14 de maio de 2022 10:59 por Da Redação
“Este é o documento secreto mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa”, disse o professor e pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, Matias Spektor.
Ele se refere a um relato da CIA, a Inteligência estadunidense, sobre reunião entre o general Ernesto Geisel, recém-empossado presidente da República, e três assessores: o general que estava deixando o comando do Centro de Informações do Exército (CIE), o general que viria a sucedê-lo no comando e o general João Figueiredo, indicado por Geisel para o Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
O encontro ocorreu em março de 1974. Nele, segundo a CIA, o grupo informa ao então presidente sobre a execução sumária de 104 pessoas no CIE durante o governo Médici, e pede autorização para continuar a política de assassinatos no novo governo.
“Geisel explicita sua relutância e pede tempo para pensar. No dia seguinte, Geisel dá luz verde a Figueiredo para seguir com a política, mas impõe duas condições. Primeiro, ‘apenas subversivos perigosos’ deveriam ser executados. Segundo, o CIE não mataria a esmo: o Palácio do Planalto, na figura de Figueiredo, teria de aprovar cada decisão, caso a caso”, relata o professor.
Na avaliação de Spektor, essa é a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política de assassinatos. “Colegas que sabem mais do que eu sobre o tema, é isso? E a pergunta que fica: quem era o informante da CIA?”, questiona ele, na rede social.
O relato da CIA foi endereçado a Henry Kissinger, então secretário de Estado. Kissinger montou uma política intensa de aproximação diplomática com Geisel.
A transcrição online do documento está disponível neste LINK.