sexta-feira 29 de março de 2024

O Coreto de 1927

Coreto da Avenida da Paz em foto antiga | Fonte: História de Alagoas

Na antiguidade existiam uns templos pagãos de estrutura simples, com uma só ordem de colunas, de formato circular, com a estátua de um deus postada no centro. Eram chamados monópteros. Em Maceió ergue- se, à beira mar, um monóptero sem deus, de toscas colunas coríntias de corpo liso, que o povo conhece como “o coreto” da Avenida da Paz.

Se alguma estátua ali houvera de existir seria pelo menos o busto numa peanha do homem que, em 1927, como Prefeito da Capital, não somente ali construiu aquele singular pavilhão como também modernizou e embelezou toda a avenida, dotando-a de 22 postes de ferro e 46 bancos de cimento;  Merecia essa singular homenagem aquele homem de alma de poeta que tanto amava aquele recanto de Maceió, chegando um dia a escrever:

Eu preciso falar aos pintores da terra. 

Preciso-lhes dizer que venham retratar

Sobre a enseada de Jaraguá

Antes que Deus um dia se arrependa

 De nos ter dado em prodigalidade

Tanta luz, tanta cor, tanta beleza!

Leitores meus, aquele homem não mais existe, seu nome não é tão lembrado como merece. Este é o injusto destino dos homens que constroem. Os que destroem, não. Os que destroem ficam lembrados, seus nomes vão para as enciclopédias, para os livros de História. Sabe-se os nomes dos grandes conquistadores: de um Átila, de um Alexandre, de um Napoleão, guarda-se o nome de Erostrato que incendiou um templo na Grécia para se tornar famoso, relembra-se o nome de Hitler que matou seis milhões de judeus e mergulhou o mundo inteiro nas trevas ignominosias de uma carnificina par.

Mas aqui, na quieta Maceió de outrora, alguém se lembra ou sabe quem trouxe da Alemanha os nossos primeiros telefones automáticos, registrando nossa cidade como a segunda do País a receber tal impulso? O industrial José de Almeida está esquecido, lastimavelmente. Se ele tivesse incendiado o edifício da Associação Comercial, talvez seu nome estivesse gravado a fogo na memória dos nossos coestaduanos. Assim foi com Amphilophio de Mello perdão, este era o seu nome verdadeiro que acabou esquecido – assim

Foi com Jayme de Altavilla, o homem plural sobre quem a inteligência de Paulo de Castro Silveira teceu páginas de carinho e emoção, relembrando para uns poucos o administrador, o poeta, o mestre, o intelectual, o jurista que foi o autor da “Origem do Direito dos Povos”.

Foi Jayme de Altavilla quem, como Prefeito de Maceió doou a cidade o coreto da Avenida da Paz em 1927. Naquele 16 de setembro que já vai distante, pensam que os jornais da época falaram na avenida que se inaugurava? Caiu um silêncio total sobre a obra de Jayme de Altavilla. Era chegada a hora de seu crepúsculo político. Davam-lhe os eventuais nomes do poder, como os antigos Romanos, a ostra significando o ostracismo.

A 1º de julho de 1927 publicava o engenheiro Euzébio Gomes de Melo a concorrência para a construção de um coreto de alvenaria na Avenida da Paz. Apresentaram-se apenas duas firmas de engenharia civil, a J. Teixeira Madalha, apresentando um orçamento de 32 contos e mil réis e a Antônio Francisco de Almeida com um importe de 32 contos e três réis. Venceu naturalmente a que preço menor oferecia, conforme a praxe nesses negócios. Está no precioso volume de Paulo de Castro Silveira a irrisão das notícias daquele memorável dia, falando até em aniversários de figuras da época e silenciando sobre a inauguração da Avenida da Paz…

Enquanto isso, através dos tempos, as palavras sentidas daquele soneto antológico de Jayme de Altavilla, parece dirigir-se não a uma diva do seu tempo, não a uma beldade de antanho, mas à cidade que ele amou e soube dignificar e embelezar:

Você resume tudo o que sonhei na vida 

Glória, beleza, amor, domínio, perfeição,

Tudo que persegui numa doida corrida, 

Tudo que me fugiu ao alcance da mão.

*Texto de Bráulio Leite Júnior publicado no livro ‘Outras História de Maceió’, Sergasa,  2004.

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