quarta-feira 17 de abril de 2024

Tim Lopes vive!

Texto lido pelo sócio e membro do Conselho Deliberativo da ABI, Alexandre Medeiros, compadre de Tim Lopes, sintetiza o que foi o Ato em homenagem aos 20 anos do assassinato do jornalista Tim Lopes, realizado nesta quinta-feira (2), no auditório da ABI:

3 de junho de 2022 2:34 por Da Redação

Alexandre Medeiros | Reprodução/Youtube

TIM PARCEIRO

“Já muito se falou do Tim Lopes jornalista, do repórter destemido, que entrava na vida de seus personagens para contar melhor suas histórias. Muito justo e pertinente. Mas peço aqui licença, humildemente, para falar algumas coisas do Tim Lopes dos botecos e das rodas de samba, do amigo, do compadre, do parceiro. Que nos deixou tão cedo, mas parece que ainda está por aqui.

O sujeito era um pé-de-valsa. Não havia donzela que recusasse dança com o Tim nos salões da Estudantina, da Elite, do Clube dos Democráticos, do Bola Preta e de outros menos votados. Porque o parceiro não tinha preconceito: dançava ao som da orquestra Tabajara, regida pelo mestre Severino Araújo, em pista de tábua corrida, ou ao balanço de um forró em qualquer barraca da Feira de São Cristóvão, onde uma ficha fazia rodar o som na caixa. Era feliz do mesmo jeito.

Também era feliz correndo. Correu algumas vezes a São Silvestre e me convenceu um dia a correr a maratona de Nova York com ele. De tão amigo, me deixou chegar na frente, alegando uma leve lesão no joelho. Até hoje a direção do Central Park duvida dessa versão. Eu também. Qualé, mermão?

Gostava de um refrão. O Tim era um cara do samba. Criado na Mangueira, não tinha como não ser da Estação Primeira. Mas, como fez o Paulo da Portela, acompanhava os amigos em outras escolas, sobretudo em Madureira. Foi fundador do Simpatia é Quase Amor. Sim senhor, saiu do morro sem escalas e sem problemas para a mais fina burguesia de Ipanema.

Comia torresmo em birosca do Buraco Quente e picanha fatiada no Brasinha, ali da Rua Gomes Carneiro. Circulava pelo Centro, pela Lapa, São Cristóvão, Benfica, Madureira, Encantado, pela sua Mangueira, pelo Leme, por Copa, Marechal, Bento Ribeiro. De trem, metrô, busum, o homem não escolhia paradeiro.

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Morou muitos anos na Rua Jangadeiros, desenrolando os papos com a galera do Morro do Cantagalo e com a turma forrada do Posto 9. Ele não tinha dificuldades de se ambientar. Um dia, lembro bem, num restaurante japonês, deu de conversar com um inglês, sem domínio do idioma, isso depois de alguns saquês. E se entenderam perfeitamente. Desconfio que ele desenrolasse até em javanês.

Um segundo, camarada: salve Tim Lopes e salve Lima Barreto, dois pretos supimpas que se encontram nessa parada!

Peladeiro catimbeiro, era centroavante de estilo rompedor. Pobres dos zagueiros, não tinham sossego com o Roberto Dinamite das peladas, que ele incorporava até nas comemorações de gol. Vascaíno saudável, de ver jogo na geral do Maraca, ou nas arquibancadas de São Januário, Tim contava na geral das peladas com um fiel torcedor, seu filho Bruno, um molequinho franzino, que a cada gol do pai gritava sozinho: “Tinhê, Tinhê, Tinhê…”. O Gigante da Colina desde cedo como torcer ensina.

Tim desapareceu uma semana depois de batizar minha filha caçula, a Cecília, hoje com 20 anos. As fotos do batizado ganharam mundo depois que ele sumiu da nossa vida para nunca mais. No Carnaval de 2003, o primeiro depois da sua morte, o bloco Imprensa Que Eu Gamo, que ele frequentava, saiu com um enredo em sua homenagem. O samba dizia assim: “Valeu, Tim! Teu sorriso me ilumina. Vem tomar uma cerveja, eu te vejo em cada esquina”.

Esquina lembra boteco, boteco lembra Tim Lopes. E vamos combinar que ele era gaúcho por um acidente de percurso, né? Para encerrar esse perfil do compadre, lembro o seguinte diálogo, travado no boteco Pé Quente, na Rua Jangadeiros, entre goles de cachaça da boa e de cerveja, com moela de tira-gosto. Disse eu: — Tim Lopes, você é o gaúcho mais de araque que eu conheço, meu parceiro. E ele, abrindo o sorriso de sombreiro: — Pô, mermão, só nasci lá. Eu sou é do Rio de Janeiro…”
Alexandre Medeiros

Veja o vídeo com a íntegra do Ato.

Participaram do ato, o presidente da ABI, Octávio Costa; a vice-presidente da ABI, Regina Pimenta; a vice-presidente da Fenaj, Samira de Castro; Tiago Firbida, da Organização Artigo 19; Renata Neder, representante no Brasil do Comitê para Proteção de Jornalistas; José Júlio Araújo Junior, da Associação Nacional dos Procuradores da República; Carmem Pereira, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro; Gabriela Moreira, diretora da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); Emanuel Colombié, representante do escritório para a América Latina do Repórteres Sem Fronteira; Tania Lopes, irmã de Tim Lopes; Frei David, fundador da Educafro, entre outros.

Fonte: ABI

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