8 de julho de 2022 12:58 por Mácleim Carneiro
Na Copa de 2010, por vários motivos, torci pela Holanda. Por vários motivos, não palpitei sobre o fracasso da seleção brasileira. Por vários motivos, nunca gostei de chutar cachorro morto! Aliás, é justamente um cachorro bastante esperto que, do alto dos seus 70 anos (supondo que cada ano de vida canina equivale a sete de vida humana), me faz rabiscar algo sobre aquela Copa e suas curiosidades.
Pois bem, se na Alemanha tinha o Paul (aquele polvo adivinho) acertando quem ficava e quem era eliminado da Copa, na casa dos meus pais tinha o Bob Nelson; um cachorrinho especialista em resultados da Seleção Brasileira. Com exceção do jogo Brasil X Costa do Marfim, os demais eu assisti na casa dos meus pais. Em todos eles, nem bem começava o jogo, Bob Nelson sumia embaixo de qualquer cama, desde que fosse bem longe da TV. Durante o tempo que durasse o jogo, nada, absolutamente nada, o fazia sair de lá. A explicação, até então, era bastante óbvia: Bob Nelson, assim como eu, não suportava fogos. Já em seu aquário na Alemanha, Paul, assim como eu, adorava petiscos. E o Brasil foi passando por seus adversários, enquanto Bob Nelson, resoluto e determinado, se recolhia – quem sabe em preces – ao seu esconderijo.
Comportamento Atípico
Chegamos às quartas-de-final, ao jogo contra a Holanda. Para surpresa de todos, Bob Nelson não saiu da sala da TV. Não foi para o seu esconderijo predileto. E mais, ansiosamente, tentava se comunicar com um e com outro, mas ninguém lhe dava atenção. Ficou lá, rodeando um, rodeando outro, apesar dos fogos, antes do início da partida. Contra qualquer prognóstico, após o ilusório gol brasileiro, no primeiro tempo do jogo, ele não arredou pé da sala durante o foguetório. Aí também já era demais! Começamos a desconfiar que algo realmente sério estava acontecendo ou iria acontecer. Apesar do bom primeiro tempo e de estarmos ganhando por 1×0, para mim, era evidente que o Bob Nelson queria comunicar algo importante, com aquele comportamento atípico ao de todos os jogos anteriores.
Levantei a hipótese de que iríamos perder o jogo e que os holandeses iriam fritar a canarinho e comer com suco de laranja. Era isso o que Bob Nelson estava tentando nos dizer. Todos concordavam que havia algo errado no comportamento do Bobinho (como era carinhosamente chamado por nós), porém, depois de um bom e glorioso primeiro tempo, não perderíamos de jeito nenhum, apesar do Dunga como técnico. Além disso, minha mãe lembrou que um guru do Vasco da Gama tinha previsto, no jogo de búzios, que as grandes seleções cairiam logo no começo da Copa (foi assim com a Itália, França e Inglaterra) e que o Brasil iria disputar a final com uma seleção do continente africano. Argumentei que a previsão estava furada, pois só restava Gana, do continente africano. Porém, se Gana conseguisse chegar às semifinais, pelo cruzamento de grupos, enfrentaria o Brasil. Além disso, guru do Vasco, ora bolas, faça-me o favor…
Para resumir, mais uma vez, o hexa foi adiado. Eu, desisti dos meus estudos sobre nefelomancia e encontrei um novo guru. Prometi a mim mesmo que, se as vias respiratórias do Bob Nelson ajudassem, em 2014 eu prestaria mais atenção às suas previsões. Passei a torcer pela Holanda, por afinidade a Amsterdam, cidade que sou fã. De resto, não vi novidades naquela “Copa televisiva”. Nada que o Canal 100, lá nos anos 1960/70, já não o fizesse, com uma vantagem considerável: tinha o futebol-arte para mostrar. Já o meu guru Bob Nelson, esse, teve um trágico fim e não conseguiu chegar a 2014. Até hoje, não me perdoo em ter sido eu o causador. Contudo, essa é outra história…
No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!!!