6 de março de 2022 8:24 por Da Redação
Tal qual um juiz que convoca um defensor ad hoc*, o presidente Jair Bolsonaro substabeleceu o deputado federal Arthur Lira (PP/AL) para representá-lo no que há de mais relevante no Executivo: o orçamento da União.
Desde a Proclamação da República, em 1889, nenhum presidente ficou refém de um grupo de deputados, como ocorre agora com Jair Bolsonaro. A partir da transição democrática, iniciada em 1985, nem presidentes como Fernando Collor, em cujo governo foi desbaratada a máfia do orçamento, perderam o controle da administração do dinheiro público.
Nem os presidentes Sarney, Itamar Franco, FHC, Lula ou Dilma foram transformados em reféns de parlamentares.
Até mesmo Michel Temer, que deu início ao desmonte do Estado brasileiro, seguiu com o poder nas mãos.
A exemplo de Temer, seu antecessor, o atual presidente tem a destruição da estrutura do Estado como uma fixação. E tem logrado êxito em áreas decisivas, a exemplo da Educação, Saúde, Cultura e das políticas públicas de Assistência Social.
Nessa caminhada obsessiva pelo fim do Estado brasileiro, Jair Bolsonaro caiu nas mãos do Centrão, grupo político-parlamentar liderado pelo alagoano Arthur Pereira de Lira. Aos 52 anos de idade, o deputado acumula profunda experiência de ação parlamentar.
Do primeiro mandato, conquistado em 1992, como vereador de Maceió, até hoje, quando chega à presidência da Câmara Federal, Arthur aprendeu como manietar um chefe do Poder Executivo.
Como vereador de Maceió e primeiro secretario da mesa da Assembleia Legislativa Estadual, ele aprendeu a manipular as finanças públicas e, assim, dominou a política fisiológica e de varejo que tem nos órgãos estatais a sustentação de mandatos eletivos.
Do alto dessa experiência, o deputado federal Arthur Lira faz com que Alagoas tenha um papel decisivo no que acontece com o Brasil (des) governado por Bolsonaro.
No caso de Jair Bolsonaro essa fisiológica associação foi ainda mais fácil, por faltar ao presidente uma base no Congresso. Sem esse apoio, Bolsonaro deparou-se com um contingente de parlamentares ávidos por recursos financeiros, todos de olho no orçamento federal. E o alagoano Arthur Pereira de Lira soube, com talento, tomar para si a liderança do governo, não a oficial, mas a que tem mais poder.
O orçamento de 2022, que está sob controle dos partidos que constituem o Centrão (PP, PL e Republicanos) é de 149,6 bilhões. Para efeito comparativo, é um valor maior que o orçamento estimado para os ministérios da Defesa (R$ 116,3 bilhões) e da Educação (R$ 137 bilhões), este ano.
Competente, Arthur Lira consolidou a agenda política do Centrão, passando a ser responsável, junto como senador Ciro Nogueira, por garantir os interesses de parlamentares que usam o dinheiro público em beneficio próprio, e os interesses do mercado financeiro.
Trunfo
Porém, Arthur tem um trunfo a mais. Fiel interlocutor do presidente Bolsonaro, cabe a ele o papel mais importante, que é definir a pauta de votações da Câmara dos Deputados. Posição que o torna, hoje, o político mais poderoso do Brasil.
Cabe a Arthur, por exemplo, pautar pedidos de impeachment do presidente da República. O Congresso Nacional já tem mais de 130 desses pedidos. Por hora, quanto mais pedidos forem protocolados, mais poder o deputado Arthur Lira terá.
*No Direito, defensor ad hoc é o advogado nomeado temporariamente pelo juiz para a defesa de um réu que comparece a audiência sem um profissional para defendê-lo.