não, vestindo roupas coloridas ou muito inadequadas para aquelas ocasiões. Nessas reuniões de rua, permitido em termos de confusão e trapalhada, mela-mela, comilanças e bebedeiras.
Há mais de um século atrás, o sábado caiu no dia 29 de fevereiro. Esplendoroso baile de máscaras se dava no Politeama, na praça visconde de Sinimbú, tocando a banda de música do 33° Batalhão do Exército. Todavia, a grande atração popular, do sábado, era mesmo o Zé Pereira do Bloco Alagoano, cuja sede ficava na rua do Livramento, esquina com o Beco da Marába. Saindo da sede, o Zé Pereira tomava o Comércio, descia até o Palácio Velho, enveredava pelas ruas Barão de Anadia, Libertadora Alagoana, entrando então na praça Euclides Malta, atual Sinimbù, onde desembarcava do seu carro, o vistoso Rei Momo, que vinha à frente do préstito. Logo depois, o carro do estandarte, seguido pela guarda de honra; depois, a banda de música, o carro do deus Baco, a alegoria Sem Contos (alusão à moeda da época, mas em vez de cem contos, sem eles.). Vinha logo após o carro alegórico Vida Marítima, a condução da Rainha da Moda, o carro do Pão de Ouro, a Surpresa do Poço e finalmente, o Jardim da Infância.
O Zé Pereira havia surgido no Brasil em 1846, criado por sapateiro estabelecido na rua de São José, no Rio, José de Azevedo por certo inspirado no ato de bater sola. Podemos imaginar o esplendor daquele préstito, desfilando pelo centro de Maceió de então, cuja população não passava de dez mil habitantes.
O Zé Pereira da Fênix Alagoana, conforme dissemos, contaria hoje com 118 anos*, desde que se ouviu a marchinha e os clarins tocando:
-E viva o Zé Pereira
Viva o carnaval
Viva o Zé Pereira
Que a ninguém faz mal!
Viva o Zé Pereira
Viva o carnaval
Viva as bebedeiras dos dias de carnaval!
O Zé Pereira de Maceió brilhou fulgurantemente nas noites do gordo, de 1900 a 1920, quando então a cidade já contava com 74.166 habitantes, deslumbrados com os carros triunfais, simbolizando a Vitória, a Glória, o Saber, ou então arrebatados com as grandes figuras mitológicas de Vênus, Netuno, Diana e outros, descidos do Olimpo, a segura morada dos deuses…
O Zé Pereira maceioense ainda teve seus dias de glória com o incansável Major Bonifácio e suas famosas Ciganinhas, na época em que todo mundo se postava na praça dos Martírios e na rua do Comércio, para aguardar a vinda do préstito de Bebedouro. Aos poucos, a grande atração passou para os domingos – o banho de mar à fantasia – com as suas críticas e engraçados travestis, feitos por gente séria.
Tempos que passaram…
*Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro ‘Outras História de Maceió’, Sergasa, 2004.